O caso do torcedor mirim do Santos Anthony Milani, de 7 anos, que precisou remover um olho devido a um câncer ocular infantil recentemente ganhou destaque na mídia ao receber uma prótese personalizada com o escudo do time e viajar com a equipe para encontrar Neymar. A história emocionou o país e mostra como o cuidado com a saúde ocular na infância pode transformar vidas, especialmente quando o diagnóstico é precoce.
O retinoblastoma é o câncer ocular mais comum entre crianças de 0 a 5 anos. É um tumor maligno que se desenvolve na retina, a parte interna dos olhos. pesar de raro e de representar cerca de 4% dos cânceres infantis. Sua incidência global é de aproximadamente um caso para cada 15 mil a 20 mil nascidos vivos, o que representa cerca de 8 mil novos casos por ano no mundo. No Brasil, são registrados aproximadamente 400 casos por ano.
A realização do Teste do Reflexo Vermelho (TRV), conhecido como o teste do olhinho, e as consultas oftalmológicas frequentes na primeira infância podem ajudar no diagnóstico da doença precocemente. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento e acompanhamento dos casos de retinoblastoma, de forma integral e gratuita.
Diagnóstico e o tratamento precoce garantem mais de 90% de chances de cura
Segundo o Ministério da Saúde, quando diagnosticado precocemente e tratado em centros especializados, o índice de cura chega a 90%, muitas vezes com preservação da visão. Por isso, a pasta alerta pais e responsáveis a ficarem atentos aos primeiros sinais da doença. O principal é um reflexo esbranquiçado ou brilhante na pupila, semelhante ao que aparece nos olhos de um gato quando iluminados à noite.
O SUS oferece diagnóstico, tratamento e acompanhamento gratuitos para pacientes com retinoblastoma, com atendimento especializado nos centros de referência. Em caso de suspeita, a criança deve ser encaminhada imediatamente a um desses centros para avaliação e tratamento”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
No Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer (Inca) funciona como um centro de diagnóstico e tratamento do retinoblastoma. O Instituto recebe pacientes de todo o estado, além de outras unidades da federação.
Acompanha também os irmãos dos pacientes devido ao risco aumentado de desenvolvimento da doença em familiares. Já o Hospital Federal dos Servidores do Estado (HSFE) possui um centro de oftalmologia especializado em doenças como catarata, glaucoma e doenças benignas de retina.
9 entre 10 diagnósticos ocorrem antes dos 5 anos
A médica oftalmologista Clarissa Matosinho, chefe da oncologia ocular do Inca, explica que o retinoblastoma é o tumor intraocular maligno mais comum da infância, originado nas células da retina imatura. Em geral, 90% dos diagnósticos ocorrem antes dos 5 anos, sendo metade dos casos antes dos 2 anos de idade. A doença pode se apresentar em um olho, o chamado retinoblastoma unilateral, ou nos dois olhos, retinoblastoma bilateral.
Os sintomas mais comuns do retinoblastoma são a leucocoria, ou “olho de gato”, em que a pupila pode apresentar uma área branca e opaca no contato com o reflexo da luz, sendo visível em fotos tiradas com flash. O efeito ocorre quando a luz incide sobre a superfície do tumor. Esse sinal pode ser percebido em algumas posições do olhar, especialmente à luz artificial, quando a pupila está dilatada.
Outro sintoma que requer atenção é o estrabismo ( desvio ocular). Ainda que a maioria dos casos seja causado por fraqueza nos músculos que controlam o movimento dos olhos, o retinoblastoma também pode ser uma das suas causas. Outros sinais incluem dor nos olhos, sensibilidade à luz e vermelhidão na parte branca do olho, tremor e alteração na posição dos olhos. Em todos esses casos, a recomendação dos médicos é que a criança seja levada ao oftalmologista para a realização de exames completos.
