Cuidar da voz nem sempre é algo que as pessoas se preocupam. Aquela sensação de arranhado na garganta ou pigarro, muitas vezes, passa despercebida. E os motivos podem ser diversos: uma inflamação ou infecção, cigarro, poluição, alergia e até câncer. Mas você sabia que até o uso de medicamentos pode afetar as cordas vocais?

Um probleminha corriqueiro, se não for avaliado e tratado da forma adequada, pode se agravar. Pra quem é profissional da voz, então, isso pode ser um grande inconveniente diário e permanente. Foi o que aconteceu com o cantor Bruno Gouveia da banda de rock Biquíni Cavadão. O músico conta que, antes da pandemia, o grupo, que possui 36 anos de história, chegava a fazer de dois a quatro shows num fim de semana.

É um ritmo muito intenso que exige uma condição de atleta da voz para poder realmente realizar todos os shows. Você não dorme, não come direito e se sacrifica muito nessa correria toda. Teve um momento na minha vida que isso foi tão intenso que, por várias vezes, procurei um médico para resolver rapidamente o problema porque não dava pra ficar quieto com a minha voz por sete dias. Eles naturalmente me recomendaram corticoides e vários outros medicamentos. Tudo bem por aí, sem problemas, até o momento que eu achei que já não precisava ir mais lá (no médico) para falar sobre nenhum problema e eu mesmo me automedicava”, afirmou Bruno Gouveia.

O resultado foi que o músico ficou dependente dos medicamentos para manter a voz plena. E com a orientação de uma fonoaudióloga conseguiu buscar soluções não farmacológicas para manter a saúde vocal. “As pessoas não têm ideia do que o corticoide causa. Hoje meu fígado está comprometido por conta de remédios. Hoje eu me trato com o hepatologista por causa dos corticoides que foram sendo tomados ao longo de tantos anos. Eu tenho uma série de problemas hoje até mesmo com o próprio corticoide. Quando é necessário usar, o meu corpo não responde da mesma forma. E eu recomendo a todo mundo que usa a voz profissionalmente, para se aconselhar muito com o médico e nunca se automedicar.  De remédio pra veneno é só virar uma chave”, revela o cantor.

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) tem defendido fortemente a orientação sobre os riscos da automedicação e o uso indiscriminado de medicamentos, como aconteceu com o músico da banda Biquini Cavadão.  As cordas vocais são pregas mucosas flexíveis localizadas na laringe e compostas por músculo e ligamento. A passagem do ar por estas pregas produz vibração e dá origem a voz. Muitos medicamentos podem ocasionar danos às pregas vocais de modo direto ou indireto. É o que explica a farmacêutica Alessandra Russo, da Coordenação Técnica e Científica do CFF.

Alguns medicamentos tornam a saliva mais viscosa, outros diminuem a produção de saliva, o que interfere na lubrificação e hidratação das pregas vocais e irá interferir na qualidade da produção da voz. Temos como exemplos, os corticoesteroides de uso tópico, administrados por meio de dispositivos inalatórios para o tratamento da asma. Medicamentos anticolinérgicos utilizados para o tratamento da doença de Parkinson, incontinência urinária, anti-histamínicos para tosse, os broncodilatadores utilizados para o tratamento da asma. Os medicamentos simpaticomiméticos diminuem a produção de saliva. Temos, como exemplo, aqueles utilizados para a congestão nasal, como a pseudoefedrina”.

Alessandra também cita como um caso preocupante o que ocorre com mulheres que utilizam esteroides anabolizantes para aumento de massa muscular. Já que o uso destes medicamentos ocasiona a virilização da voz feminina, com mudança do seu timbre, quadro que não se resolve nem com a interrupção do uso do medicamento.

Outros fármacos também possuem efeitos indesejáveis. A especialista explica que fazer repouso vocal ajuda. Ela explica que ficar sem usar a voz o máximo de tempo que puder, vibrando a língua a cada hora para ir drenando as cordas vocais é um bom exercício. E, é claro, procurar especialistas da área da saúde para fazer esse acompanhamento.

Isto mostra a grande importância do farmacêutico se engajar em ações de prevenção e promoção da saúde vocal, principalmente, no que diz respeito a orientação sobre o uso de medicamentos que possam ocasionar danos diretos ou indiretos à voz, bem como para informar sobre os graves riscos da automedicação.

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