Responsável pela morte de 70 mil pessoas por ano no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a raiva é uma doença sem cura, por isso, a imunização é a melhor forma de proteger os animais e também seus tutores. A doença infecciosa atinge animais mamíferos, inclusive os humanos. A infecção é letal em 100% dos casos e pode ser prevenida por meio da vacinação.
O Dia Mundial Contra a Raiva, lembrado nesta quinta-feira (28), destaca a importância de se conscientizar sobre a necessidade de imunizar cachorros e gatos contra a doença que mata quase 100% dos infectados, inclusive humanos. As vacinas são oferecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde em todo o país, e devem ser aplicadas todos os anos.
A preocupação com a raiva aumentou depois que um cão testou positivo para o vírus em São Paulo, no fim de agosto deste ano, após 26 anos sem se falar da doença. Um cachorro foi resgatado no dia 27 de agosto com sintomas neurológicos e levado para uma clínica em Taboão da Serra, onde foi submetido a uma eutanásia após ter pioras no seu estado de saúde. O corpo do animal foi encaminhado para a Faculdade de Medicina Veterinária da USP, onde passou por exames que vão detectar se o vírus que o afetou era da variante canina ou transmitida por morcegos..
Esta foi a primeira infecção em um cachorro na região desde 1997. Os casos de raiva humana voltaram a crescer no Brasil. Em 2022 foram cinco novas ocorrências, das 45 notificadas desde 1986. Já em 2023, ao menos dois homens foram vítimas do vírus da raiva no Brasil – um após o contato com um bezerro doente em Mantena (MG) e outro após ser mordido por um sagui em Cariús (CE); ambos foram casos fatais.
Em 1999, 1,2 mil cachorros testaram positivo para a doença no Brasil, enquanto em 2022 foram sete diagnósticos. Atualmente, os animais silvestres representam a maior parte dos infectados pela doença. Entre os humanos, desde 2010 foram 47 casos no Brasil, nove delas foram infectadas por cachorros; quatro, por gatos, e a maior parte, 24, por morcegos. Houve transmissões também por animais como raposas e macacos.
Raiva canina volta a preocupar: quase 100% dos casos são letais
A doença, que não tinha registros no Estado de SP desde 1997, voltou a preocupar médicos veterinários e tutores, pois a raiva canina é letal em quase 100% dos casos e pode afetar humanos. Renata Pinheiro, veterinária da Guiavet, uma plataforma de saúde e bem-estar para cães e gatos, explica como prevenir o seu pet e o que fazer em casos de suspeita.
“A raiva tem uma taxa de mortalidade muito próxima de 100%, com pouquíssimos casos conhecidos de pessoas que sobreviveram após serem infectados ou, quando sobrevivem, carregam sequelas graves e permanentes. Apesar de ainda não existir cura para a doença, temos métodos de prevenção muito eficientes, principalmente para os nossos animais”, reforça a médica.
Como ocorre a transmissão de animais para humanos
A transmissão ao humano ocorre quando o vírus da raiva existente na saliva do animal infectado penetra no organismo humano por meio de mordidas, arranhões ou lambidas. Os ciclos de transmissão da raiva podem ser urbanos (transmitido por cães de gatos), rurais (transmitido por bovinos, equinos, suínos e caprinos) ou silvestres (transmitido por raposas, guaxinins, saguis, primatas e, principalmente, morcegos).3
Os sintomas vão desde mal-estar, inquietação, aumento da salivação, irritabilidade, paralisia, confusão mental evoluindo para coma e morte cerebral. Segundo o Ministério da Saúde, ao longo dos anos a vacinação antirrábica disponibilizada no Brasil ao longo dos anos ajudou a reduzir o número de casos e a controlar o vírus no país. O imunizante contra raiva humana está disponível gratuitamente para todos os brasileiros, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
A vacinação preventiva é indicada para pessoas que estão sob maior risco de serem infectadas, como veterinários, biólogos, zootecnistas, trabalhadores e tratadores de animais, além de moradores de regiões ou áreas consideradas endêmicas ou epidêmicas e para viajantes. Essa medida de prevenção tem como vantagem ajudar a simplificar a terapia pós-exposição, pois desencadeia resposta imune secundária mais rápida.
Imunização dos animais também protege humanos
A médica veterinária Taliha Perez, coordenadora de vigilância de zoonoses do Rio de Janeiro, ressalta que a imunização dos animais domésticos protege os humanos.
”A raiva é uma doença que é uma zoonose, e ela é 100% letal. A gente tem poucos casos de sobrevivência e mesmo assim as pessoas ficam em condições vegetativas. Por isso que é importante estar sempre cuidando, é importante que cada um faça sua parte, leve o animal para vacinar”.
O animal com raiva não consegue beber água e demonstra agressividade incomum. Se ele tiver sido mordido ou arranhado por outro, como morcegos, por exemplo, a recomendação é levá-lo a um veterinário. Caso uma pessoa seja mordida por um animal, é preciso limpar o local do ataque com água corrente e sabão e buscar atendimento médico o mais rápido possível.
