Linda, poderosa, talentosa, bem sucedida e super desejada. Durante muito tempo, ela vem sendo lembrada como símbolo de beleza e sensualidade – nove entre 10 mulheres cobiçam um corpo perfeito como o seu. Assim é Paolla Oliveira, de 41 anos, 20 de carreira na TV, cinema e teatro. Mas esta semana a atriz voltou a ser notícia nas redes sociais não pela sua presença estonteante no mundo do samba, mas por conta de um suposto padrão de beleza física que uma determinada parcela da sociedade ainda tenta impor a fórceps às mulheres – anônimas e famosas – em pleno século 21.
Rainha da bateria da Grande Rio não só pela beleza e fama, mas pelo samba no pé, a atriz sofreu ataques gordofóbicos, etaristas e misóginos depois de postar um vídeo em que aparece radiante no último ensaio geral da escola de Duque de Caxias. Não foram poucos os homens ditos heterossexuais (ou de sexualidade duvidosa) – e também mulheres (sororidade zero!) – que destilaram comentários no mínimo venenosos desde quinta-feira passada (dia 20/12), o que levou o nome da atriz aos trend topics do X (antigo Twitter).
“Gorda”, “fora de forma”, “braço de merendeira” foram algumas das expressões pejorativas despejadas, sem a menor cerimônia, nos comentários dirigidos à atriz nas redes sociais. “É impossível não perceber que ela deu uma engordada. Velha e gorda”, disparou um perfil feminino. “Braço de merendeira. A idade chegou”, escreveu outra.
Bolsonaristas aproveitam críticas para alvejar Lula e Janja
Teve homem que atribuiu o suposto “peso a mais” em relação aos padrões estéticos atuais (de quem mesmo?) ao uso de anticoncepcionais – sim, a medicação sempre teve essa fama, independentemente da marca. Não faltaram também postagens recheadas de etarismo – a motivação para estar mais “gostosa”, como preferem alguns – seria a idade!
Pasmem, Paolla Oliveira estaria ficando velha e acabada!!! Isso com apenas 41 anos, num país onde a pirâmide etária já se inverteu e caminha a passos largos para mais políticas públicas de envelhecimento saudável.
Internautas bolsonaristas chegaram a comparar o corpo da famosa durante o período em que um certo fascista era presidente com o de Lula no comando. “Mais três anos de desgoverno Lula e a Paolla Oliveira vira a Esbanja“, postou um perfil aparentemente fake ( um tal ‘Fantástico Mundo de Marx’), em clara referência ofensiva à primeira-dama Janja. Paolla fez o L (e, como milhões de brasileiros, não se arrependeu!)
Mas a maldade dessa gente que não tem o que fazer e vive destilando ódio, intolerância e tudo o que há de mal nas redes sociais não tem limite! E pior: acaba ferrando com a saúde mental de muita gente. Ou levando pessoas à morte em procedimentos estéticos altamente arriscados – como ocorreu com a modelo e influencer que perdeu a vida na mesa de cirurgia após tentar tirar uma gordurinha do joelho, atribuída por ela ao lipedema.
‘Eu era a perfeita, a que está dentro dos padrões, a sexy, e isso não existe’
Não precisa nem dizer que uma maioria esmagadora de fãs, admiradores e colegas saiu em defesa da moça, elogiando sua beleza. “Musa”, escreveu Angélica. “Maravilhosa”, disse Juliana Paes. Mas não é de agora que Paolla vem sendo alvo dos haters por seu corpo. Em julho, ao podcast “Quem Pode, Pod”, apresentado por Giovanna Ewbank e Fernanda Paes Leme, a atriz também desabafou sobre as pressões estéticas que sofre principalmente no período próximo do Carnaval.
“Eu era a perfeita, e isso não existe. Eu era a que está dentro dos padrões, a sexy. Estava um mundo maravilhoso. Só que eu coloco a minha roupa que eu amo e me sinto à vontade para ir no Carnaval e começa ‘está gorda’, ‘o braço não tá bom’, ‘tá grávida’. É um jogo de pressão e insuficiência o tempo inteiro, onde você está sendo jogada de um espaço para o outro”, disse Paolla.
Atriz prepara rabanada às vésperas do Natal ao lado de Diogo Nogueira
Paolla esbanjou bom humor ao reagir mais uma vez às críticas ácidas e sem sentido que já vem sofrendo há tempos. “As pessoas me pedindo para fazer dieta e eu assim, observando o salame da mesa ao lado”, escreveu a famosa no vídeo postado dias atrás. Na legenda, a fina ironia: “Aberta a temporada de perguntas sobre a preparação e dieta para o Carnaval”.
Neste sábado (23), porém, o ‘tapa de luva de pelica’ foi lindo – e divertido. Paolla postou um vídeo no Instagram para seus mais de 32 milhões de seguidores em que aparece num vestidinho preto ma-ra-vi-lho-so na cozinha de sua casa, preparando uma rabanada daquelas fritas e com direito a recheio de Nutella (delícia!). Não me aguentei e quase caí da cadeira de tanto rir!!!
E tudo ao lado do (com todo o respeito) gatíssimo ‘namorido’, o cantor e compositor Diogo Nogueira, um dos homens também mais bonitos do Brasil, com quem ela vive desde 2021 no Rio de Janeiro. Aliás, o próprio Diego foi apontado como o possível responsável pelos ‘quilos a mais’ da atriz, por supostamente incentivá-la a tomar cerveja (quanta hipocrisia!). O portelense, que desfilou ao lado de sua musa no último carnaval da Grande Rio, campeã do Carnaval carioca de 2022, não está nem aí pros comentários, é claro.
