Casos de câncer colorretal avançado com metástase – que é quando a doença se espalha para outros órgãos – como o que levou à morte a cantora Preta Gil têm sido cada vez mais comuns e desafiam os oncologistas. “Essa condição caracteriza uma recidiva com metástase, quando são reduzidas as chances de cura”, explica a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). 

Atualmente, o risco de volta do câncer colorretal após remissão é de cerca de 20%. No entanto, os avanços da Oncologia têm possibilitado a redução desta taxa de volta da doença. Um amplo estudo publicado em 2023 na revista científica JAMA Oncology mostra que houve redução de taxas do retorno da doença entre os pacientes diagnosticados com câncer colorretal nos estágios I a III quando se compara ao cenário atual com as taxas de recorrências apresentas no período 2004/2008.

Os dados, tabulados e analisados até 2023, mostraram que – nas últimas duas décadas – as taxas de recorrência caíram para o câncer de cólon (intestino grosso) de 16,3% para 6,8% (pacientes diagnosticados em estágio I), de 21,9% para 11,6% (estágio II) e de 35,3% para 24,6% (estágio III). Para o câncer retal, as quedas foram de 19,9% para 9,5% no estágio I, de 25,8% para 18,4% no estágio II e de 38,7% para 28,8% no estágio III da doença. O trabalho reuniu os dados de 34 mil pacientes.

O presidente da SBCO, Rodrigo Nascimento Pinheiro, explica que o risco de volta da doença é maior quando, antes da remissão, ela apresentava um crescimento acelerado e perfil mais agressivo.

Nesses casos, mesmo após o tratamento inicial, é preciso manter um acompanhamento rigoroso, com exames regulares, pois há maior chance de surgirem novas lesões ou metástases”, explica o especialista. Ele ressalta que, apesar disso, os avanços no tratamento, especialmente nas técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, têm contribuído para reduzir as taxas de recidiva e melhorar a sobrevida dos pacientes.

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Técnicas minimamente invasivas

Além da prevenção e do diagnóstico precoce, é fundamental ampliar o acesso à informação sobre os tratamentos disponíveis para o câncer colorretal.

A cirurgia para o câncer colorretal é o principal tratamento deste tipo de câncer, sobretudo em estágio inicial. A indicação, assim como o objetivo da cirurgia (se curativa ou paliativa), deve ser determinada pelo cirurgião e pela equipe que acompanha cada paciente.

O tratamento consiste na ressecção de tumores no cólon e no reto (ânus). Dependendo do estadiamento (fase em que a doença é diagnosticada), o cirurgião também faz a retirada dos gânglios linfáticos próximos e anastomose (emenda) das duas extremidades livres do intestino.

No cenário de doença mais avançada, quando o câncer penetrou a parede do intestino grosso e disseminou para gânglios linfáticos próximos, a quimioterapia pode ser adotada após a cirurgia. A Radioterapia, por sua vez, não é um tratamento indicado para tumores no intestino, mas sim para casos selecionados de tumor no reto.

No caso específico do câncer de reto, o tipo de cirurgia depende da distância entre o tumor e o ânus e, ainda, da profundidade da lesão na parede retal. Se for necessária a remoção total do reto e do ânus, a pessoa precisará de uma colostomia permanente. Se o médico conseguir deixar uma parte do reto — e o ânus ficar intacto —, a colostomia possivelmente será temporária, até a cicatrização dos tecidos, com a realização de outra cirurgia para religar o reto ao final do intestino grosso.

Na maioria dos casos, o câncer colorretal é tratado principalmente com cirurgia. Poder oferecer as técnicas minimamente invasivas, como laparoscopia e robótica, representará um importante ganho em qualidade de vida para os pacientes”, destaca o cirurgião oncológico.

Vantagens da cirurgia minimamente invasiva

A videolaparoscopia é feita com pequenos furos e a visualização dos órgãos internos ocorre por uma câmera. Diferentemente das cirurgias tradicionais (também conhecidas como cirurgias abertas), que geralmente exigem longos períodos de recuperação no hospital, as técnicas minimamente invasivas permitem que os pacientes se recuperem mais rapidamente (redução de até 35% no tempo) e, muitas vezes, possam voltar às suas atividades normais num prazo menor.

A cirurgia minimamente invasiva geralmente resulta em menos dor pós-operatória, o que melhora significativamente o conforto dos pacientes. Isso também está relacionado à diminuição das complicações pós-cirúrgicas, o que reduz a necessidade de reinternações e procedimentos adicionais, podendo economizar recursos do SUS. Outro ponto importante é a redução das cicatrizes visíveis, o que não apenas contribui para a estética do paciente, mas também pode impactar positivamente em sua autoestima e qualidade de vida.

Outra vantagem é para o sistema de previdência, já que muitos pacientes poderiam retornar mais precocemente ao trabalho, reduzindo os gastos com tempo de afastamento. Em linhas gerais, a atuação do cirurgião oncológico se dá na prevenção, no rastreamento, diagnóstico, estadiamento, tratamento do tumor primário, reconstrução e reabilitação, tratamento paliativo, cirurgia citorredutora e das metástases, gerência de serviços de oncologia e na pesquisa.

Radiologia Intervencionista

Técnicas minimamente invasivas, indicadas inclusive para casos de metástase hepática – quando o tumor atinge o fígado, como os que podem ocorrer neste tipo de tumor – a exemplo do caso de Preta Gil, já estão disponíveis no Brasil com cobertura pelos planos de saúde desde 2024″, esclarece a Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (Sobrice).

A entidade reforça o papel da radiologia intervencionista no cuidado oncológico. A especialidade atua tanto em procedimentos de suporte, como drenagens e controle de dor, quanto em terapias direcionadas ao tumor, como a quimioembolização e a ablação por radiofrequência, com menos impacto ao organismo e boa resposta clínica.

Entenda a jornada de Preta Gil contra o câncer

Diagnosticada em janeiro de 2023, a artista foi operada para retirar o tumor e passou por quimioterapia e radioterapia. Durante o tratamento, teve que enfrentar uma septicemia – que é uma infecção generalizada muito grave, atingindo vários órgãos.

No fim de 2023, a cantora chegou a anunciar que o câncer estava em remissão. Mas no ano seguinte à retirada do tumor, em agosto de 2024, a doença voltou de forma agressiva, atingindo outros órgãos. Após a cirurgia para remoção de novos tumores, o câncer retornou em outras regiões do corpo, levando à retomada de intervenções médicas.

Preta teve que passar por cirurgias invasivas, como a histerectomia total abdominal e a amputação do reto. Em dezembro de 2024, enfrentou uma cirurgia complexa de 20 horas para retirada de novos tumores e passou a conviver com uma colostomia definitiva – aquele procedimento que permite a eliminação das fezes por uma bolsa externa ao corpo.

Em 2024, com o retorno do câncer e o insucesso da nova quimioterapia, a artista optou por buscar tratamentos inovadores fora do país. Ela anunciou que iria participar de um estudo clínico nos Estados Unidos sobre uma nova terapia contra o câncer colorretal na fase de metástase hepática – quando o tumor atinge o fígado.

Ela estava hospedada em Nova York e viajava até a cidade de Washington para receber o tratamento em um centro médico especializado. Mas, infelizmente, não foi possível controlar mais o avanço da doença. Ela morreu no último domingo (20) e seu corpo será velado no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (25/7), de onde seguirá para sepultamento em Salvador (BA).

Com Assessorias

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