Os principais sinais de apresentação são a leucocoria (reflexo pupilar esbranquiçado) e o estrabismo, podendo também ocorrer baixa acuidade visual, dor ocular, glaucoma secundário ou proptose (“olho saliente”) em fases avançadas. O tratamento varia conforme o estágio da doença e pode incluir quimioterapia sistêmica ou intra-arterial, associada a terapias locais como laser, crioterapia ou braquiterapia”, informa Clarissa Matosinho.
‘Olho branco’ nas crianças após tirar foto pode indicar câncer raro
Além do reflexo branco, sinais de estrabismo ou perda de visão devem servir de alerta para pais e responsáveis
O retinoblastoma é um câncer ocular raro que afeta a retina, geralmente entre 1 e 3 anos de idade, sendo a faixa crítica de acompanhamento de 1 a 4 anos. Por se tratar de uma doença silenciosa, muitas vezes os sinais passam despercebidos, e o diagnóstico só ocorre quando o tumor já está avançado.
O retinoblastoma é difícil de identificar sem exames específicos. Um reflexo branco nas fotos pode ser o primeiro sinal de que algo precisa ser avaliado por um especialista”, afirma Marcello Colombo Barboza, oftalmologista, professor livre-docente em oftalmologia e diretor do Hospital Oftalmológico Visão Laser.
O oftalmologista reforça que pais e tutores devem levar crianças de 1 a 4 anos ao oftalmologista, mesmo sem sintomas aparentes. Somente o exame especializado pode identificar doenças graves como o retinoblastoma em fase inicial.
O tratamento precoce é determinante. Com diagnóstico rápido, o câncer pode ser bloqueado e tratado de forma definitiva, aumentando a chance de cura. Em casos de detecção tardia, a doença pode levar à cegueira e, em situações extremas, ao óbito.
De acordo com o Inca, esse tipo de câncer infantil costuma ser descoberto rapidamente, assim que os cuidadores ou o médico observam algo anormal no olho da criança.
Sinais de alerta que os pais devem observar
- Reflexo branco nas fotos: em vez do reflexo vermelho comum em imagens com flash, os olhos da criança aparecem esbranquiçados, um indício importante de atenção imediata;
- Estrabismo: olho virando para o lado sem que a criança perceba;
- Perda de visão.
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A oftalmologista da Afya Montes Claros, Amanda Barros Picanço, informa que o retinoblastoma é o tumor maligno mais comum na infância e que surge após mutações do gene RB1, responsável por controlar o ciclo celular. “É mais frequente em crianças antes dos 5 anos porque o tumor se origina de células da retina imaturas (retinoblastos), que só existem durante o desenvolvimento precoce do olho. Após essa fase, tais células desaparecem, por isso o risco diminui em crianças mais velhas e adultos”.
A médica também alerta que os principais sinais e sintomas aos quais os pais devem estar atentos incluem a leucocoria, um reflexo branco na pupila e conhecido popularmente como “olho de gato”, além do estrabismo, caracterizado pelo desalinhamento dos olhos.
Nessas condições,podem ocorrer perda ou diminuição da visão em um dos olhos, pupila dilatada que não reage à luz, olho avermelhado, doloroso ou com inflamação sem causa aparente. Em casos mais avançados, pode haver ainda aumento do tamanho do olho”, complementa a especialista.
Importância do diagnóstico precoce
Apesar de ser o tumor maligno mais prevalente em crianças até 5 anos, aproximadamente metade desses casos ainda é diagnosticado tardiamente, o que compromete seriamente as chances de cura. Quando identificado precocemente, o retinoblastoma tem até 90% de chances de cura, segundo o Ministério da Saúde.
Para a oftalmologista da Afya Montes Claros, quando o retinoblastoma é identificado nas fases iniciais, os médicos conseguem atuar de forma menos invasiva e o diagnóstico é realizado por meio de exame oftalmológico com dilatação da pupila, utilizando a oftalmoscopia indireta. Em alguns casos, exames complementares como ultrassonografia ocular, tomografia ou ressonância magnética também são necessários.
