Os blocos já começam a ocupar as ruas das cidades para a chegada do Carnaval. Blocos, desfiles e festas fazem parte da cultura nacional e, com eles, cresce também a ingestão de álcool. Este é um dos períodos do ano com maior consumo de bebidas alcoólicas no Brasil. No entanto, esse hábito pode trazer consequências sérias para a saúde e segurança pública.

Durante o verão e o Carnaval, o abuso de álcool e drogas ilícitas se torna um problema recorrente. O clima quente e a animação da festa muitas vezes levam as pessoas a ingerirem grandes quantidades de substâncias, sem considerar os riscos à saúde.

No Brasil, segundo o relatório Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2024, há um aumento expressivo nos casos de intoxicação alcoólica e atendimentos de emergência durante o período carnavalesco.

O consumo de álcool e drogas psicoativas representa um grave problema de saúde pública, com consequências devastadoras para indivíduos e para a sociedade como um todo.  O uso abusivo dessas substâncias pode levar a quadros de overdose e intoxicações severas, exigindo intervenção médica e hospitalar. Além disso, o consumo excessivo de álcool e drogas está associado a acidentes de trânsito, comportamentos de risco e maior vulnerabilidade a crimes e abusos.

Misturas perigosas, falsificações e desidratação aumentam os riscos

De acordo com Alvaro Pulchinelli Jr., médico toxicologista, patologista clínico e presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), a mistura de diferentes drogas pode ser ainda mais perigosa.

O efeito principal será determinado pela substância consumida em maior quantidade ou para a qual o indivíduo tem maior sensibilidade”, destaca o especialista.

Por exemplo, a combinação de cocaína (estimulante) com fentanil (depressor do sistema nervoso central) pode gerar efeitos imprevisíveis, incluindo paradas respiratórias. Já a combinação de maconha, crack ou cocaína com álcool potencializa os efeitos das drogas, podendo aumentar a toxicidade e os riscos de overdose.

Bebidas falsificadas são um perigo silencioso

As bebidas falsificadas são outro perigo, porém mais silencioso. O crime organizado tem investido na falsificação de bebidas alcoólicas no Brasil, tornando esse um risco real para os foliões. Uísques, vodcas e até cervejas falsificadas podem conter substâncias altamente tóxicas, como metanol e etilenoglicol, usadas na adulteração para baratear os custos de produção. “Esse é um risco silencioso porque a pessoa não percebe que está consumindo uma bebida falsificada, pois o gosto é praticamente idêntico ao da original”, alerta Pulchinelli Jr.

Segundo o médico da SBPC/ML, os danos ao organismo podem ser graves. “O metanol, por exemplo, pode causar desde um quadro de embriaguez até coma e cegueira irreversível. Já o etileno-glicol pode levar à insuficiência renal e até à morte”, explica o toxicologista, acrescentando que é essencial que as pessoas só consumam bebidas de procedência confiável, evitando produtos vendidos de forma clandestina ou em locais suspeitos.

Além disso, há ainda a combinação do calor mais o consumo excessivo de álcool que é uma combinação também perigosa. “O álcool inibe um hormônio chamado antidiurético, levando à desidratação pelo aumento da produção de urina. Quando somamos isso às altas temperaturas e ao suor excessivo, temos um risco ainda maior de desidratação severa”, ressalta Pulchinelli Jr. A desidratação pode causar tonturas, confusão mental, queda de pressão e até desmaios, agravando o risco de acidentes.

E para minimizar esses riscos, o especialista recomenda intercalar o consumo de álcool com água ou sucos naturais e evitar bebidas energéticas, que podem sobrecarregar ainda mais o organismo. “Manter uma alimentação equilibrada pode ajudar a metabolizar melhor as substâncias ingeridas”, acrescenta o especialista da SBPC/ML.

Pulchinelli Jr explica ainda que se alguém apresentar sinais de intoxicação por álcool ou drogas, como inconsciência, convulsões, sudorese intensa ou dificuldade para respirar, é fundamental buscar socorro médico imediatamente.

Nesses casos, a pessoa deve ser mantida deitada, com a cabeça virada para o lado, para evitar a aspiração de vômito. Não se deve oferecer café, água ou qualquer outro líquido, pois isso pode agravar a situação”, orienta.

Ainda segundo o especialista, no Carnaval, a folia pode ser intensa, mas a segurança deve vir em primeiro lugar. “Consumir bebidas de procedência confiável, evitar misturar substâncias e manter-se hidratado são medidas essenciais para aproveitar a folia sem colocar a saúde em risco”, alerta.

Álcool e energéticos: uma combinação perigosa

O consumo de bebidas energéticas para aproveitar toda a programação, por vezes, também associado ao álcool, merece atenção sobre as consequências para o coração. O consumo de bebidas energéticas em combinação com álcool tem se tornado cada vez mais comum, mas pode ser extremamente perigoso, pois os energéticos mascaram os efeitos do álcool, fazendo a pessoa se sentir menos embriagada e aumentando o risco de consumo excessivo.

A combinação também sobrecarrega o coração, podendo causar arritmias e aumento da pressão arterial. Como são bebidas diuréticas, podem agravar a perda de líquidos do corpo. Daniel Setta, coordenador da Linha de Cuidado de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) do Hospital Pró-Cardíaco, alerta a população sobre o tema que pode impactar diretamente na saúde cardiovascular.

De acordo com o especialista, algumas arritmias cardíacas podem ser ocasionadas pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas somadas aos energéticos. Pessoas portadoras de cardiopatias, por exemplo, apresentam riscos ainda mais elevados. Essa combinação também pode causar aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial.

Uma latinha contém, em média, 70 mg de cafeína, o que equivale entre três e quatro xícaras de café. Associada a outros componentes das bebidas, levam a liberação de adrenalina e noradrenalina, que propiciam o aumento não só da frequência cardíaca e da pressão arterial, como também podem causar espasmo dos vasos sanguíneos do coração, resultando em um infarto agudo do miocárdio”, explica o médico.

O especialista aponta, ainda, que algumas pessoas podem ser portadoras de problemas cardíacos silenciosos, ou seja, ainda não diagnosticados, estando sob maior risco desses eventos indesejáveis. Indivíduos com mais de 35 anos, com fatores de risco para doenças cardiovasculares como hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado, sedentarismo ou tabagismo, apresentam risco ainda mais elevado.

álcool em exagero pode levar a diversos problemas. Quando misturado à energéticos e outras substâncias. Seus riscos podem causar desidratação, alterações do comportamento, tonturas, vertigens, coma, arritmias e descompensação de doenças cardiovasculares, levando à quadros extremos como infarto e insuficiência cardíaca.

A recomendação é que a diversão e a folia sejam pautadas por práticas saudáveis. Hidratação correta, diante das altas temperaturas, intervalos para uma alimentação balanceada e, no caso de qualquer sintoma, a busca por atendimento médico imediatamente. Assim, há mais segurança de que a alegria não vai se transformar em preocupação”, finaliza.

Com Assessorias

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