Assim como o Mês da Obesidade, lembrado em março, o Dia Mundial da Saúde e Nutrição (31 de março) chama a atenção para o aumento de casos dessa enfermidade tanto no Brasil como no mundo.  Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são obesas, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estima que, até 2025, outras 167 milhões de pessoas – adultos e crianças – farão parte deste grupo.

A situação também é preocupante no Brasil. O Atlas Mundial da Obesidade de 2023, publicado pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation), apresenta a projeção de que 41% dos brasileiros adultos serão considerados obesos no Brasil até 2035.

A pandemia do Covid-19 trouxe um alerta sobre a importância da atenção à alimentação saudável. Questões profissionais e emocionais desencadearam desequilíbrios no consumo de alimentos em muitas pessoas, que ainda sentem o impacto.

Somente em 2022, a rede de clínicas Meu Doutor Novamed, do Grupo Bradesco Seguros, registrou um aumento de 28,5 pontos percentuais no índice de pacientes com problemas relacionados à obesidade, que passou de 12,5% para 41% entre o segundo semestre de 2021 e o mesmo período do ano passado.

Pela definição da OMS, a obesidade é caracterizada pelo excesso de gordura corporal, em quantidade que represente prejuízos à saúde. Uma pessoa é considerada obesa quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é maior ou igual a 30 kg/m2 e a faixa de peso normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Os indivíduos que possuem IMC entre 25 e 29,9 kg/m2 são diagnosticados com sobrepeso e já podem ter prejuízos em função do excesso de gordura.

A obesidade reduz a qualidade e a expectativa de vida. É uma doença que está relacionada ao aumento do risco para doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, inflamatórias e cânceres, além de ser um  importante fator de risco para a forma grave e letal da Covid-19.

Entre as doenças mais comuns em pessoas com obesidade estão infarto e AVC – acidente vascular cerebral, diabetes tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, doença do fígado e diversos tipos de câncer (como de cólon, de reto e de mama), além de problemas renais, asma, dores nas articulações, entre outras condições.

Distúrbios alimentares e impactos na saúde física e emocional

Segundo a nutricionista Kassia Oliveira, da Meu Doutor Novamed, nas unidades Méier e Niterói, no Rio de Janeiro, uma dieta equilibrada favorece não apenas o sistema imunológico, como também é essencial para combater os riscos de doenças adjacentes ao sobrepeso.

“É por meio da ingestão de alimentos saudáveis que ofertamos ao organismo nutrientes, vitaminas e minerais necessários para o seu bom funcionamento. E, muito além de manter o corpo vivo, a nutrição tem um papel essencial na prevenção de diversas doenças, como obesidade, diabetes, dislipidemia, hipertensão, doenças cardiovasculares, anemia e várias outras”, explica a especialista.

De acordo com Kassia, problemas de desnutrição podem comprometer o desenvolvimento psicomotor e linguístico, gerar déficit de aprendizado, infertilidade, enfraquecimento do sistema imune e aumento do risco de internação e morte. A especialista ainda ressalta que os distúrbios alimentares podem também impactar a saúde mental dos indivíduos.

“A alimentação não reflete somente na condição física, ela é também de grande impacto para a saúde mental. Existe essa relação, pois o que ingerimos impacta nosso cérebro, cognitivo e estado emocional. Portanto, devemos ter uma dieta com a combinação certa de vitaminas, minerais, óleos e gorduras saudáveis, para ajudar nas nossas funções cerebrais, níveis de energia, memória, além de controlar as emoções”, alerta a nutricionista.

Para Kassia Oliveira, uma refeição balanceada deve ser representada da seguinte forma: “50% do prato deve dispor de um mix de saladas crus ou cozidas, pois elas são ricas em fibras e minerais; 25% devem ser ocupados por fonte de carboidratos como arroz, batata, macarrão; os demais 25% é o local da proteína”.

Nutrição alinhada às expectativas do paciente

As mudanças alimentares devem estar alinhadas às expectativas de cada paciente. A nutricionista Priscila Eduarda, pontua que, entre os protocolos vigentes, estão o encaminhamento para o profissional responsável, além da ingestão de alimentos corretos para a saúde do indivíduo.

