Muita gente cresceu ouvindo que a pressão arterial “normal” era de 12 por 8. Mas, afinal, qual é a pressão arterial considerada ideal para não ter riscos? Esse esse patamar já não é considerado ideal e sofreu uma importante redefinição no Brasil. Pela primeira vez, valores de pressão arterial de 12 por 8 passam a ser considerados pré-hipertensão, status que exige atenção médica e mudanças de hábitos.
Atualmente, leituras a partir desse valor são classificadas como pré-hipertensão, o que acende um alerta para a prevenção de doenças cardiovasculares. Acompanhando as novas diretrizes médicas internacionais, a nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025 passa a classificar como pré-hipertensão os valores de pressão arterial entre 120-139 mmHg de sistólica e/ou 80-89 mmHg de diastólica — o tradicional “12 por 8”. Antes, os valores de referência considerados “normais” chegavam aos 13,9 por 8,9.
O documento foi elaborado pelas Sociedades Brasileiras de Cardiologia (SBC), Nefrologia (SBF) e Hipertensão (SBH) e e orientará o diagnóstico e o tratamento da doença em todo o país. Também foram alteradas as metas de tratamento e incorporado o cálculo do escore Prevent às diretrizes, que visa calcular as chances de um evento cardiovascular ser sofrido pelo paciente dentro de dez anos.

Recomenda-se classificar a pré-hipertensão abrangendo valores de pressão arterial sistólica entre 120-139 mmHg ou pressão arterial diastólica entre 80-89 mmHg no consultório, com o objetivo de identificar precocemente indivíduos em risco e incentivar intervenções mais proativas e não medicamentosas para prevenir a progressão para hipertensão arterial”, diz o texto oficial, divulgado nesta quinta-feira (18).

Atualização para fazer medicina baseada em evidências

Nas redes sociais, a Sociedade Brasileira de Cardiologia avaliou o documento como fundamental no sentido de orientar a prática clínica de cardiologistas em todo o país. “Atualização essencial para quem busca fazer medicina baseada em evidências e alinhada às recomendações mais recentes”, postou a entidade.

A Diretriz da Hipertensão Arterial 2025 foi apresentada também durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, que é realizado esta semana em São Paulo, Também foram lançadas durante o congresso outras orientações aos cardiologistas: Diretriz de Síndrome Coronária Crônica, Diretriz de Dislipedemias e Prevenção de Aterosclerose, Diretriz Brasileira de Atendimento da Dor Torácica na Unidade de Emergência, Diretriz de Fibrilação Atrial, Diretriz para tratamento da Obesidade e Prevenção de Doença Cardiovascular,  Posicionamento sobre a Saúde Cardiometabólica ao longo do Ciclo da Mulher.

Os especialistas discutem as inovações em tratamentos, incluindo a aplicação da inteligência artificial na prática clínica, que chegou para acrescentar nos tratamentos e diagnósticos. Temas como saúde cardiovascular da mulher, dos idosos, os novos debates sobre prevenção da hipertensão, prevenção primordial, longevidade, entre outros, também estão em evidência no maior evento do segmento na América Latina, e o terceiro mais importante do mundo, que acontece entre os dias 18 e 20 de setembro, no Anhembi Morumbi..

Até então, tais níveis eram classificados como normais. A mudança acompanha um consenso internacional de 2024 e visa estimular cuidados precoces, que podem incluir desde ajustes no estilo de vida até, em alguns casos, o início do tratamento medicamentoso.

diretriz traz recomendações que vão além do diagnóstico e tratamento: inclui estratégias de saúde pública, prevenção em diferentes faixas etárias, terapias específicas para homens e mulheres, crianças e até pacientes em aleitamento.

Meta de tratamento mais rigorosa

Outro ponto central do documento é a redução da meta de controle da pressão arterial em pacientes já hipertensos. Antes, aceitava-se como satisfatório o valor de até 14 por 9; agora, a meta foi redefinida para 13 por 8, independentemente de idade, sexo ou presença de comorbidades.

A mudança reforça o papel da prevenção como chave para reduzir esse índice e melhorar a saúde cardiovascular da população. A reclassificação tem como objetivo identificar precocemente indivíduos em risco e incentivar intervenções mais proativas e não medicamentosas no intuito de prevenir a progressão do quadro de hipertensão dos pacientes.

A partir de agora, portanto, para que a aferição passe a ser considerada pressão normal, ela precisa ser inferior a 12 por 8. Valores iguais ou superiores a 14 por 9 permanecem sendo considerados quadros de hipertensão em estágios 1, 2 e 3, a depender da aferição feita pelo profissional de saúde em consultório.

Valor normal passa a ser considerado um sinal de alerta

A diretriz também define que, para quem já tem hipertensão, o alvo de tratamento deve ser manter a pressão abaixo de 130/80 mmHg, independentemente da idade ou de outras condições clínicas. Essa atualização coloca o Brasil em sintonia com recomendações internacionais mais recentes, que destacam a importância do diagnóstico e da intervenção precoces.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia, através da sua diretriz lançada agora, vem de forma robusta, embasada em estudos e publicações mundiais, abordar este tema que é extremamente prevalente atualmente na população”, explica Rubens Zenobio Darwich, cardiologista e coordenador do serviço de Cardiologia do ECO Medical Center. “A diretriz inclui desde o diagnóstico, tratamento, estratégias de saúde pública e terapias – em homens, mulheres, crianças, pacientes em aleitamento – de forma clara, para que tenhamos um norte de como deve ser o tratamento de pessoas que sofrem com a hipertensão arterial nos próximos anos”.

