Ninguém está livre de sofrer uma queda – em casa, na rua, no trabalho. Segundo dados do relatório da Organização Mundial da Saúde de 2018, as quedas são a segunda causa de morte acidental no mundo, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito. Além disso, elas são responsáveis por cerca de 40% das internações hospitalares por trauma, isso em todas as idades. 

Mas um simples escorregão pode ter consequências graves para a saúde, especialmente para idosos. Segundo dados do Ministério da Saúde, em idosos acima de 80 anos, a prevalência é ainda mais alta e a mortalidade associada a quedas chega a ser seis vezes maior.

O assunto voltou a chamar atenção esta semana por conta do que aconteceu com o ex-presidente José Sarney, de 93 anos. Ele tropeçou e caiu em casa neste domingo (16) e precisou ser internado em um hospital do Maranhão. A ex-governadora maranhense Roseana Sarney, filha do política, contou em uma rede social que o pai passa bem:

“Levamos um susto muito grande. Meu pai tropeçou e caiu. Nós o levamos para um hospital, mas graças a Deus, os exames já concluíram e ele tá muito bem. Se deus quiser, vai ficar bom logo, logo”, afirmou.

Quedas são perigosas em qualquer idade, mas idosos precisam redobrar a atenção

Números apontam que as quedas nas pessoas idosas são comuns e aumentam progressivamente com a idade. Segundo dados do Ministério da Saúde,  70% das quedas em idosos ocorrem dentro de casa e acometem idosos com mais de 65 anos.

No setor de Fisioterapia do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), as quedas foram o motivo de metade dos atendimentos mensais de pacientes com mais de 80 anos durante o primeiro semestre de 2023. Dos 160 usuários atendidos, pelo menos 80 caíram e se lesionaram.

De acordo com o hospital, as principais causas são fraqueza muscular e alterações na visão e na cognição. Os incidentes ocorrem geralmente em casa ou em lugares comuns da rotina.

A paciente Luisa Prado, também de 93 anos, caiu duas vezes. Na primeira vez, a bengala escorregou na calçada e a desequilibrou. Já na segunda, tropeçou no tapete de casa. As quedas causaram lesões na cabeça e na clavícula.

“Minha visão ficou debilitada com o envelhecimento, o que contribuiu para eu esbarrar, tombar e fraturar diversos ossos. Porém, a prática de exercícios físicos ajudou na diminuição das dores, além de melhorar a minha locomoção”, comenta a aposentada.

Causas e consequências das quedas

As causas das quedas podem ser variadas e existem alguns fatores que aumentam o risco, especialmente entre idosos, como pisos escorregadios, tapetes soltos, iluminação deficiente, obstáculos no caminho, uso de calçados inadequados, problemas de visão, tonturas, fraqueza muscular, entre outras. Contudo, além de condições externas, algumas enfermidades têm potencial para causar acidentes domésticos.

“Algumas doenças também podem aumentar o risco de quedas, como Parkinson, Alzheimer e diabetes. A osteoporose, o enfraquecimento ósseo, representa um fator importante, principalmente nas mulheres pós-menopausa. Contudo, o uso de medicamentos que afetam o equilíbrio ou a coordenação também afetam neste aspecto”, explica o ortopedista Paulo Roberto Szeles, especialista em medicina esportiva e médico credenciado Omint.

Para o ortopedista e diretor técnico do HSPE, Marcelo Takano, é comum idoso cair, porém, não é normal. “A queda pode ser sinal de alerta na saúde do idoso. Por isso, deve ser investigada, pois fatores sutis como uma medicação na dosagem incorreta ou o grau do óculos incompatível com a necessidade podem ser os causadores de tombos graves”, explica.

As consequências das quedas podem ser desde leves, como escoriações e hematomas, até graves, como fraturas, traumatismos cranianos e lesões na coluna. “As fraturas mais comuns são as de fêmur, punho e quadril. Essas lesões podem comprometer a mobilidade, a independência e a qualidade de vida das vítimas”, comenta Szeles.

De acordo com enfermeira Janaína Rosa, coordenadora técnica da Home Angels, rede de cuidadores de pessoas supervisionadas,  mesmo que a ocorrência de uma queda configure em apenas um acidente, ela também pode indicar problemas relacionados à saúde do idoso, além de poder causar consequências muito negativas, como redução das funções e necessidade de hospitalização.

