A cobertura vacinal contra mpox (anteriormente chamada de varíola dos macacos) entre pessoas vivendo com HIV no Brasil é de apenas 18,3%. É o que mostra levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) que avaliou a vacinação desta população em todas as regiões do país. Os resultados foram publicados nesta sexta (25) na “Revista Brasileira de Enfermagem”.
Segundo o artigo, a Região Sul é a que menos vacinou sua população com HIV no intervalo estudado, sendo Santa Catarina o estado mais crítico. Enquanto o Sul do país tem a menor cobertura, a Região Sudeste tem mais pessoas vacinadas, mas com discrepâncias entre os estados. No Nordeste, a situação é de extremos: Pernambuco tem 22,7% da população com HIV vacinada e o Rio Grande do Norte, zero. Na análise entre gêneros, em todas as regiões os homens de todas as faixas etárias se vacinaram mais do que as mulheres.
O trabalho faz parte da pesquisa de mestrado da enfermeira Núbia Tavares. A cientista usou dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde sobre cobertura vacinal contra mpox entre pessoas com HIV. A vacina foi introduzida no sistema de saúde em março de 2023 e a coleta de dados foi feita no mês de abril do mesmo ano. Tavares organizou as informações por regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul), por estados, por faixa etária e por gênero.
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Até a data analisada, 2.978 doses da vacina contra mpox foram administradas na população com HIV em todo o Brasil, o que corresponde a uma cobertura vacinal de 18,3%. Na região Sul, há apenas 3,5% de vacinados, enquanto no Sudeste são 32,8%, cerca de um terço da população. O Rio de Janeiro e São Paulo são os estados que mais vacinaram na região, enquanto o Espírito Santo não vacinou ninguém.
Os extremos em cada região acontecem também no Nordeste, onde Pernambuco tem 22,7% da população com HIV vacinada e o Rio Grande do Norte, zero, e no Centro-Oeste, com Mato Grosso zerado em doses de vacina aplicadas e o Distrito Federal com 23,7% de vacinados. No Sul, região mais crítica, Santa Catarina tem apenas 0,9% de vacinados, enquanto o Paraná tem 6,1% e o Rio Grande do Sul, 3,5%.
Existe uma dificuldade de levar os homens para as unidades de saúde, as mulheres frequentam mais do que os homens, de maneira geral, então ficou uma incógnita para nós o porquê dessa diferença”, comenta a professora da Escola de Enfermagem da UFAL Amuzza Santos, orientadora de Tavares.
Outro ponto importante da análise foi a completude do esquema vacinal. “Para uma resposta imunológica eficiente, é preciso tomar duas doses da vacina, mas a maioria tomou apenas uma”, aponta Tavares.
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Falta de informações sobre vacinas pode influenciar
A enfermeira não pesquisou os motivos para a baixa cobertura vacinal entre a população vivendo com HIV, mas a falta de informações sobre as vacinas, o medo dos efeitos colaterais e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde podem ser alguns fatores que influenciam a baixa procura pelo imunizante. “Cada unidade da federação precisa olhar para o seu público para entender o que está acontecendo”, afirma Tavares, sinalizando a necessidade de mais estudos nesta área.
Para as pesquisadoras, outro fator importante a ser considerado é o contexto do aumento da repercussão de fake news sobre vacinas e o crescimento do movimento antivacina desde o início da pandemia de covid-19. “As pessoas com HIV são mais vulneráveis às formas mais graves da doença e, nos últimos anos, podem ter ficado receosas de tomar vacina. O imunizante não impede que a pessoa pegue a doença, mas protege de sua gravidade”, completa Tavares.
Fonte: Agência Bori, com Redação