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Mitos e verdades em torno da pressão arterial

Segundo Fernanda Weiler, cardiologista do hospital Sírio Libanês e certificada internacionalmente em Medicina do Estilo de Vida, essa mudança não significa que a pessoa esteja doente ou precise iniciar imediatamente o uso de medicamentos.

O que muda é a forma como olhamos para esse número: de um valor considerado normal, ele passa a ser um sinal de alerta. É uma oportunidade para agir de forma preventiva antes que o quadro evolua para hipertensão”, explica

Entre os principais pontos a serem compreendidos, estão os mitos e verdades que cercam a pressão arterial. O mais comum é acreditar que a pressão “12 por 8” significa tranquilidade total. Na prática, esse valor já indica maior risco do que números abaixo de 120/80. Outro equívoco frequente é pensar que o diagnóstico de pré-hipertensão leva, inevitavelmente, ao uso de remédios. De acordo com a Dra. Fernanda, em geral, o primeiro passo é a mudança no estilo de vida.

Alimentação balanceada, prática de exercícios físicos, redução do sal e do estresse, além de sono de qualidade são as primeiras medidas indicadas como tratamento para casos em que a pressão arterial está perto das medidas consideradas aceitáveis. Medicamentos só são considerados em casos de alto risco cardiovascular ou quando, após alguns meses de mudanças comportamentais, os valores permanecem elevados”, diz a especialista.

Também é importante derrubar a ideia de que apenas pessoas mais velhas precisam se preocupar com pressão alta. “A hipertensão pode aparecer em adultos jovens, e prevenir desde cedo é fundamental para reduzir complicações futuras, como infarto, AVC e insuficiência renal”, reforça a cardiologista. Por outro lado, é verdadeiro afirmar que quanto mais cedo se inicia a prevenção, menores os danos a longo prazo.

A Dra. Fernanda Weiler recomenda que todos monitorem regularmente a pressão arterial, sobretudo quem já apresenta valores em torno de 120/80 ou tem histórico familiar. Além disso, hábitos saudáveis devem ser incorporados no dia a dia, não apenas em momentos de doença.

Essa atualização das diretrizes nos proporciona uma janela de ação importante: não esperar o quadro evoluir para hipertensão franca, mas intervir quando ainda é reversível. A pressão ‘12 por 8’ deixa de ser vista como normalizando limítrofe, e passa a ser motivo de atenção — uma mudança que pode salvar vidas”, conclui.

O que é hipertensão arterial

A hipertensão arterial, também conhecida como pressão alta, é uma condição crônica em que os níveis de pressão do sangue nas artérias permanecem elevados de forma persistente. Quando não tratada, pode causar sérios danos ao coração, cérebro, rins e vasos sanguíneos.

Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 36 milhões de brasileiros têm algum grau de hipertensão. Embora 28% dos adultos tenham essa condição, apenas um terço mantém a pressão bem controlada.

O diagnóstico precoce é fundamental para reduzir riscos de doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), além de problemas renais.

Na maioria das vezes, hipertensão é silenciosa e não apresenta sintomas evidentes. Porém, em algumas situações, pode se manifestar por meio de dores de cabeça frequentes, tontura, falta de ar, palpitações, visão embaçada ou até sangramentos nasais espontâneos.

Como esses sinais nem sempre aparecem, a medição regular da pressão arterial é a forma mais segura de identificar o problema e prevenir complicações graves, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal.

Como funciona a nova tabela de referência

É importante lembrar que a hipertensão é uma doença silenciosa, que muitas vezes não apresenta sintomas até causar complicações graves, como infarto ou AVC. Por isso, medir a pressão com frequência e manter um acompanhamento regular é fundamental”, explica Obdulia Linares, cardiologista do dr.consulta.

Ela entende que a classificação da pressão arterial é essencial para identificar riscos e adotar cuidados no dia a dia. Veja como funciona a nova tabela de referência:

  • Normal: abaixo de 12 por 8 (120/80 mmHg)
  • Pré-hipertensão: entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9
  • Hipertensão estágio 1: entre 14 por 9 e 15,9 por 9,9
  • Hipertensão estágio 2: acima de 16 por 10

A pressão baixa, por sua vez, é caracterizada quando os valores estão abaixo de 9 por 6 (90/60 mmHg) e, embora muitas vezes não traga grandes complicações, pode causar tontura, desmaios e falta de energia, merecendo atenção médica.

Quando falamos em pressão, não existe apenas ‘alta’ ou ‘baixa’. Cada resultado pode indicar um estágio diferente da saúde cardiovascular, e quanto antes a pessoa souber interpretar e cuidar, maiores são as chances de prevenção”, reforça a especialista.

Além do acompanhamento médico, algumas medidas simples ajudam a manter a pressão em níveis adequados:

  • Praticar atividade física regularmente;
  • Reduzir o consumo de sal e alimentos ultraprocessados;
  • Evitar excesso de álcool e cigarro;
  • Manter o peso adequado;
  • Gerenciar o estresse e cuidar do sono.

Com Agência Brasil e Assessorias

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