Raiva em gatos: uma questão emergente no Brasil
Aumento da população de gatos no país faz crescer também a disseminação da raiva através desses animais
Com o aumento da presença de gatos nos lares brasileiros, cresce a preocupação em relação à saúde destes animais e sua potencial associação à disseminação da raiva, uma doença de alta letalidade que afeta tanto os animais quanto os seres humanos (zoonose). O Brasil já é o quarto país com a maior população de gatos no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Rússia – esta tendência é atribuída a uma série de fatores, incluindo o estilo de vida urbano com espaços residenciais reduzidos e o pouco tempo disponível para dedicar aos animais de companhia.
De acordo com o Censo Pet IPB, a população de gatos no Brasil cresceu significativamente, registrando um aumento de 6% entre 2020 e 2021, totalizando 27,1 milhões de felinos, enquanto a população de cães cresceu apenas 4%. No entanto, essa expansão da população de gatos também trouxe desafios associados à saúde pública, uma vez que muitos desses animais não são mantidos exclusivamente em ambientes domiciliares, o que contribui para a formação de colônias e a circulação de gatos pelas ruas, aumentando o risco de transmissão da raiva e outras zoonoses.
Embora a raiva seja mais associada a mordeduras de cães infectados, é crucial considerar os fatores que tornam os gatos suscetíveis à doença. Os gatos abandonados, em particular, são mais ariscos e têm um instinto de caça e predação mais aguçado do que os cães, tornando-se potenciais vetores da raiva.
“É importante reconhecer que os gatos, devido ao seu instinto de caça, podem correr o risco de capturar morcegos infectados pela raiva, o que aumenta a possibilidade de transmissão da doença para esses felinos”, destaca Karin Botteon, veterinária e gerente técnica da Boehringer Ingelheim. Além disso, as campanhas de vacinação tradicionais nem sempre oferecem um ambiente adequado para a imunização de gatos, causando estresse nos animais.
Vacinação é a chave para proteção dos animais e controle da doença
A vacinação é a principal medida na proteção e controle da raiva em gatos, assim como em cães. É o método mais eficaz de prevenção, que não apenas protege nossos queridos amigos de quatro patas, mas também resguarda a saúde pública. Promover a conscientização entre os tutores de cães e gatos sobre a importância da vacinação anual é fundamental. Além disso, é essencial incentivar a redução do abandono animal e a preservação do ambiente, evitando a destruição do habitat natural dos animais.
A doença não é notificada em cães e gatos no município do Rio de Janeiro há 28 anos e, em humanos, há 37 anos. Neste ano, já foram vacinados mais de 175 mil animais em toda a cidade, nas duas primeiras etapas da Campanha de Vacinação Antirrábica, promovida pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS-Rio), por meio do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa-Rio).
A campanha anual é uma das principais iniciativas do Ivisa-Rio para manter o controle da raiva no município e os resultados só são possíveis devido à grande adesão à vacinação.
Em Brasília, a economista Maíra Leão levou toda as cadelas para a imunização.
“Todo mundo vacinado lá em casa, não tem como deixar, não quero meus cachorros passando mal, morrendo de raiva. Não dá. Tem que proteger, elas vão pra pracinha, brincam com outros cachorros, então a [vacina contra a] raiva está sempre em dia”.
A aposentada Marta Maria da Silva levou a cadelinha com paralisia para ser imunizada. “Para cuidar das pessoas e dos animaizinhos também, para não ter a doença e para não infeccionar outras pessoas”.
Com a gatinha no colo, a técnica de enfermagem Kátia Gusmão Câmara diz que a maioria das pessoas associa a raiva apenas a cachorros. ”A gente ouve muito, o cachorro com raiva, a gente quase não ouve o gato. mas se é necessário gatinho também a gente não pode deixar ele de fora disso”.
Mais sobre a doença
Raiva em animais: como identificar, sintomas e tratamento
Mas afinal, o que é a raiva? Segundo Cintia Ghorayeb, clínica geral do Veros Hospital Veterinário, a doença é causada por um vírus e a transmissão se dá por meio da mordida, ou pelo contato com as secreções do animal já infectado. Esse vírus atinge o sistema nervoso central, causando graves lesões na massa cinzenta do cérebro e levando o animal doente a importantes e irreversíveis alterações neurológicas.
Após o vírus chegar no cérebro, os sintomas podem levar ao óbito rapidamente, na maioria dos casos em até 10 dias. Como o próprio nome diz, essa doença deixa o animal muito agressivo, pela desorientação neurológica, e os ataques a outro animal ou até mesmo os humanos, se tornam mais frequentes.
Transmissão da raiva
A raiva é uma doença viral comum em diversos mamíferos, que é transmitida pelo contato com fluidos corporais de um animal infectado, como a saliva ou o sangue, quando ele morde, lambe ou arranha uma pessoa ou outro animal.Hoje, o principal reservatório da raiva no Brasil são os animais silvestres, principalmente os morcegos
No meio rural, o morcego hematófago – que se alimenta de sangue – é um dos mais importantes transmissores da raiva, principalmente para os herbívoros e para o homem. Animais de sangue frio não adoecem, mas são transmissores e atuam como vetores da doença. Animais silvestres, como micos, sagüis, gambás e morcegos, podem transmitir a raiva. Por isso é extremamente proibido tentar pegar um animal silvestre doente ou caído diretamente com as mãos, deve-se buscar ajuda de um profissional devidamente capacitado e protegido.
