Em setembro, celebramos os dias internacional (23) e nacional (26) da pessoa surda e a Semana da Língua Brasileira de Sinais (20 a 27). Para tratar as datas com a sensibilidade que merecem, nada melhor que conhecer uma história de superação que começou sem som.

Katelyn de Sousa Marquez só começou a ouvir aos cinco anos de idade. Até então, sua perda auditiva bilateral passava despercebida, até que uma professora notou que a menina não respondia aos chamados em sala de aula. A partir dali, começou uma jornada marcada por barreiras, mas também por descobertas que moldaram sua vocação: transformar a educação de crianças surdas no Brasil.

A infância foi de desafios. Sem acesso a Libras, a língua brasileira de sinais, ela dependia da leitura labial para acompanhar as aulas. “Muitas vezes, os professores davam explicações de costas para a turma. Eu não conseguia entender, me sentia perdida e sofri com reprovações”, relembra.

A virada aconteceu aos 9 anos, quando ingressou em uma instituição referência no ensino bilíngue. Lá, teve contato com a Libras pela primeira vez. “De repente, vi crianças se comunicando em uma língua visual, que até então eu não conhecia. Foi como abrir uma porta para um mundo novo. Fiz amigos, aprendi rápido e finalmente me senti parte de uma comunidade”, conta.

A urgência do acesso precoce a Libras

Katelyn de Sousa Marquez é pedagoga, especialista em Libras – a língua brasileira de sinais – e educação inclusiva (Foto: Divulgação)

Ao mesmo tempo em que ganhava acolhimento, Katelyn passou a perceber um problema estrutural: muitos colegas chegavam tarde demais ao contato com a Libras, muitas vezes só depois dos 7 anos. Esse atraso comprometia o aprendizado do português escrito e falado, além da autoestima.

A infância é a fase mais importante para a aquisição da linguagem. Quando isso é negado, o impacto acompanha o surdo por toda a vida”, explica.

Essa percepção se tornaria a semente de seu propósito profissional. Durante o ensino médio, participou como bolsista de um projeto na Universidade de Brasília, onde produzia vídeos e histórias para sensibilizar a sociedade sobre a importância da Libras.

Do sonho à prática: educadora bilíngue

Determinada a mudar realidades, Katelyn ingressou no curso de Pedagogia. Formada pelo Instituto de Educação e Ensino Superior de Samambaia e pós-graduada em Libras pela Faculdade de Tecnologia Ícone, ela atua desde 2019 na Secretaria de Educação do Distrito Federal, desenvolvendo práticas pedagógicas adaptadas que promovem acessibilidade e aprendizado inclusivo.

Hoje, aos 28 anos, atua no ensino de crianças surdas e também de alunos com múltiplas deficiências, como autismo e transtorno global de desenvolvimento (TGD).  O método que ela usa é pautado na individualidade: “Cada aluno tem seu tempo e sua forma de aprender. O meu papel é mostrar que todo surdo é capaz de crescer, conquistar dignidade e realizar sonhos”.

A trajetória da pedagoga dialoga com um debate atual no Brasil: a necessidade de fortalecer a educação bilíngue em Libras e português, reconhecida em lei, mas ainda desafiada pela falta de políticas públicas consistentes e formação de profissionais.

A Libras não é apenas um recurso, é a chave da inclusão. Quando respeitamos a língua do surdo, abrimos caminho para autonomia, cidadania e futuro”, defende. “O que me move é a certeza de que cada criança surda merece ser compreendida desde cedo. A inclusão começa quando reconhecemos a língua, a cultura e a identidade do surdo“, finaliza a professora.

Leia mais

Estudantes surdos e ouvintes aprendem juntos
Dia do Surdo: falta acesso a direitos e ainda sobra preconceito
Inclusão social: como ampliar o acesso à Libras, a língua brasileira de sinais

Libras: 5 razões para aprender a linguagem de sinais

A Linguagem Brasileira de Sinais é uma forma prática de promover inclusão social e acessibilidade

A barreira na conversação impede a autonomia dos surdos para realizar as mais banais atividades do dia a dia, como ser atendido em um estabelecimento comercial ou pedir uma informação.  Para grande parte dessa comunidade, a forma mais eficaz de se expressar e interagir é a Linguagem Brasileira de Sinais.