Medo de cair pode gerar ansiedade

São inúmeros os problemas que afetam a qualidade de vida dos idosos, por isso ações preventivas são fundamentais para garantir o bem-estar e a segurança na terceira idade. Um dos elementos que determinam a qualidade de vida de uma pessoa idosa é a independência para realização de atividades habituais e isso não depende apenas das condições clínicas e físicas, mas também da adequação do meio em que eles vivem.

“As consequências das quedas para os idosos podem ser bastante limitantes, tanto física quanto psicologicamente e, em alguns casos, podem ser fatais. Os principais problemas decorrentes são fraturas, traumatismo craniano, cortes, queimaduras, ansiedade, depressão. Existe ainda o chamado ‘medo de cair’, também conhecido como “Ptofobia”, explica.

A enfermeira Janaína Rosa, afirma que o sedentarismo é muito frequente na terceira idade. “A prática de exercícios não é estimulada entre os idosos, o que é um erro, pois quanto menos se movimenta o corpo, maior é o declínio das condições e capacidades físicas”.

Consultas em dia e atividades físicas são importantes

Segundo Marcelo Takano, o tratamento de quedas pode ser mais delicado para as pessoas idosas devido às comorbidades pré-existentes. Por isso, é essencial manter as consultas médicas em dia.

“Isso ajuda na identificação de possíveis doenças facilitadoras de acidentes, como osteoporose e sarcopenia – quadro de perda de massa muscular durante o envelhecimento. Também evita e previne o problema praticar exercícios físicos. Além de fortalecer a musculatura, também tornam o corpo mais resistente a impactos”, comenta.

Takano afirma que também podem contribuir para evitar quedas os seguintes cuidados: o uso de calçados adequados, evitar caminhos com irregularidades no chão, segurar no corrimão ao subir e descer escadas, manter o piso seco e retirar tapetes de lugares de trânsito.

Dr Szeles ainda explica que é fundamental revisar regularmente os medicamentos com um médico e redobrar a atenção com atividade física. “É importante que os idosos façam exercícios regulares para melhorar a força muscular, a saúde óssea e o equilíbrio e adotem uma série de medidas para tornar seus ambientes mais seguros.

Boa parte das quedas pode ser prevenida com adaptações em casa

Poucas pessoas sabem, mas grande parte das quedas sofridas por idosos podem ser prevenidas. Para isso, basta realizar algumas alterações no estilo de vida e adaptações dentro de casa, adicionando itens de segurança e, o mais importante, fazer uso deles.

“Dentro do ambiente doméstico, o banheiro é o campeão em quedas. Pisos lisos, água, material de limpeza, sabão. Enfim, as causas podem ser muitas, mas todas podem ser prevenidas com simples medidas de segurança que podem ser ajustadas pelo cuidador e familiares”, destaca a enfermeira Janaína Rosa.

Para evitá-las, além do cuidado, são necessárias algumas medidas nos ambientes. Uma delas é manter o ambiente da casa bem iluminado e adaptado, com pisos antiderrapantes. Adaptar corrimãos para permitir uma locomoção com mais facilidade, principalmente nos banheiros, corredores ou próximo à cama, evitando tapetes, fios, e demais objetos pelo caminho, bem como, degraus ao longo da casa.

“Também é recomendado evitar camas e cadeiras muito baixas ou altas. Além disso, é necessário atenção nas roupas e calçados adequados para cada faixa etária, optar por sapatos fechados, com sola antiderrapante e bem adaptados ao pé”, completa a enfermeira.

Dicas para manter um ambiente seguro e livre de quedas

Para prevenção de quedas, o o ortopedista Paulo Roberto Szeles elenca medidas simples e importantes, como:

– Manter o ambiente doméstico seguro e organizado, evitando objetos que possam causar tropeços ou escorregões.

– Preferir rampas ao invés de escadas.

– Instalar luzes noturnas nos principais ambientes da casa.

– Instalar barras de apoio e tapetes antiderrapantes nos banheiros, assim como cadeiras para banho e elevar altura do vaso sanitário.

– Usar calçados confortáveis e que não saiam do pé, de preferência presos no calcanhar.

– Fazer exames periódicos de visão e audição.

– Controlar as doenças crônicas que possam afetar o equilíbrio ou a coordenação motora.

– Ter uma alimentação saudável e rica em cálcio e vitamina D, para prevenir a osteoporose.

– Praticar atividades físicas regularmente, para fortalecer os músculos e melhorar a postura.

“As quedas podem ser evitadas com cuidados simples e atenção, mas caso ocorra, é importante procurar ajuda médica imediatamente para avaliar a gravidade da situação e iniciar o tratamento adequado”, ressalta.

Com Assessorias

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