O acidente doméstico com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 78 anos, que teve um traumatismo craniano ao sofrer uma queda no banheiro, onde mora, traz à tona um problema recorrente entre pessoas idosas. De acordo com o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), a estimativa entre os idosos com 80 anos ou mais, é que 40% sofram ao menos uma queda a cada ano. Em julho de 2023, o ex-presidente José Sarney, na época com 93 anos, também teve uma queda em casa e precisou ficar internado.
Além disso, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente, cerca de um milhão de idosos no mundo fraturam o fêmur, sendo 600 mil somente no Brasil. E 90% destes casos são causados por quedas. De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2013 e 2022, o número de mortes por quedas de idosos mais que dobrou, saltando de 4.816 para 9.592 óbitos. Esses acidentes já são considerados a terceira maior causa de mortalidade entre pessoas acima de 65 anos.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, 70% das quedas em idosos acontecem dentro de casa. Por isso, neste mês dedicado às pessoas idosas, adaptar os espaços domésticos para garantir a segurança da terceira idade se tornou uma questão urgente, em um país onde o envelhecimento da população cresce de forma acelerada. O banheiro é um dos locais mais críticos quando o assunto é risco de queda.
Segundo a fisioterapeuta Caroline Saladini, especialista em gerontologia e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), pessoas idosas mais ativas e com mobilidade reduzida são mais suscetíveis ao risco de queda, sendo a mais comum no banheiro. Além disso, ela comenta os principais motivos, pelo qual as quedas ocorrem:
Alterações próprias do indivíduo – como condições de saúde não controladas, fraqueza muscular, alterações de equilíbrio, diminuição da acuidade visual ou auditivo, queixa de dor; alterações ambientais, como superfície escorregadia ou irregular, pouca luminosidade, objetos soltos pela casa, móveis baixos e alterações comportamentais – quando a pessoa se coloca em risco ao andar de meias, usar escadas sem apoio no corrimão ou subir em bancos”.
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Revisão sensorial completa
A geriatra Natália Sardinha, que atua no Pronto-Socorro do Hospital Estadual de Trindade – Walda Ferreira dos Santos (Hetrin), unidade de saúde do governo de Goiás, alerta que as quedas podem resultar em perda de independência, o que muitas vezes leva o idoso a desenvolver quadros de depressão.
Além disso, podem ser indício de alguma doença. Ela enfatiza a importância de buscar orientação médica, mesmo que o idoso não apresente ferimentos aparentes, para garantir uma investigação adequada.
A revisão é uma etapa crucial. “É importante realizar uma Revisão Sensorial completa, que inclui avaliar a visão, ajustar o grau dos óculos, avaliar a audição, o equilíbrio (sistema labiríntico), além de revisar o sistema osteomuscular, para tratar a perda muscular e checar a necessidade de vitaminas.
Uma revisão neurológica também é importante, já que a redução da cognição aumenta o risco de quedas”, explica a médica. Essas medidas ajudam a melhorar a qualidade de vida dos idosos e prevenir acidentes.
Outro ponto importante, segundo a médica, é a síndrome pós-queda. Muitos idosos, após uma queda, tornam-se cada vez mais inativos, e a família, por medo de novos acidentes, acaba reforçando essa imobilidade. “É fundamental continuar estimulando a movimentação para evitar a síndrome da fragilidade e da imobilidade”, conclui a geriatra.
O episódio alerta para dois principais tipos de aspectos que ocasionam quedas em pessoas idosas. Assunto comum na geriatria, as quedas de idosos acontecem por fatores intrínsecos e, também, por fatores extrínsecos, que são modificáveis e podem ser evitáveis com alguns cuidados importantes.
Vamos começar pelos fatores intrínsecos que são doenças como sarcopenia (perda de força muscular); osteoporose (ossos mais frágeis); diminuição da audição, da visão, confusão mental ou então efeitos de medicamentos, quando a pessoa toma e pode sentir tontura ou mal estar geral. Nesses casos, é importante cuidar de perto das questões que afetam a saúde.
Já os fatores extrínsecos, ou externos, que são as condições principalmente no ambiente doméstico, uma ação simples que evita acidentes é a retirada dos tapetes. Os idosos têm um carinho especial pelos tapetes, mas a verdade é que estão entre os maiores causadores de quedas.
É preciso ter muito cuidado com as escadas: devem estar bem iluminadas e terem apoio. Objetos e móveis que ficam pelo caminho devem ser retirados, pois podem surpreender o idoso e ocasionarem acidentes. Netos em casa são motivos de alegria para qualquer avô e avó, mas é muito comum, na presença deles, brinquedos e outros objetos ficarem espalhados pelo caminho. Atenção redobrada.
Banheiro é um local perigoso, pois o piso pode ficar escorregadio. Recomendamos as barras de apoio ou corrimãos, para garantir maior segurança ao idoso, no box e ao lado do vaso sanitário.
Ao cuidar dos fatores intrínsecos e extrínsecos, podemos prevenir situações de alta gravidade, como o ferimento corto-contuso sofrido pelo presidente Lula. A prevenção é a melhor alternativa para que os idosos tenham uma boa qualidade de vida.
Dicas para um ambiente mais seguro para os idosos
Ao longo do envelhecimento, o risco de quedas aumenta significativamente. Diante dessa realidade e com foco no bem-estar da população idosa, especialistas dão orientações para prevenir esses acidentes.
É preciso cuidado com desníveis de piso, escadas, corredores estreitos e móveis mal posicionados. Além disso, atenção a animais de estimação, brinquedos espalhados e à iluminação, que podem afetar a mobilidade. Estar atento aos detalhes faz toda a diferença”, ressalta a Dra. Natalia Sardinha.
Segundo a a fisioterapeuta Caroline Saladini, melhorar a iluminação e deixar o ambiente livre são boas medidas para auxiliar as pessoas idosas, assim como evitar deixar objetos, fios e tapetes soltos pela casa. Também é válido fazer ajustes para facilitar a mobilidade, tal como elevar a altura do vaso sanitário e do sofá, e colocar uma barra de apoio no banheiro.
Um detalhe que faz muita diferença é a altura do vaso sanitário. Vasos com altura entre 45 cm e 50 cm, conhecidos como vasos elevados, são ideais para facilitar o sentar e levantar, exigindo menos esforço físico e reduzindo o risco de desequilíbrio.
Vale destacar que barras de apoio ao lado do vaso, instaladas de forma adequada, são fundamentais para garantir maior segurança e independência”, aponta Rose Chaves, arquiteta e especialista em revestimentos.
Com Assessorias