Fotógrafa viraliza com vídeo em defesa de Paolla
Recentemente, Paolla compartilhou o excelente vídeo da fotógrafa e influencer Vânia Amado, que é especializada em ensaios sensuais de mulheres de todos os corpos e tamanhos. “Paolla com aquela raba, com aquele corpo, com aquela cara, com aquela conta bancária, com aquela felicidade”, diz Vânia no vídeo que viralizou nas redes.
Ela também chama a atenção para as consequências que críticas como essas podem trazer na vida de uma pessoa, lembrando casos de mulheres que morreram em procedimentos estéticos. Segundo Paolla, a mensagem da Vânia a fez refletir, sobretudo sobre a já conhecida rivalidade feminina.
“Vi a força e a inspiração que emanam quando celebramos nossa liberdade e autoestima. É um lembrete poderoso de que, embora enfrentemos críticas, muitas delas são ecos de padrões sociais antiquados e pressões que nos foram impostas – não, mulheres não criticam umas às outras por sua natureza, pelo contrário”, escreveu Paolla.
Segundo ela, esta é uma chance de “mudar o jogo: transformar rivalidade em apoio, utilizando nossa voz e espaços como o carnaval para fomentar a união e o respeito mútuo”.
“Quando estamos juntas, nossa força se multiplica, e nossa luz brilha ainda mais intensamente. Vamos abraçar nossa diversidade, nossas histórias únicas e, juntas, criar um mosaico de beleza e poder feminino”, disse ela, recomendando ainda o trabalho da fotógrafa.
“Preciso continuar a levar autoestima para todas as mulheres. Preciso que vocês se vejam por um outro olhar. Um olhar sem críticas, sem julgamento aos seus corpos”, escreveu Vânia, feliz da vida com o sucesso da repercussão. A fotógrafa está há 7 anos retratando mulheres reais como obras de arte! “Te ajudo a se conectar com sua autoestima”, promete ela em seu perfil.
Paolla não usa filtros nem outros efeitos em fotos nas redes
Mas por que o corpo da Paolla, volta e meia, desperta tanto a ira das pessoas? É inveja ou recalque que chama? Pra mim, não resta dúvida. Mas muito além disso, sobra falta de noção, de empatia e de educação para muitas pessoas que se escondem por trás de perfis nas redes sociais e acham que podem esculhambar qualquer pessoa, com base em critérios estéticos questionáveis e preconceituosos.
Às vésperas deste Natal, decidindo sobre o cardápio de fim de ano e refletindo sobre o meu atual peso corporal nesta fase da vida, impactado pelas muitas alterações causadas pela menopausa – assim como milhões de outras brasileiras – , me deparei com esse debate nas redes e me tornei uma súbita fã da Paolla Oliveira.
A maturidade e leveza nas reações dela aos últimos ataques que vem sofrendo inspiram, certamente, muitas outras mulheres reais como eu e você, mulher, que está lendo esta matéria e certamente já se indispôs com o espelho (quem nunca?). Minha recente admiração pela atriz cresceu ainda mais ao saber que, desde julho deste ano, ela não usa filtros em suas fotos do Instagram, tanto em conteúdos quanto nas publicidades.
‘Essa sou eu, sem filtro nenhum. Será que essa é a imagem que a gente tem de nós?”
“De verdade, essa sou eu, sem filtro nenhum. Será que essa é a imagem que a gente tem de nós? Os estímulos para gente ser outra pessoa vêm de todos os lados. Esse filtro que aumenta a boca, que afina o nariz, que engrossa a perna, que te estica, te encolhe”, criticou.
Com essa postura, Paolla resolveu atender ao chamado de uma campanha publicitária de uma marca de sabonetes que desaconselha a utilização de qualquer efeito ou outro tipo de manipulação em imagens, vídeos e selfies. Tudo para estimular outras pessoas a se aceitarem como realmente são.
Quando eu falei sobre ser dos contratos mais importantes, eu estava falando dessa minha busca também, dessa minha busca atual para reforçar essa relação positiva e saudável com a minha autoimagem. Além de saber que a minha decisão pode influenciar muitas mulheres e jovens por aí”, continua.
O projeto alerta sobre a pressão estética que reforça padrões irreais de beleza nas redes sociais. A ideia é mostrar que a criação de conteúdo, a influência e o uso da internet podem ser feitos com mais responsabilidade e transparência, tornando o ambiente digital mais real e, consequentemente, mais seguro para a saúde mental de todos que nele coabitam.
“A gente precisa aprender a se amar e celebrar quem a gente é”
“A pressão pra gente ser outra pessoa é o tempo todo, né? Não tem como a gente não se afastar de quem a gente é de verdade. Eu mesma já deixei de me reconhecer no espelho. Que aflição. Me perder de mim, de quem eu reconhecia, para depois entender que esses padrões não existem, são inalcançáveis. Somos únicas e a gente precisa aprender a nos amar, a celebrar quem a gente é“, questiona a atriz.
Está certíssima, Paolla. Vai e arrasa! Como sempre! Seu corpo fala muito sobre você. Mas sua voz representa a de milhões de brasileiras – como eu, como minha vizinha, como minha amiga. Que possamos em 2024 fazer as pazes com nossos corpos e nossos espelhos – claro, sem nos descuidarmos da saúde, que vem sempre em primeiro lugar.
Neste verão e no próximo Carnaval, vamos celebrar muito nosso amor próprio, nossa autoestima, nossa autoimagem. Com coragem, liberdade e alegria. E, quem quiser, que sambe muito na “cara das inimigas” – e dos inimigos e inimigues porque, infelizmente, para preconceito, não tem sexo.