O clima frio e seco, típico do inverno brasileiro, que começa oficialmente nesta quarta-feira (21 de junho), é o mais propenso às crises asmáticas, que podem estar associadas às alergias respiratórias, bronquites e infecções virais. Não à toa, o Dia Nacional de Controle da Asma é celebrado nesta data, ajudando a conscientizar sobre o tema.

As mudanças climáticas características das estações mais frias – outono e inverno -, somadas ao ar gelado e seco dessa época do ano, são os principais fatores desencadeantes para o desenvolvimento e/ou agravamento de doenças respiratórias, como a asma.

“Para se protegerem do frio, as pessoas costumam procurar ambientes fechados e acabam se aglomerando onde não há circulação de ar, o que favorece a transmissão de doenças. Já no clima seco, além do aumento de partículas alérgicas transportadas pelo ar, as vias aéreas ficam ressecadas e facilmente inflamadas”, explica o médico otorrinolaringologista Victor Gebrim.

Também conhecida como “bronquite asmática” ou “bronquite alérgica”, a asma é uma doença que ataca os pulmões e causa uma inflamação crônica dos brônquios, provocando episódios recorrentes de falta de ar, tosse frequente e prolongada, sensação de cansaço, chiado e dor no peito e e dificuldade de respirar.

Os sintomas da asma afetam todo o organismo, não somente as vias aéreas inferiores, as quais aumentam a produção de secreções e prejudicam a passagem de ar, e podem piorar à noite, no inverno ou com exercícios.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença afeta cerca de 339 milhões de pessoas no mundo. Em 2019, segundo estimativas da colaboração Global Burden of Disease, a doença afetava até 262 milhões de pessoas. De acordo com o órgão regulatório de saúde Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, esta é a doença crônica mais comum em crianças de todo o mundo.

No Brasil, atualmente, a estimativa é de que são 20 milhões de pessoas convivendo com a asma – quase 10% da população, hoje de 214 milhões de habitantes, de acordo com fontes que incluem a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Iniciativa Global para Asma (GINA).

Apenas 12% dos casos são controlados

Segundo o Ministério da Saúde,asma pode causar complicações, como redução na capacidade de realizar atividades, insônia, alterações permanentes no funcionamento dos pulmões, tosse persistente, dificuldade para respirar, hospitalização e internação por ataques severos.

Apesar de ter sua gravidade pouco difundida, a doença ainda é uma das principais causas de hospitalizações no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que a taxa de mortalidade atinge até seis pacientes por dia. Apenas 12,3% dos pacientes brasileiros estão bem controlados, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Álvaro Cruz, pneumologista e alergologista, professor titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro do Conselho Diretor da GINA (Global Initiative for Asthma), explica que o controle adequado da asma reduz a necessidade de hospitalizações e a taxa de mortalidade, por isso, a correta adesão ao tratamento é essencial.

“O controle da asma tem como principal objetivo minimizar os sintomas, reduzir a necessidade do uso do medicamento de alívio e eliminar a limitação para atividades físicas. A prevenção de exacerbações (crises), da perda da função pulmonar e de reações adversas ao tratamento também são aspectos bastante relevantes para o controle da doença”, esclarece.

No Brasil, ocorrem cerca de cinco óbitos por dia relacionados à asma. “Mortes evitáveis por asma ainda ocorrem devido ao manejo inadequado da condição, incluindo uso de medicações apenas para alívio de sintomas, em vez de medicamentos preventivos para o seu controle; isso precisa ser corrigido” alerta Rafael Faraco, médico pneumologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo..

Segundo ele, a asma é uma doença respiratória crônica, sem cura, porém controlável quando tratada adequadamente.  O seu controle é fundamental para se ter uma melhora na qualidade de vida e redução da mortalidade.

“A asma continua a ter um importante impacto negativo em termos de custos diretos e indiretos. Estratégias para melhorar o acesso e a adesão a terapias baseadas em evidências podem ser eficazes na redução do ônus econômico e social da asma em países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Crianças e adolescentes são os mais atingidos

Estudos mostram que 23% dos adultos e adolescentes brasileiros apresentam sintomas da doença, mas apenas 12% têm diagnóstico prévio de asma, o que demonstra o subdiagnóstico da doença. Somente no Brasil, cerca de 20% das crianças e adolescentes do país sofrem com o problema, segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).

Esse agravamento da condição durante as estações mais geladas é causado pelo contato do ar frio e seco com os brônquios, o que pode irritar o epitélio – tapete que reveste o pulmão – e provocar crises de asma, detalha a pneumologista pediátrica, alergista e professora de Pediatria do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), Laura Maria Lacerda Araujo.

