Depressão, ansiedade, bipolaridade, síndrome do pânico, fobia social… As doenças de cunho psíquico já assolam a sociedade há muito tempo. Pessoas que sofrem de diferentes neuroses causadas por medos e preocupações, por exemplo, se tornam reféns da doença, que pode passar despercebida para quem está próximo e, em alguns casos, ser tratada até como algo menor, mas que é perigosa e mortal.

Com a pandemia, os transtornos tomaram proporções ainda maiores, como a síndrome do pânico, que atinge cerca de 2% a 4% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e que, entranhada em muitas neuroses, disparou em casos durante o período.

Mesmo severamente afetada com a pandemia, a cultura – mais precisamente o cinema nacional – cumpre o seu papel social ao abordar esses temas complexos e delicados nas telas, fazendo um alerta para o uso de medicamentos de forma indevida e também sobre as relações tóxicas.

A síndrome do pânico é a espinha dorsal do longa ‘Silencio’, que será lançado em dezembro nos cinemas. O trailer oficial de ‘Silencio’ pode ser visto no Youtube. Em breve, o longa também começará a ser exibido em festivais. A personagem Sara, vivida por Yasmin Martins Mendes, tem um roteiro que está sendo finalizado, mas é insegura com ele e constantemente faz alterações na busca de aprovação alheia.

“Ela tenta ignorar as sensações considerando o trabalho mais importante do que sua saúde mental. A personagem sofreu traumas na infância e vive um relacionamento abusivo com Pedro (Lucas Tier). Isso tudo contribui para seu frágil estado emocional”, comenta a atriz.

‘Pináculo’ aborda o drama da depressão e da fobia social

Já a fobia social é abordada no curta ‘Pináculo’, lançado em maio no Youtube, onde está disponível na íntegra. O ator Andriu Freitas interpreta Mauro, um rapaz de 31 anos que se encontra deprimido devido a diversos fatos em sua vida e quer sair dessa condição. Mas se afunda cada vez mais em uma autossabotagem, apelando para o uso de ansiolíticos, álcool, além da alimentação ruim baseada em fast-foods.

Apesar de morar sozinho, o personagem depende da ajuda financeira da mãe. Além de sentir o fracasso na vida profissional por ter perdido o emprego, ele sente uma tristeza pessoal ao terminar um namoro.

“Tudo isso causa nele um grande desânimo. Com o sentimento de solidão, ele começa a tomar ansiolíticos com álcool para tentar ‘anestesiar’ essa dor, além de manter péssimos hábitos alimentares, como a compulsão por fast-foods. Ele chega ao seu limite, explode e, prestes a se dopar mais e colocar sua vida em risco, é surpreendido por uma menina em seu apartamento e começa um papo que vai se desdobrando em várias viradas nessa história”, revela Andriu.

Psicóloga avalia piora nas neuroses durante a pandemia

A síndrome do pânico está associada à ansiedade, que funciona como um mecanismo de luta ou fuga. Esse mecanismo se interliga às sensações de medo e de preocupação, cruciais à nossa sobrevivência. Quando os níveis de ansiedade estão altos em nosso organismo, ficamos mais suscetíveis a transtornos, como os ataques de pânico.

O ataque de pânico nada mais é do que uma potente descarga de ansiedade no corpo, caracterizada por sintomas como taquicardia, falta de ar, sudorese, anestesia e formigamento, seguidos pelos medos de perder o controle e de morrer. A Síndrome do Pânico é caracterizada por crises recorrentes. É possível ter um ataque de pânico e não desenvolver a síndrome.

A psicóloga Cristina Navalon diz que durante a pandemia as pessoas, de forma geral, apresentaram todo o tipo de neurose com piora importante do quadro geral. “Se um familiar ou mesmo um amigo teve o psicológico afetado durante a pandemia, é importante ficar de olho, pois o quadro pode sempre apresentar recaídas e desestabilizar toda a família”, ressalta.

Com o isolamento, a simples ansiedade pode se tornar generalizada, levando, inclusive, a um agravamento do quadro depressivo, segundo Navalon.

“Em pacientes com esquizofrenia estabilizada, pode ocorrer a evolução para um surto psicótico, quando houver disponibilidade genética. E para quem tem diagnóstico de bipolaridade (tanto no ciclo de depressão quanto no de euforia), agravar também para um quadro psicótico”, completa.

Ela lembra que, mesmo com a quarentena, vários profissionais se dispuseram a atender de forma remota e isso foi de extrema importância para quem sofre em casa sozinho. “É importante ter por perto também pessoas amigas e familiares – sempre quando for preciso – que acolham as dores emocionais sem julgamentos”, diz a psicóloga Cristina Navalon.

Síndrome do pânico: o sofrimento em silêncio

Yasmin ressalta que, para criar toda essa tensão que Sara sofre, passou quase um ano em estudos intensos para entender as crises, chamadas de “ataques de pânico”.

“Para o desenvolvimento da Sara, foram cerca de oito meses de estudos intensos. Ela tem uma condição psicológica que faz muitas pessoas sofrerem em silêncio, conversei com psicólogos, com pessoas que têm Síndrome do Pânico, estudei o lado espiritual da síndrome e fiz uma busca para ter o máximo de informações sobre essa condição sorrateira”, conta a atriz.

Sobre ‘Silencio’, Yasmin fala ainda em como o período de isolamento impactou nas gravações. “A pandemia nos trouxe para dentro, não só de nossas casas, mas dentro de nós mesmos. E esse encontro nos mostrou nossa realidade familiar e mental, trazendo à tona o que muitos sofrem dessa condição psicológica”, conta a atriz.

“Nos dias em que as cenas das crises, nem comer eu comia, pois era tão intenso que vomitava. Todas as cenas eram exaustivas, havia uma falta de ar e trava muscular que não dá para explicar. Talvez somente aqueles que infelizmente vivem isso consigam entender. Essa foi a forma que encontramos para falar sobre o assunto, que é muito delicado, sério e merece toda a atenção. O fator mais apaixonante no resultado do ‘Silencio’ foi a exposição: sinto-me completamente nua”, finaliza a atriz.

 

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