Prevenção
A raiva pode ser prevenida em cães e gatos por meio da vacina anti-rábica que é aplicada anualmente por um veterinário e também é disponibilizada pelo SUS. A vacina é obrigatória e deve ser aplicada em animais a partir de 3 meses de idade, devendo ser reforçada todos os anos. Ao ser vacinado, os animais têm muito menos chances de desenvolver a doença, mesmo que entre em contato com outro animal infectado.
Por isso é tão importante que os tutores mantenham os controles de saúde e registro dos imunizantes aplicados nos seus pets, façam o acompanhamento veterinário frequente e a atualização dos exames periódicos. De acordo com a Dra Cintia Ghorayeb, o pet toma a primeira dose ainda filhote, a partir dos 4 meses de vida e depois deve receber reforço anualmente para prevenir a doença. Todos os mamíferos devem ser vacinados.
Como diagnosticar
Alguns dos principais indícios que o animal possa estar com a doença são as alterações de comportamento, como agressividade, ansiedade, depressão, dificuldade de engolir, salivação abundante, convulsões e sinais neurológicos graves, conta a Dra Cintia. Caso o paciente esteja com algum destes sintomas, e não estiver com a vacina atualizada, é importante descartar a doença como diagnóstico diferencial. Infelizmente não existe um tratamento eficiente para a doença, e depois de instalada no cérebro, e o paciente invariavelmente vem a óbito.
O que fazer em caso de suspeita
A recomendação para nós seres humanos é não entrar em contato direto com animais silvestres ou que não se conhece o histórico de vacinação. Em caso de mordedura ou arranhadura de animais desconhecidos, incluindo cães e gatos, deve-se lavar o local com muita água e sabão em abundância e procurar o serviço de saúde imediatamente. Caso seja possível, observe o animal agressor por um período de pelo menos 14 dias e, se ele apresentar algum sinal neurológico ou vier à óbito no período, o serviço de controle de Zoonoses da sua cidade deverá ser avisado imediatamente
Tem tratamento?
“Existem chances de tratar com alguma resposta clínica, antes da contaminação chegar ao cérebro, ou seja, podemos conseguir lutar com o vírus na fase de incubação, que é variável para cada espécie, mas pode acontecer entre 10 à 120 dias, sendo comum em cães 10 dias”, explica a veterinária.
Em seres humanos os sintomas começam em aproximadamente 45 dias após a contaminação (sendo os sintomas nos humanos: irritabilidade, salivação, náuseas e vômitos inicialmente, evoluindo pra sinais como convulsão, coma e óbito). A vacinação de todos os animais, e dos profissionais que tem contato com essa casuística (veterinários, biólogos e tratadores em geral) é a única forma eficiente de prevenção e erradicação da doença”.
Onde vacinar seu animal na cidade do Rio
Ao todo, a Campanha de Vacinação Antirrábica no Rio de Janeiro acontece em cinco etapas, em diferentes grupos de bairros, com o objetivo de alcançar todas as regiões do município. Segundo a SMS-Rio, a segunda etapa da campanha vacinou no último dia 16 de setembro mais de 110 mil animais, entre cães e gatos, em cerca de 150 postos distribuídos por bairros da Zona Norte do Rio.
As próximas ações acontecem nos dias 7 e 21 de outubro e 11 de novembro em bairros das zonas Norte e Oeste. A meta é vacinar cerca de 500 mil cães e gatos nas cinco etapas da campanha. Durante a campanha, poderão ser imunizados cães e gatos a partir de três meses de idade e adultos saudáveis. A relação dos postos dessa segunda etapa está disponível neste link.
DATAS E BAIRROS DAS PRÓXIMAS ETAPAS DA CAMPANHA
07/10 – 3º grupo
Zona Norte: Acari, Anchieta, Bento Ribeiro, Cascadura, Cavalcante, Coelho Neto, Costa Barros, Deodoro, Engenheiro Leal, Guadalupe, Madureira, Marechal Hermes, Oswaldo Cruz, Parque Anchieta, Pavuna, Piedade, Ricardo de Albuquerque Zona Oeste: Anil, Barra da Tijuca, Cidade de Deus, Curicica, Campinho, Freguesia, Gardênia Azul, Itanhangá, Jacarepaguá, Pechincha, Praça Seca, Recreio dos Bandeirantes, Rio das Pedras, Tanque, Taquara, Vargem Grande, Vargem Pequena, Vila Valqueire.
21/10 – 4º grupo
Zona Oeste: Bangu, Campo Grande, Cosmos, Deodoro, Inhoaíba, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Padre Miguel, Realengo, Santíssimo, Senador Camará, Senador Vasconcelos, Vila Kennedy.
11/11 – 5º grupo
Zona Oeste: Guaratiba, Ilha de Guaratiba, Paciência, Pedra de Guaratiba, Santa Cruz, Sepetiba.
Fonte: Assessorias e Agência Brasil