“A permanência prolongada em ambientes fechados por conta do frio facilita um maior contato com aeroalérgenos, como os ácaros da poeira e mofos, que podem levar a sintomas respiratórios em crianças sensibilizadas”, explica a especialista, ressaltando também a sazonalidade dos vírus respiratórios nesse período, que levam a resfriados e gripes e podem agravar a asma das crianças.

A médica revela que os principais sintomas que crianças com asma apresentam envolvem tosse seca, falta de ar, aperto e chiado no peito, que podem durar dias e ser recorrentes, além de limitações durante as atividades físicas.

“Dependendo da gravidade da doença, pode haver também sono irregular, com despertares noturnos por dificuldade respiratória, além de absenteísmo escolar. São restrições que atrapalham a qualidade de vida não somente da criança asmática, mas de toda a família”, aponta.

Segundo Laura, o diagnóstico de asma na infância é essencialmente clínico, pois exames de função pulmonar são difíceis de serem executados em crianças, principalmente nas menores de 6 anos. Entretanto, alguns elementos podem ajudar a não confundir outras condições respiratórias com asma.

“Esse problema pode ser identificado se há também a presença de outras doenças alérgicas, como rinite, dermatite atópica ou alergia alimentar, assim como um histórico de familiares com asma”, alerta a médica pediatra.

Testes alérgicos, espirometria e vacinas contra gripe e Covid

Ela indica testes alérgicos que podem direcionar para um tratamento mais específico e controle ambiental, além da espirometria, que pode ser solicitada para crianças mais velhas, pois ajuda a diagnosticar a asma ao apresentar uma melhora dos parâmetros respiratórios após a medicação broncodilatadora, que é um dos principais tratamentos da crise de asma.

Entretanto, a alergista ressalta a importância de compreender que a asma se manifesta de maneiras diferentes em cada criança, pois é uma doença heterogênea na sua causa, apresentando uma variedade de sintomas, que também podem se manifestar de formas diversas.

“Algumas crianças têm mais queixas nas crises, enquanto outras experimentam sintomas durante atividades físicas, sono ou situações de ansiedade e estresse. Em bebês, o chiado pode ser um sintoma isolado; já em crianças que estão em idade escolar, o aperto no peito chama mais atenção”, detalha Laura, que finaliza com dicas que podem evitar as crises asmáticas tão comuns nos meses mais frios do ano.

“A vacinação contra a gripe e covid-19 é fundamental, tendo em vista que, dentre os principais desencadeantes de sintomas respiratórios nas crianças asmáticas, encontram-se as infecções virais. Além disso, manter os ambientes limpos, livres e arejados, mesmo durante o frio, para evitar acúmulo de mofo, ácaros, vírus e bactérias circulantes”, recomenda a especialista.

Ela também destaca a importância do acompanhamento médico para as crianças, com um tratamento individualizado que lhes permita adquirir um controle satisfatório da doença, para que possam levar uma vida absolutamente normal.

Anvisa aprova primeira terapia tripla combinada para tratamento da asma

Até o momento, pacientes que necessitam da terapia tripla precisam utilizar vários inaladores em diferentes momentos do dia. Uma novidade, porém, promete mudar essa realidade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em maio a indicação do medicamento Trimbow®, da biofarmacêutica Chiesi, para o tratamento de pacientes adultos com asma moderada a grave.

A combinação fixa de um anti-inflamatório e dois broncodilatadores demonstrou melhora da função pulmonar e redução das crises em pacientes que não tinham alcançado controle da asma com outras medicações. O medicamento, considerado uma inovação, já é aprovado desde 2019 no Brasil para o tratamento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). A terapia é a primeira e única formulação tripla fixa aprovada para o tratamento da asma e da DPOC.

Apresentada em forma de solução aerossol combina, em um único dispositivo em spray, três substâncias ativas: um corticoide com ação anti-inflamatória e que atua na redução do inchaço e da irritação dos pulmões, e dois broncodilatadores que agem no relaxamento dos músculos das vias respiratórias, permitindo ao paciente com asma respirar melhor. O tratamento regular com essas três substâncias ajuda no alívio e na prevenção dos sintomas da doença, como falta de ar, chiado e tosse.

Com a recente aprovação da Anvisa, os pacientes poderão contar com um único dispositivo, o que traz benefícios para a comodidade posológica e, consequentemente, para a adesão. Outro benefício da tripla terapia fixa são as partículas extrafinas capazes de alcançar as grandes e as pequenas vias aéreas do pulmão com mais precisão. Adaptável a todos os perfis de pacientes, o dispositivo em aerossol conta com acionamento independentemente do esforço inspiratório.

“O tratamento da asma pode ser feito em mono, dupla ou tripla terapia, mas diretrizes nacionais e internacionais já preconizam o uso da tripla terapia para pacientes que não alcançaram o controle da doença com terapias isoladas ou duplo combinadas, por seus amplos benefícios para a função pulmonar e diminuição das crises”, afirma o Dr. Cruz.

