Muita gente, por pura ignorância ou desconhecimento, pensa que é bobagem, frescura, que é coisa de gente fraca. Mas só quem já passou por uma crise dessas é capaz de dimensionar a sensação de enorme desespero e extrema fragilidade. A Síndrome do Pânico, um dos mais graves transtornos de ansiedade, ganha visibilidade quando vitima pessoas como o Padre Fábio de Melo, aparentemente um homem forte, inteligente e de fé inabalável.
Em entrevista neste domingo (20) ao programa ‘Fantástico’, da TV Globo, o religioso contou como tem enfrentado a doença. A primeira crise ocorreu há dois anos e a última, há menos de um mês. “Eu tinha medo das pessoas, a sensação era de morte”, revelou. “É o medo do medo, você acaba virando escravo do medo”, descreveu.
O ataque mais recente aconteceu quando ele estava pousando em Fortaleza, no final de julho. ” Estava bem, mas senti um sintoma semelhante ao que tive a dois anos atrás. Não tive vontade de sair do avião. Então peguei o medicamento, que já fica na bolsa, desci e entrei no hotel com sensação de desespero e mal estar. Quando cheguei na segunda em casa, eu desabei. Me escondia debaixo da cama, tamanho era pavor que eu sentia”, relembrou.
Em uma rede social, ele havia admitido que ficou uma semana trancado em casa, com sensação de morte e tristeza profunda: “Nunca chorei tanto na minha vida”. Na entrevista ao Fantástico, o cantor se emocionou ao contar que recorreu à mãe, Ana Maria. “”Teve um dia que meu desespero estava tão grande que eu não queria falar com outra pessoa sem ser ela. Tenho responsabilidade como padre, mas continuo sendo o Fabinho da minha mãe”, conta o padre.
O drama de Fábio de Melo chama a atenção para um problema que afeta boa parte dos brasileiros e que muitas vezes é mantido em silêncio, por medo do preconceito. Estima-se que 9% de brasileiros – ou mais de 18 milhões de pessoas – são vítimas de transtornos emocionais como depressão, ansiedade, fobia e o mais terrível deles, a síndrome do pânico. Falar sobre o problema, realmente, pode ajudar muita gente que sofre do mesmo.
A doença abalou até a própria fé de um dos religiosos mais carismáticos e queridos do Brasil. E nesse estado de profunda fragilidade que chegou a pensar em abandonar a batina. “Abalou muito. Foram dias que eu decidi tanta coisa rapidamente. Eu pensava que não queria mais ser padre. Pensava: ‘Não tenho mais coragem de enfrentar as pessoas, de ser quem eu sou'”, relembrou.
Passada a crise, o grande temor é passar mal novamente. E tomar a medicação recomendada não é garantia de estar livre de novos ataques. “Eu tenho que pensar o tempo todo que vou dar conta”, conta o padre. Ele admite que pretende fazer terapia para vencer o medo. “Estou bem melhor, graças a Deus. Medicado e vivendo um processo de recuperação diária. Sei que é por causa da química que já está em mim. O próximo passo é a análise”, declarou.
Apesar de estar se sentindo melhor, ele sabe que não está totalmente pronto e teme uma nova crise. Aliás, este é o principal medo de quem sofre com a doença: passar por um ataque novamente. “Ainda não virei essa página, tenho muita humildade para reconhecer que não estou inteiro, mas não posso parar. Estou trabalhando e não posso parar porque parar hoje significa permitir que ela (a síndrome do pânico) tome conta de mim. Hoje estou mais confiante”.
Com os sintomas controlados com ajuda de medicamentos e retomando sua agenda de compromissos, o padre encontra uma explicação espiritual, à luz da doutrina cristã, para sofrer com esse condição devastadora. Para Padre Fábio, a doença foi “extremamente providencial” e ampliou o seu já desenvolvido poder da empatia e da compaixão pelo outro. “Se já tinha respeito pelo ser humano e pelo mistério que é o ser humano, hoje tenho muito mais”, destaca.
Desordem do pânico é manifestação máxima da ansiedade
Definitivamente, a Síndrome do Pânico não é frescura, mas um transtorno químico, provavelmente hereditário. O ataque pode acontecer dentro de casa, numa aula, num ônibus ou no metrô, explicam especialistas. Segundo a OMS, 9,3% dos brasileiros sofre com algum tipo de ansiedade, taxa três vezes superior à média mundial. Juntamente com a depressão, as ansiedades são consideradas o mal do séc. XXI, levando a um consumo de centenas de milhões de dólares em medicamentos destinados a abrandar os sintomas. Numa escala crescente, a desordem do pânico é considerada a manifestação máxima da ansiedade.
“O viés psicanalítico aponta a existência, nessas desordens, de fatores psíquicos determinantes, não se limitando essa compreensão a apontar fatores exógenos, ambientais, e nem a resumir tudo a alterações da neuroquímica cerebral”, afirma o psicólogo Nicolau Maluf, analista reichiano e mestre e doutor em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia pelo HCTE/ UFRJ.
“A desordem do pânico, em especial, manifesta nos seus sintomas sinais fisiológicos que fogem ao universo do simbólico, mas que são passíveis de compreensão numa ótica reichiana, e somente nesta”, ressalta o especialista. A taquicardia, o suor profuso, a vertigem, os tremores; vem par a par com o medo de morrer, de perder o controle e de ficar louco e são sintomas que acometem quem manifesta a desordem.
“O viés reichiano dá inteligibilidade a esses sintomas, permitindo um tratamento de fato e não apenas sintomático. Essa condição, por sua vez, traz à superfície elementos que são centrais a toda neurose, revelando a essência da dimensão somato-psíquica e demonstrando sua relação com a natureza e o mundo em geral”. ressalta o especialista.
Ansiedade e Pânico sob a ótica reichiana é o tema da palestra gratuita que o psicanalista Nicolau José Maluf Jr fará no dia 1º de setembro, as 19h, no Instituto de Formação e Pesquisa W.Reich (IFP). O encontro, aberto ao público, acontecerá na Travessa Euricles de Matos, 39, Laranjeiras, próximo ao Largo do Machado. Inscrições pelo telefone 2557-2994 ou pelo email alunosifpreich@gmail.com.
Plantei uma árvore, escrevi um livro, tenho uma filha. Mãe de uma linda jovem, de pets e de plantas. Jornalista reinventante e equilibrista de pratinhos. Simplificando a vida, só vivendo. Carioca da 'clara', amo praia, roda de samba e torço pelo Vasco. Editora-chefe do @vidaeacao e diretora da @taocomunicacao. Fale comigo: rosayne@vidaeacao.com.br
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