O diagnóstico tardio, por outro lado, pode ter um impacto muito negativo. A doença pode se espalhar para além do olho, atingindo o nervo óptico, o cérebro ou até os ossos, o que reduz drasticamente as chances de cura. “Em casos mais avançados, infelizmente, é comum que haja perda total do olho afetado, além de a criança precisar passar por tratamentos mais agressivos, com maior risco de sequelas e comprometimento da qualidade de vida”, alerta a médica.
Dra Amanda esclarece que as opções de tratamento variam de acordo com o estágio do tumor, seu tamanho, localização e se afeta um ou ambos os olhos. Entre as alternativas estão a quimioterapia intraocular ou sistêmica, geralmente usada para reduzir o tumor e permitir a aplicação de terapias locais.
Também podem ser indicadas terapias focais, como a fotocoagulação a laser, crioterapia (congelamento do tumor), termoterapia (uso de calor) e braquiterapia, que utiliza pequenas placas radioativas posicionadas próximas ao tumor.
Em casos mais graves, quando não é possível preservar a visão ou a vida da criança, pode ser necessário recorrer à enucleação, que é a remoção do olho afetado. Além disso, terapias mais recentes, como a imunoterapia e outras abordagens direcionadas, estão em estudo ou já vêm sendo utilizadas em centros especializados”, conclui a especialista.
Agenda Positiva
Mutirão examina 40 crianças com retinoblastoma em hospital federal do Rio
Ação alerta sobre importância do diagnóstico precoce do câncer ocular
Quarenta crianças em tratamento contra o retinoblastoma participaram, nesta terça-feira (30), de um mutirão no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HSFE), que reuniu cerca de 20 médicos, além de enfermeiros, técnicos de enfermagem e equipe de apoio. A iniciativa, em parceria com o Inca, integra o programa Agora Tem Especialistas, do governo federal, que busca reduzir o tempo de espera por consultas, exames e cirurgias.
Ao longo do dia, foram distribuídos materiais informativos sobre o retinoblastoma e avaliação oftalmológica geral, incluindo exames de refração e para medir a pressão intraocular. O mutirão foi realizado pela primeira vez em 2024, oferecendo o cuidado especializado a 25 crianças. O evento é organizado pelos médicos Ian Curi, Clarissa Mattosinho e Nathalia Grigorovski, oncologista pediátrica do INCA especialista em retinoblastoma.
O médico oftalmologista Ian Curi, responsável pelo setor de Oftalmologia Pediátrica do HFSE, destacou a sua importância do mutirão. “Nosso objetivo, além de alertar sobre esse tipo de câncer infantil, é melhorar a qualidade de vida desses pequenos. Esse acompanhamento é muito importante”, disse.
A ação do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro também marca o apoio oficial à campanha “De Olho nos Olhinhos”, criada pelos jornalistas Tiago Leifert e Daiana Garbin, que visa conscientizar a população e a classe médica sobre a importância do diagnóstico precoce de retinoblastoma.
Instituto Visão do Bem distribui óculos de graça pelo SUS
Em São Paulo, o Hospital Visão Laser e seus profissionais são apoiadores da campanha “De Olho Nos Olhinhos”, por meio do Instituto Visão do Bem, que neste ano completou nove anos de atuação. Recentemente, o instituto realizou ações com mais de 600 crianças para oferecer atendimento oftalmológico gratuito na região da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, com equipes multiprofissionais. Em casos elegíveis, houve também distribuição gratuita de óculos de grau com o objetivo de garantir uma visão com mais qualidade.
O Instituto Visão do Bem é reconhecido por sua colaboração com diversas prefeituras e Organizações Não Governamentais ao promover o acesso à saúde ocular para a população em vulnerabilidade em parceria com o Sistema Único de Saúde. Em quase uma década, a entidade já realizou cerca de um milhão de atendimentos, oferecendo consultas, exames e cirurgias, e se consolidou como referência na redução de filas de espera no sistema público de saúde.
Com Assessorias