“Aqueles alimentos que são mais ricos em fibras trazem mais saciedade ao paciente, como vegetais, hortaliças e frutas com baixa carga glicêmica, além dos farelos e sementes, como linhaça, chia, sementes de abóbora e girassol, bem como as proteínas magras, como carne bovina, peixe e frango”, esclarece a profissional.

Outro ponto, para a profissional, diz respeito às particularidades de cada paciente, uma parte importante durante o tratamento. “A busca pelo check-up, as consultas e os retornos com fins de avaliação da dieta, para que esta se mantenha dentro dos padrões adequados, além dos exames bioquímicos feitos em laboratório, também são excelentes iniciativas para manter o paciente na rota do tratamento”, pontua.

Prática esportiva é aliada da nutrição

Para que o tratamento tenha eficácia, a nutrição deve ser aliada a uma boa prática esportiva. O fisiologista do esporte Luiz Rocha explica que não existe um tempo ideal para a execução de atividades físicas, mas a continuidade do exercício é um fator para a saúde, assim como a adaptação da rotina do indivíduo.

“Artigos publicados recentemente mostram que a atividade física, de forma isolada, ajuda no controle da pressão arterial por até 18h após o exercício, por exemplo”, acrescenta Dr. Luiz Rocha.

Rocha também avalia que, a depender do peso corporal do indivíduo, alguns terão mais dificuldade em determinados tipos de exercício, enquanto outros terão menos. Porém, além da prática esportiva, uma boa dieta é fundamental para que os resultados apareçam e para que as pretensões do indivíduo sejam realizadas.

Saúde mental e rede de apoio

Segundo a psicóloga Cinthia Melgaço, da clínica Reviv, em Brasília (DF), o paciente precisa a aprender a lidar com novas rotinas, bem como o enfrentamento de situações adversas durante o período de adoecimento, incluindo o acompanhamento de mudanças comportamentais. Outro ponto importante está na rede de apoio, crucial para que o tratamento tenha resultados satisfatórios.

A profissional explica que deve haver uma compreensão tanto do paciente que faz o acompanhamento quanto das pessoas que estão à sua volta para que observem quesitos como autocobrança e pressão da sociedade, em geral. Outros pontos como a dificuldade nos relacionamentos sociais e a implementação de estratégias ajudam o paciente na mudança do estilo de vida.

“A mudança de hábitos serve para a vida inteira, pois precisa de constância e persistência. É importante o paciente compreender que nada acontece de uma hora para outra”, pondera Cinthia.

Como construir hábitos alimentares saudáveis de forma consciente

Tendo em vista a saúde como bem maior e a importância dos cuidados a longo prazo, a construção de novos hábitos alimentares podem reforçar a imunidade, a força física e o bem-estar emocional. Para traçar essa nova jornada, a nutricionista Kassia Oliveira traz sete dicas para a construção de novos hábitos alimentares:

  1. Autoconhecimento – Ter consciência sobre o porquê da mudança. Muitas vezes, as pessoas não mudam os hábitos porque não veem importância real nos novos comportamentos.
  2. Definir seu objetivo/ motivação – Ter um motivo verdadeiro ajuda a ter mais determinação. É importante traçar objetivos e ir avançando em pequenas etapas. Quanto maior o foco, melhor será o próprio resultado.
  3. Criar uma rotina realista – Faça uma transição gradual. Mudanças drásticas ou extremamente restritivas geram compulsão, alterações de humor e até mesmo desistência. O ideal é diminuir hábitos negativos e aumentar os positivos.
  4. Disciplina e Constância – Criar hábitos alimentares não é sinônimo de nunca mais consumir alimentos fora da rotina mais saudável, mas é preciso manter a disciplina e não utilizar esse escape como gatilho para outros.
  5. Saber diferenciar fome fisiológica de fome emocional – A fome fisiológica tem sintomas físicos e é marcada pela falta de energia. A fome emocional é caracterizada pela vontade de ingerir um determinado alimento, podendo ter relação com ansiedade ou depressão. É importante reconhecer se há um gatilho emocional levando a esse consumo impulsivo.
  6. Buscar um nutricionista – O contato com o profissional é importante para evitar dietas restritivas que possam gerar danos para a saúde fisiológica ou mental. O nutricionista auxiliará a montar o melhor plano para os seus novos hábitos alimentares.
  7. Acompanhamento multidisciplinar – A especialista destaca ainda a importância do atendimento individualizado do paciente, com apoio de uma equipe multidisciplinar, que pode ser composta por médico de família, nutricionista e psicólogo, contribuindo para a jornada de emagrecimento.