Ressaltando a relevância social de difundir o aprendizado de Libras, a professora Isabela Jordão, surda oralizada especialista em ensino de Libras e inglês, responsável pelo curso gratuito de Libras da Kultivi, uma das principais plataformas de ensino online do país, preparou uma lista com 5 razões para estudar a linguagem. Confira:

1. Comunicar-se com mais pessoas: a troca de informações entre os indivíduos é a base dos relacionamentos sociais e proporcionar uma melhor compreensão entre surdos e ouvintes faz com que todos tenham oportunidades menos desiguais de desenvolvimento e acesso a informação.

Aprender Libras torna o indivíduo apto para se comunicar de uma maneira mais inclusiva, acessível e em qualquer lugar, já que uma grande parcela da população surda tem dificuldades em se comunicar e dependem da Libras para se expressar. Além de acabar com o audismo, ou seja, possibilitar que pessoas que tenham menor ou nenhuma capacidade auditiva sejam compreendidas sem a necessidade da fala”, comenta Isabela Jordão.

2. Novas oportunidades de emprego: a graduação em Letras-Libras permite a atuação como TILS – tradutor intérprete ou professor de Libras. É um trabalho bastante requisitado e que exige estudo e dedicação como qualquer outro idioma, já que há variações regionais, gírias e sinais novos.

Uma das atuações do intérprete de Libras é em instituições de educação, pois esses locais têm a obrigatoriedade, prevista em lei, de ser um espaço de inclusão e acessibilidade”, afirma a professora.

3. Destaque profissional: nos últimos anos, o mercado de trabalho tem dado cada vez mais prioridade a profissionais que tenham algo a acrescentar ao ambiente corporativo, ou seja, profissionais que possuam habilidades interpessoais, além da formação acadêmica e conhecimentos técnicos.

O conhecimento em Libras pode dar destaque ao currículo profissional, pois além de ampliar os conhecimentos culturais, garante uma comunicação eficiente com colegas surdos. Isso ganha ainda mais destaque nas áreas de atendimento, recursos humanos, educação, saúde, assistência social e jurídica”, explica a especialista.

4. Diferencial competitivo: qualquer empreendedor, prestador de serviços ou comerciante que possua a habilidade de se comunicar de forma assertiva com o público surdo será prioridade para essa parcela da população.

Saber Libras é também saber se comunicar com pessoas surdas no dia a dia, tornando os ambientes comuns mais inclusivos. Se você possui uma loja ou restaurante, por exemplo, e você se comunica com surdos enquanto seus concorrentes não, você será a única opção acessível para esse público”, argumenta Isabela Jordão.

5. Ampliar as formas de comunicação no dia a dia: além de todas as razões pessoais, profissionais e de inclusão social, aprender Libras possibilita habilidades bem interessantes e até engraçadas na rotina. Por exemplo, é possível conversar em Libras no cinema ou qualquer outro local que exija silêncio.

É possível se comunicar sem gritar, caso esteja em algum lugar com muito barulho. Além de poder sinalizar embaixo da água e sinalizar se sua boca estiver ocupada”, completa a professora.

Como aprender Libras gratuitamente

A Kultivi, uma das principais plataformas de ensino online do país, oferece um curso de Libras completamente online e sem custo. Voltado a surdos e ouvintes, o curso conta com um conteúdo exclusivo desenvolvido em parceria com especialistas na linguagem.

Ministrado pela professora Isabela Jordão, surda oralizada e especialista em ensino de Libras e inglês, o curso conta com 60 aulas disponíveis em vídeo que abordam todas as particularidades da linguagem nacional de sinais.

A abordagem inclui definição, alfabeto, vocabulário específico para cada situação, sinais gramaticais e verbos, expressões faciais e diferenças de região para região além de nomenclaturas adequadas para se referir a comunidade surda e dicas de convivência com pessoas surdas. O conteúdo também inclui certificado de conclusão e material de acompanhamento no formato de e-book.

Com Assessorias

 

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *