O ator Stenio Garcia e as cantoras Madonna e Preta Gil têm algo em comum: passaram por episódios recentes de sepse, uma das principais causas de morte em todo o mundo. Conhecida antigamente como infecção generalizada ou ainda como septicemia, essa condição volta aos holofotes, levantando mais uma vez a questão da importância de conhecer os sinais e sintomas o mais rápido possível para iniciar o tratamento adequado.

Um estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e realizado por 24 pesquisadores de universidades de seis países baseado em registros médicos de 195 nações, revelou uma estatística alarmante: 11 milhões de pessoas morrem todos os anos com septicemia, ou seja, 1 a cada 5 óbitos no mundo – mais do que as mortes causadas pelo câncer e pelo infarto. Ou seja, uma morte a cada 2,8 segundos.

Embora seja considerada prioridade de saúde mundial, a sepse é desconhecida por mais de 80% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha realizada em 2017, a pedido do ILAS (Instituto Latino-americano de Sepse). A incidência no Brasil é alta, segundo dados compilados pela entidade. Em 2017, foram registrados 430 mil casos em UTIs, com uma letalidade de 55%, ou seja, 230 mil mortes.

“Mudar esse quadro depende de aumentar a percepção de leigos, profissionais de saúde, políticos e formadores de opinião sobre o que é, como identificar e tratar a doença”, afirma Flavia Machado, do ILAS.

Uma higiene adequada das mãos e cuidados com os equipamentos médicos podem ajudar a prevenir infecções hospitalares que levam à sepse. Mas a especialista esclarece ainda que a sepse não acontece só por causa de infecções hospitalares. “Bons hábitos de saúde podem ajudar, além de se evitar a automedicação e o uso desnecessário de antibióticos”. O risco de sepse pode ser diminuído, principalmente em crianças, respeitando-se o calendário de vacinação.

Diagnóstico a partir de sinais de mau funcionamento dos órgãos

A sepse é uma resposta inadequada do próprio organismo contra uma infecção que pode estar localizada em qualquer órgão. Esse estado inflamatório pode levar ao mau funcionamento de um ou mais órgãos, com risco de morte quando não descoberta e tratada rapidamente.

Qualquer tipo de infecção, leve ou grave, pode evoluir para sepse. As mais comuns são a pneumonia, infecções abdominais e infecções urinárias. Por isso, quanto menor o tempo com infecção, menor a chance de surgimento da sepse. Para tal, o reconhecimento precoce, o tratamento e adequado rápido da infecção são estratégias que devem ser adotadas”, diz a médica.

A infecção pode ser causada por diferentes micro-organismos, como vírus, fungos, parasitas, protozoários e, principalmente, bactérias. O diagnóstico da sepse é feito com base na identificação do foco infeccioso e na presença de sinais de mau funcionamento de órgãos.

Não há exames específicos, mas sim aqueles voltados para a identificação da presença de infecção, como um hemograma, e para a identificação do foco, como radiografia de tórax, e exames de urina. É também importante a identificação do agente infeccioso, com coleta de culturas de todos os sítios sob suspeita de infecção, mas principalmente do sangue.

Outros exames ajudam a identificar a presença de mau funcionamento dos órgãos, principalmente o chamado lactato, que mostra se a oferta de oxigênio aos tecidos está adequada.

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Sepse leva ao colapso do sistema imunológico

Apesar de assustador, o estudo da OMS traz uma boa notícia: o número de casos e mortes relacionadas à doença tem diminuído nas últimas duas décadas, registrando uma redução de 50% desde 1990. O médico infectologista do Hospital São Marcelino Champagnat, Bernardo Montesanti, destaca ainda que cerca de 80% deles ocorrem fora do ambiente hospitalar. Ele dá outros esclarecimentos sobre a sepse.

No mundo, 47 a 50 milhões de casos de septicemia ocorrem anualmente, com 11 milhões de mortes

O que acontece com o organismo na sepse?