Equipe multidisciplinar ajuda na jornada contra a obesidade

O médico José Ribas, da clínica Reviv, em Brasília, fala sobre o tratamento dos quadros de obesidade (Foto: Divulgação)

Para José Ribas, da clínica Reviv, em Brasília (DF), uma equipe multidisciplinar pode ser decisiva entre o paciente seguir ou não o tratamento contra a obesidade. A presença de profissionais de saúde de diferentes especialidades em todas as etapas do processo de perda de peso do paciente não tem apenas o intuito de contribuir no emagrecimento, mas também prestar toda a assistência pós-tratamento.

“A avaliação do paciente como um todo, em exames laboratoriais e de imagens, é fundamental para a identificação de distúrbios e alterações hormonais, por exemplo. Essa avaliação dos dados clínicos do paciente é necessária para que se possa provocar um equilíbrio fisiológico e um emagrecimento satisfatório”, afirma o Dr Ribas.

Ele ressalta que o efeito contrário também pode acontecer, ou seja, o paciente fugir das recomendações prescritas pela equipe médica. Entretanto, essa condicionante depende do comprometimento individual para que o tratamento obtenha sucesso. “Cabe lembrar que, de nada adianta uma equipe multidisciplinar complexa, se o paciente não se comprometer a seguir as orientações adequadas”, pontua o profissional.

Obesidade em números

No Brasil, a situação também é crítica. Em 2021, a prevalência do sobrepeso e obesidade voltaram a crescer no Brasil. Os dados da pesquisa Vigitel Brasil 2021 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), realizada pelo Ministério da Saúde, mostraram que quase seis em cada dez brasileiros (57,25%) estavam com sobrepeso.

O índice representou uma oscilação negativa pequena em relação a 2020, quando ficou em 57,5%. Antes da pandemia, em 2019, a taxa era menor, de 55,4%. O Vigitel 2021 mostrou que 22,4% da população com mais de 18 anos está obesa. O excesso de peso também aumentou, correspondendo a 57,2% da população.

Dados divulgados pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) em 2020 indicam que, atualmente, mais da metade dos adultos apresenta excesso de peso (60,3%), o que representa 96 milhões de pessoas, com prevalência maior no público feminino (62,6%), enquanto, no masculino, a incidência é de 57,5%. Já quando o assunto é obesidade, a condição atinge 25,9% da população, alcançando 41,2 milhões de adultos.

Em 2020, entre as crianças acompanhadas nos programas de Atenção Primária à Saúde (APS), do Sistema Único de Saúde (SUS), 15,9% dos menores de cinco anos e 31,7% das crianças entre 5 e 9 anos tinham excesso de peso, e, dessas, 7,4% e 15,8%, respectivamente, apresentavam obesidade, segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) para as idades determinadas.

Na faixa dos adolescentes, acompanhados pelos programas de APS em 2020, 31,8% e 11,9% apresentavam excesso de peso e obesidade, respectivamente. Considerando todas as crianças brasileiras menores de 10 anos, estima-se que cerca de 6,4 milhões tenham excesso de peso e 3,1 milhões tenham obesidade. Analisando, ainda, todos os adolescentes brasileiros, estima-se que cerca de 11 milhões tenham excesso de peso e 4,1 milhões tenham obesidade.

Se por um lado, o aumento da obesidade nessa população tem preocupado os médicos, por outro, os transtornos alimentícios entre crianças e adolescentes também merecem atenção. Um estudo publicado em fevereiro de 2023 na revista Jama Pediatrics mostrou que um a cada cinco jovens entre 6 e 18 anos apresentam desordem alimentar, podendo evoluir para bulimia, anorexia nervosa ou transtorno de compulsão. O trabalho aponta ainda que a proporção é maior entre as meninas, chegando a 30%, quase o dobro do índice entre meninos da mesma idade, que é de 17%.

Com Assessorias

 

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