O Dia do Sexo, celebrado em 6 de setembro , data escolhida em alusão à posição “6/9”, surgiu no Brasil como uma iniciativa de uma marca de preservativos para estimular a discussão sobre prazer, cuidado e liberdade. Com o tempo, a data ultrapassou o viés comercial e passou a ganhar força como um marco para quebrar tabus e repensar padrões ligados à vida sexual.

Quando falamos em quebrar tabus, não se trata apenas de rejeitar a monogamia como modelo único de relacionamento ou de aceitar os encontros casuais. O tema vai muito além: envolve questionar padrões de corpo, de desempenho sexual, de identidade de gênero, de orientação sexual e até mesmo de papéis de gênero nas relações íntimas.

Significa entender que não há um único jeito “correto” de viver o sexo e que o prazer precisa estar aliado ao respeito, ao consentimento e à diversidade. E é aqui que entra uma conexão essencial com o Setembro Amarelo, mês voltado à saúde mental.

Uma vida sexual satisfatória, com práticas consensuais e respeitosas, é fator importante para a qualidade da saúde mental. Estudos mostram que pessoas com uma vida sexual saudável apresentam menores níveis de depressão, ansiedade e estresse, além de maior sensação de bem-estar e satisfação com a vida”, diz a psiquiatra Cíntia Sayd, especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Cremesp.

Segundo a médica, o sexo não é apenas uma prática física, mas um mecanismo poderoso de autoconhecimento, conexão e autoestima. Orgasmo, intimidade e desejo compartilham espaço com a liberação de hormônios que reduzem o estresse, melhoram o humor e fortalecem vínculos afetivos. “O diálogo e o respeito são os alicerces indispensáveis para qualquer experiência sexual saudável e gratificante”, reforça Cíntia.

Sexualidade, liberdade e saúde mental

No contexto do Setembro Amarelo, é urgente reforçar que falar de sexo de forma aberta não é luxo: é prevenção em saúde mental. Muitos sofrem em silêncio por acreditarem que não têm “corpo suficiente”, “desempenho adequado” ou “desejos aceitáveis”.

Para a psiquiatra Cíntia Sayd, “falar abertamente sobre sexo cria um ambiente em que a vulnerabilidade é aceitável, facilitando que as pessoas busquem apoio profissional antes que o sofrimento se agrave”. Quebrar tabus sobre sexualidade é, portanto, também um gesto de cuidado coletivo.

Quando aceitamos que corpos e desejos são diversos, construímos relações mais respeitosas e inclusivas. Quando falamos de sexo sem vergonha, criamos redes de apoio. Quando entendemos que prazer e saúde mental caminham juntos, damos um passo importante para reduzir o sofrimento e promover o bem-estar”, finaliza a médica.

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Vozes que quebram padrões

Dentro do Ysos, app voltado para encontros casuais e conexões que desafiam o senso comum, diferentes histórias mostram como a liberdade sexual pode ser transformadora. Ronaldo*, um usuário que prefere manter a identidade preservada, relatou como a relação com o próprio corpo sempre foi atravessada por inseguranças.

Eu sempre fui gordinho e tinha muita vergonha, achava que meu pênis era pequeno e isso me impedia de me sentir seguro. Já recebi comentários cruéis em aplicativos e até no meio liberal, que se diz ‘aberto’, mas também reproduz preconceitos. Mesmo assim, aprendi que o prazer não depende de padrão: já tive experiências incríveis com pessoas que, em tese, não se encaixavam no que eu achava que desejava. Isso me ajudou a desconstruir um pouco essa ideia de corpo ideal, ainda que eu siga em processo”.

Camila Voluptas, também usuária do Ysos, reforça esse ponto a partir da própria vivência:

Eu cresci ouvindo que precisava emagrecer, que meu corpo não era bom o suficiente. Foi dentro do meio liberal que entendi que existem pessoas que adoram corpos como o meu. Passei a me relacionar com quem realmente me deseja, e isso mudou minha autoestima. A diversidade é mágica, porque mostra que sempre existe alguém para quem você é atraente, sexy e desejável”.

Para muitos, encontrar um espaço de acolhimento é a diferença entre viver com vergonha e se libertar.  Segundo a psiquiatra, esses relatos evidenciam que, quando falamos em quebrar padrões, não nos restringimos à estética corporal. É sobre romper preconceitos ligados ao tamanho do pênis, ao peso, à idade, à masculinidade ou feminilidade “esperadas”, às orientações e identidades sexuais e até à rigidez de se encaixar em um modelo monogâmico.

Com informações da Ysos

 

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