Quando a infecção avança, o sistema imunológico reage lançando uma resposta inflamatória sistêmica na tentativa de controlá-la. No entanto, em alguns casos, essa resposta exagerada pode levar ao colapso do sistema imunológico, que passa a atacar outras partes do próprio corpo. Esse processo inflamatório pode levar a alterações no funcionamento de órgãos vitais e, se não diagnosticado rapidamente, pode levar à morte.

Como identificar a sepse ?

Embora não existam sintomas específicos, é importante que todas as pessoas que estejam enfrentando uma infecção e apresentem febre, taquicardia, aceleração dos batimentos cardíacos, respiração acelerada, fraqueza intensa e tontura devem procurar imediatamente um serviço de emergência ou um médico.

Qual é a população mais vulnerável a adquirir a doença?

Qualquer pessoa pode desenvolver septicemia, porém, existem alguns grupos que apresentam maior risco. Isso inclui prematuros, crianças com menos  de um ano, idosos com mais de 65 anos, pacientes com câncer, HIV/Aids ou que tenham passado por quimioterapia ou outros tratamentos que afetam o sistema imunológico.

Além desses, pacientes com doenças crônicas como insuficiência cardíaca, insuficiência renal e diabetes, usuários de álcool e drogas, assim como pacientes hospitalizados que fazem uso de antibióticos, cateteres ou sondas.

Como é o tratamento de um paciente com sepse?

Existem duas abordagens no tratamento da septicemia: o de suporte e o específico. “O primeiro consiste em medidas para otimizar a troca gasosa através de ventilação mecânica, medidas para controlar a pressão arterial e outras terapias que visam  minimizar o impacto desse estado inflamatório sistêmico nos casos mais graves, que pode levar a complicações como o choque séptico.

“Já o tratamento específico é realizado de acordo com o agente causador da infecção. No caso de infecções bacterianas, tratamos com antibióticos específicos. Se a causa for um vírus, usamos medicamentos com antivirais adequados para combater o micro-organismo responsável”, ressalta.

Como prevenir a contaminação?

Segundo o médico infectologista, a prevenção é o melhor caminho, tanto para evitar que a doença ocorra quanto para o cuidado da sepse. No primeiro caso, práticas de higiene geral, como lavar as mãos com água e sabão, além de usar álcool em gel, diminuem as chances de transmissão de micro-organismos presentes em ambientes, como botões de elevadores, corrimãos e trincos de portas, para o organismo humano.

“Outra forma de prevenção é por meio da vacinação em todas as idades. Então, é importante conferir se a carteira vacinal está em dia, porque existem vários micro-organismos causadores de sepse que podem ser prevenidos dessa forma”, reforça o especialista.

Instituição luta para esclarecer sobre a sepse

São prioridades do ILAS, instituição sem fins lucrativos, fundada em 2005, aprofundar e difundir os conhecimentos sobre sepse e infecções graves, coordenar estudos clínicos e epidemiológicos e apoiar instituições de saúde a melhorar a qualidade assistencial dos pacientes com sepse e sobreviventes.

“Ao longo dos últimos 18 anos, o ILAS treinou mais de 500 instituições brasileiras. Se o público em geral souber um pouco mais sobre os sintomas, e os profissionais sobre os protocolos, que ajudam a diagnosticar rápido a sepse e tomar a melhor decisão clínica, conseguiremos ao menos mudar o desfecho dos casos cujas mortes seriam evitáveis”, afirma a especialista

Nos sites do ILAS é possível encontrar informações, materiais e orientações para as instituições de saúde utilizarem no processo de implementação do protocolo gerenciado de sepse (www.ilas.org.brwww.diamundialdasepse.com.br; e Youtube) e também para o público em geral conhecer mais sobre a doença e os sintomas e a reabilitação pós-sepse (https://reabilitasepse.com.br/ e Youtube).

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