Um levantamento divulgado nesta sexta-feira (12) revela o que muitas pessoas que moram em grandes cidades tem percebido em cada esquina: o grande número de pessoas vivendo nas ruas. Estudo do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (OBPopRua/POLOS-UFMG), revelou que 300.868 pessoas vivem atualmente nessa condição de extrema vulnerabilidade social em todo o Brasil. Em dezembro de 2023, esse total era de 242.756 pessoas.

De acordo com o levantamento, 69% das pessoas em situação de rua são negras. A maioria é também do sexo masculino (85%) e se encontra na faixa etária entre 18 e 59 anos (87% do total), sobrevivendo com até R$ 109 por mês (85%). Dessa população, 14% apresentam alguma deficiência e a maior parte (42%) tem Ensino Fundamental incompleto.

Segundo o estudo, uma em cada três dessas pessoas vive no Estado de São Paulo, somando 126.112. Só na capital paulista, que lidera o ranking de capitais, há 80.369 pessoas nessa condição. Isso representa um aumento de quase 24% em relação a dezembro do ano passado, quando a cidade tinha 64.818 de pessoas morando nas ruas.

No Estado do Rio de Janeiro, que aparece na segunda colocação no ranking, a população em situação de rua soma 29.816 pessoas, sendo que a maioria, 21.023, está na capital. Em Brasília, capital do país, 8.353 pessoas se encontram nessa situação de vulnerabilidade.

O levantamento é feito com base nos dados de junho do Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico), que reúne os beneficiários de políticas sociais, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), e serve como indicativo das populações em vulnerabilidade para quantificar os repasses do governo federal aos municípios.

Segundo o coordenador do observatório, André Luiz Freitas Dias, o aumento expressivo nos registros de pessoas em situação de rua no CadÚnico se deve tanto ao fortalecimento dessa base de dados como porta de entrada e principal acesso às políticas sociais no país – como o Bolsa Família e o BPC – quanto à ausência ou insuficiência de políticas públicas voltadas especificamente para essa população, tais como moradia, trabalho e educação.

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Situação em São Paulo é agravada por ação truculenta da Guarda

Robson César Correia de Mendonça, do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo, confirmou que o número de pessoas vivendo na cidade vem aumentando, principalmente na região central da capital.

Isso está ficando cada vez mais complexo. A falta de políticas públicas está saltando aos olhos, e a população em situação de rua vem sendo oprimida. A Guarda Municipal está cada vez mais truculenta com a população de rua. Isso só mostra o descaso que está havendo com essa população”, disse.

Para Mendonça, a solução para esse problema passa pela criação de políticas públicas voltadas para essa população. “Enquanto não houver uma política séria, enquanto não houver um político que tenha vergonha na cara, vamos seguir da maneira como está”, acrescentou.

Prefeitura de SP rebate dados e diz que são 32 mil e não 80 mil nas ruas

 

Três entre 10 pessoas que vivem nas ruas do país estão em São Paulo, aponta estudo (Foto: Tânia Rego / Agência Brasil)

Já a Prefeitura de São Paulo questionou o levantamento feito pelo observatório da UFMG, alegando que foram usados dados do CadÚnico, que são “cumulativos e autodeclaratórios”. O município diz que considera para suas políticas públicas o Censo População em Situação de Rua, produzido pela prefeitura em 2021, que é “resultado de um minucioso trabalho de campo feito por mais de 200 profissionais e realizado a cada quatro anos”.

O censo feito pela prefeitura em 2021 apontava 32 mil pessoas vivendo nessa condição na capital paulista. O próximo censo deverá ser realizado em 2025. A administração municipal informou ainda que, desde 2021, investiu R$ 7,2 bilhões no atendimento social à população.

Somente em 2023 foram aplicados R$ 2.311.226.279,88, um aumento de 29% em relação ao orçamento do ano anterior (R$ 1.784.757.857,66). Neste ano já foram executados R$ 1.159.020.784,37, de janeiro a início de julho de 2024, conforme informou a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS).

Para os serviços de acolhimento e atendimento para a população em situação de rua na capital, os valores investidos nos últimos quatro anos somam R$ 1,7 bilhão. Nesse mesmo período foram criadas aproximadamente 12 mil novas vagas de acolhimento na cidade, o que representou um aumento de mais de 75% em vagas de acolhimentos para a população em situação de rua”, diz a nota da secretaria municipal.

Da Agência Brasil

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