Clarinha, minha filha, com a amiguinha Giovana: nova mania (Foto: Álbum de Família)
Clarinha, minha filha, com a amiguinha Giovana: nova mania (Foto: Álbum de Família)

Aqui em casa ela já perdeu um, ganhou outro, mas fica enlouquecida quando cruza as calçadas da Praça Saens Pena e dá de cara com aquele monte de camelô vendendo os brinquedinhos coloridos, de todos os tipos e materiais, que chamam a atenção até dos adultos pela variedade de cores e estilos e até de luzes que alguns emitem. E repete o mantra: ‘Eu quero um spnnier, eu quero um spinner, eu quero um spinner’…

Assim como foi a moda dos elásticos, das revistas de colorir e do Pokemon Go, a nova onda da criançada – e também dos adolescentes – agora é o hand spinner ou fidget spinner, aquele brinquedo feito de plástico, com três ou mais pontas, que gira entre os dedos, de forma semelhante ao movimento do antigo peão (quem lembra dele na infância?), provocando mil imagens. Minha filha Maria Clara e a amiguinha Giovana, ambas de 11 anos (foto), adoram brincar no play com esses novos brinquedinhos, que só dividem a atenção com o celular. Dizem que ele tem efeito terapêutico, ajudando a relaxar. Será mesmo? Existe então alguma ‘contra-indicação’?

Clarinha, minha filha, com a amiguinha Giovana: nova mania (Foto: Álbum de Família)
Clarinha, minha filha, com a amiguinha Giovana: nova mania (Foto: Álbum de Família)

Apesar de não ter o selo do Inmetro, o hand spinner é acessível a crianças e adolescentes do Brasil. Além de ser vendido sem o selo de segurança, ganhou status de brinquedo terapêutico por livrar os pequenos da ansiedade, que não é mais uma exclusividade do mundo adulto. Mas muitos pais têm dúvidas sobre a mais nova moda no mundo dos brinquedos. As afirmações sobre seus fins terapêuticos, assim como os riscos de lesões que o brinquedo oferece, também preocupam os especialistas em desenvolvimento infantil. O Blog Vida & Ação ouviu especialistas a respeito do tema. Confiram:

Não há pesquisas que validem seu poder terapêutico

A fonoaudióloga Danielle Damasceno, fundadora do espaço Aprendendo a Brincar na Mesma Roda, no Rio de Janeiro,  comenta que não são encontradas pesquisas que validem a informação de que o spinner possui fins terapêuticos. “Na minha opinião, este brinquedo virou ‘febre’ e ‘a moda do momento’ porque esta informação foi repassada de forma errada, gerando falsas expectativas de cura ou tratamento para ansiedade e/ou outros transtornos”, afirma.

Segundo Danielle, para dizer que é terapêutico, é preciso haver alguma pesquisa que comprove.”O hand spinner nada mais é do que um objeto de plástico que gira entre os dedos e alguns deles são feitos com outros materiais e possuem até luzes piscando para chamar mais atenção”, comenta a especialista.

Clarinha, minha filha, com a amiguinha Giovana: foco e concentração total no brinquedinho (Foto: Álbum de Família)
Clarinha, minha filha, com a amiguinha Giovana: foco e concentração total no brinquedinho (Foto: Álbum de Família)

Apesar disso, ela reconhece qualquer pessoa que brinca com o spinner poderá ter a sensação de prazer e bem estar, aliviando assim as tensões e reduzindo a ansiedade temporariamente. “O motivo desta redução é que a novidade e a necessidade de se fazer manobras diferentes gera sensações de satisfação e alegria. Além disso, quanto maior o treino em qualquer brinquedo, melhor  também será  sua execução e performance, aumentando a sensação de prazer”, explica.

Karina Weinmann, neurologista infantil, cofundadora da NeuroKinder, também reconhece que o spinner pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade. Porém, afirmar que o brinquedo é terapêutico para crianças com  é muito perigoso, uma vez que não há nenhum estudo científico que comprove essa afirmação, podendo gerar expectativas infundadas nos pais.

“Qualquer objeto que desperte o interesse e a motivação da criança irá promover o treinamento do foco atencional, pois a novidade, a satisfação e a superação com as manobras criadas alimentará o sistema de recompensa, liberando neurotransmissores, principalmente a dopamina, psicoestimulante que ativa essas sensações de bem-estar de prazer e alegria. Isso ajuda a aliviar as tensões, atingindo um nível de relaxamento e reduzindo, temporariamente, a ansiedade”, explica a médica.

Brinquedo deve ficar longe da sala de aula

Mas, apesar destes aparentes benefícios, as consequências desta brincadeira não têm sido boas, principalmente quando os alunos estão com o objeto em sala de aula. E o brinquedo não é recomendado para todas as crianças. “A criança com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) pode recorrer a ele em situações muitas vezes inadequadas, como na sala de aula ou em momentos que pode servir como distração e atrapalhar a modulação, tanto da atenção quanto do humor”, afirma Karina.

Clarinha, minha filha, com a amiguinha Giovana: elas dizem que relaxa (Foto: Álbum de Família)
Clarinha, minha filha, com a amiguinha Giovana: elas dizem que relaxa (Foto: Álbum de Família)

Danielle concorda. E explica que o professor precisa que o aluno esteja focado nas atividades em sala e este objeto desvia sua atenção. “É importante dizer que regras de condutas sociais precisam ser respeitadas e todo brinquedo tem hora e local certo para brincar”, explica a fonoaudióloga. ” Como todo brinquedo, deve ser definido tempo e horário para utilizá-lo para que não passe da medida e inverta o efeito proposto pela criadora há 20 anos”, recomenda a neurologista.

Para Danielle, é importante deixar claro que o objeto em si não faz mal algum como qualquer outro se utilizado com limitação de tempo e locais, e de forma funcional. “O seu uso de forma viciante e principalmente o fato de erroneamente ser propagado como terapêutico, isto sim é muito prejudicial. Principalmente porque até hoje não existem estudos que comprovem sua eficácia”, reafirma. “A decisão de comprar ou não o brinquedo é individual, mas é preciso ter em mente que se trata apenas de um brinquedo, nada mais”, conclui Karina.

Em crianças com autismo e hiperatividade funciona?

As duas especialistas discordam de informações veiculadas em redes sociais de que este brinquedo seria terapêutico para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). “Como um brinquedo que apenas estimula visualmente alguém que tem dificuldades de socialização pode ser terapêutico?”, questiona Danielle, especialista em tratamento de crianças e adolescentes com TEA.

Danielle ressalta que a pessoa com autismo precisa de contato com outros, aumento do potencial comunicativo e trabalhos relacionados às habilidades de socialização. “O spinner, o vício por assistir repetidos vídeos em tablets, smartphones ou TV igualmente não colaboram para o aperfeiçoamento das habilidades cognitivas. Trocar um vício deste por outro é transferência de estímulo visual, sem funcionalidade”, comenta.

Já Karina lembra que o tratamento do TDAH é complexo e visa ajudar a criança a desenvolver seu autocontrole, com limites e regras definidas, por pais e professores. O excesso de estímulo externo é prejudicial para quem tem TDAH. “Isso quer dizer que uma criança que leva um brinquedo desses para a sala de aula não vai prestar atenção na matéria, pelo contrário, só vai se distrair ainda mais. Quem tem a hiperatividade, vai ficar ainda mais agitado. O spinner não é bom em nenhum dos casos”, diz a médica.

Fonte: Neurokinder e Aprendendo a Brincar na Mesma Roda, com Redação

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