Mais sobre a asma

O pneumologista Álvaro Cruz  explica que a asma é uma doença que afeta as vias aéreas dos pulmões. Seus sintomas são causados pela inflamação, que torna as vias aéreas inchadas, estreitas e extremamente sensíveis e irritadas.

O quadro leva a exarcebações (crises) recorrentes de respiração ofegante, falta de ar, aperto no peito ou desconforto torácico e tosse, principalmente à noite ou nas primeiras horas da manhã.

Ataques leves podem ser solucionados sem medicamentos, mas o tratamento geralmente ajuda a resolvê-los mais rapidamente. O tratamento adequado também pode reduzir o risco de novas exarcebações.

A inflamação das vias aéreas restringe ou limita o fluxo de ar para os pulmões ao causar:

• Inchaço das vias aéreas, o que as torna mais estreitas;

• Aperto da musculatura que envolvem as vias aéreas (também chamado de broncoconstrição), o que os torna ainda mais estreitos;

• Produção de muito muco, que pode obstruir ou bloquear as vias aéreas;

• Dano de longo prazo às paredes das vias aéreas, o que as impede de abrir tão amplamente quanto uma via aérea normal.

Como diferenciar os sintomas?

De acordo com Dr. Victor Gebrim, os quadros de alergia respiratória são caracterizados por sintomas como olhos vermelhos, coceira em volta do nariz, coriza e espirros. “Pode surgir também tosse seca associada, mas de forma mais branda”.

A intensidade dos sintomas é a principal forma de diferenciar a asma e quadros de saúde mais severos das alergias respiratórias. “Quadros alérgicos são mais brandos do que outras doenças, mas sempre a melhor maneira de diferenciá-los é buscar ajuda especializada de um médico”, alerta.

Para prevenir, é necessário limpar e renovar o ar do ambiente. “Manter sempre limpos cortinas, bichinhos de pelúcia e cobertas, principalmente as mais grossas, e lavar constantemente o nariz com solução fisiológica apropriada são sempre as melhores opções de prevenção”, conta.

Quais são as causas e fatores de risco?

Segundo o pneumologista Rafael Faraco, a causa exata da asma ainda não é conhecida, mas acredita-se que é causada por um conjunto de fatores: genéticos, histórico familiar de alergias respiratórias – asma ou rinite, e ambientais.

Vários fatores podem desencadear ou agravar, tais como:

alérgicos (pó domiciliar, ácaros, fungos, pólens, pêlo e saliva de animais);

infecção respiratória viral;

agentes irritantes (fumaça em geral e principalmente de cigarro, poluição do ar, aerossóis, etc);

variação climática como exposição ao frio;

alteração emocional;

medicamentos (aspirina, anti-inflamatório não hormonal, betabloqueadores); e

exercícios físicos.

Como tratar a doença?

Ainda segundo Rafael Faraco, a asma é  uma doença subdiagnosticada e pouco controlada, sendo que  a maioria dos pacientes não utiliza medicações adequadas para o seu controle, mas sim medicações apenas para alívio dos sintomas. “Chiado de peito”, “falta de ar”, dor torácica, acordar a noite com desconforto respiratório são sinais que a asma está fora de controle”, explica.

Para se ter sucesso no tratamento e no controle de qualquer doença é imprescindível que o paciente entenda  e conheça sobre sua doença e os riscos inerentes ao não tratamento, como forma de ter maior adesão ao tratamento.

“A asma é uma doença inflamatória dos brônquios e bronquíolos, o que requer de forma fundamental e obrigatória, em todos os casos, o uso de corticoides inalatórios. Controle de fatores ambientais desfavoráveis como poluição, tabagismo, mofos e poeiras também são importantes para  reduzir  os riscos de exacerbações (crises) e auxiliar no controle.

O objetivo no tratamento é a melhora dos sintomas relacionados à asma, com aumento da qualidade de vida e redução de risco relacionados à asma quando não controlada, como exacerbações (crise de asma), internação hospitalar, perda de função pulmonar e risco de vida.

Como prevenir as crises?

Ações simples de controle ambiental são importantes para diminuir o contato com os ácaros e com o pó doméstico:

Deixar o ambiente do convívio diário, principalmente o quarto, limpo e arejado;

A limpeza deve ser diária com aspirador e pano úmido, sem produtos com cheiro forte;

Não usar vassouras, pois espalham a poeira fina, que ficará em suspensão e voltará a se depositar;

Retirar tapetes, carpetes, cortinas, almofadas, estantes com livros, enfim, tudo que facilite o acúmulo de pó;

Encapar colchões e travesseiros com tecido específico, para criar uma barreira física contra o ácaro;

Evitar animais dentro de casa.

Com Assessorias

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