Recentemente, o governo federal anunciou medidas para restringir o uso do Bolsa Família em apostas online. Estima-se que, em agosto de 2024, os beneficiários do programa tenham gasto cerca de R$ 3 bilhões em plataformas de apostas, o que gerou preocupações.
Para enfrentar essa questão, o governo planeja bloquear aproximadamente dois mil sites de apostas irregulares e impor restrições aos meios de pagamento, com ênfase no controle do uso de recursos do Bolsa Família.
Em um cenário onde as apostas e os jogos de azar ganham cada vez mais espaço no cotidiano dos brasileiros, a questão do endividamento associado aos jogos online é uma preocupação crescente em todo o mundo, especialmente em relação às apostas esportivas e aos cassinos virtuais.
No Brasil, 68% da população participa ativamente de algum tipo de jogo de azar. Entre os apostadores, 53% afirmaram que já gastaram mais do que ganharam em todas as modalidades em que participaram, conforme revelou uma pesquisa inédita realizada pela Hibou Pesquisa e Insights.
Dos entrevistados, 16% já enfrentaram problemas financeiros devido às apostas, com alguns recorrendo a empréstimos de amigos, familiares, bancos e até mesmo agiotas para cobrir as perdas. A pesquisa também revelou que apenas 2% dos apostadores se consideram viciados.
No entanto, a pesquisa da Hibou também aponta preocupações significativas. Embora 91% dos apostadores nunca tenham enfrentado problemas de segurança ou fraude, 16% admitiram ter sofrido dificuldades financeiras devido às apostas, a ponto de venderem bens ou pedirem dinheiro emprestado. Além disso, dois terços dos entrevistados conhecem alguém que já se endividou por causa dos jogos.
Essa realidade reforça a percepção de que, para os não jogadores, o vício é uma preocupação real, com 88% acreditando que jogar vicia, especialmente em jogos como o “tigrinho”, considerado o mais perigoso e que, segundo 56% dos entrevistados, deveria ser proibido.
A maioria ainda prefere a tradicional loteria
Quem nunca sonhou em ganhar na loteria e ficar milionário da noite para o dia? O jogo legalizado pelo governo atrai quase a metade dos apostadores brasileiros. A pesquisa revela que dois dos entrevistados afirmaram participar de jogos de apostas.
A loteria aparece como a escolha mais popular entre os apostadores brasileiros, com 47% dos entrevistados afirmando que jogam nessa modalidade. Em seguida, vêm as rifas (25%), apostas esportivas conhecidas como “bets” (11%), bingo (10%), e o cassino online, com destaque para o jogo “Tigrinho” (8%).
A loteria é uma tradição profundamente enraizada na cultura brasileira. Muitas pessoas veem nela uma oportunidade não apenas de ganhar dinheiro, mas de sonhar com uma mudança de vida. Aqui o brasileiro almeja grandes prêmios”, diz Lígia Mello, CSO da Hibou e responsável pela pesquisa.
Conduzida entre 7 e 9 de agosto de 2024, com 2.839 brasileiros de todas as classes sociais, o estudo traz à tona dados sobre as motivações, comportamentos e desafios enfrentados pelos apostadores no Brasil. Os dados sobre o número de pessoas endividadas variam conforme o país e as regulamentações locais.
Curiosamente, dois terços dos participantes jogam com o objetivo principal de ganhar dinheiro, e metade gasta entre 50 e 100 reais mensais, indicando um hábito de apostas relativamente moderado. Além disso, 48% dos jogadores relataram ter ganhos em modalidades como loteria e bingo, com valores sacados que variam entre 100 e 1.000 reais.
É impressionante observar como as apostas permeiam a vida dos brasileiros, seja por diversão, ganho financeiro ou até mesmo pela influência de amigos e familiares. Esse estudo nos ajuda a entender o impacto cultural e econômico que os jogos de aposta têm no país”, afirma Lígia.
Propagandas e Influenciadores
As propagandas desempenham um papel importante no comportamento dos apostadores, com 42% afirmando ver anúncios de jogos de apostas na TV, 33% no Instagram e 19% são impactados por influenciadores. A influência da mídia é particularmente alta, sendo que 19% dos apostadores relataram um nível de influência “alto” das propagandas em suas decisões de apostar.
Bets esportivas e o impacto do patrocínio
As apostas esportivas, conhecidas popularmente como “bets”, têm ganhado espaço no Brasil, com 11% dos apostadores dedicando-se a essa modalidade. Entre os principais fatores que influenciam a escolha da casa de apostas estão a recomendação de amigos e familiares (32%), a reputação da casa (31%) e o fato de a marca ser patrocinadora de seu time de futebol (31%). A pesquisa indica que 71% dos apostadores se sentem mais inclinados a apostar quando o time que torcem é patrocinado por uma marca de apostas.
As apostas esportivas, especialmente aquelas feitas em plataformas de ‘bets’, refletem o quanto o esporte e o entretenimento estão ligados aos desejos pessoais dos brasileiros”, comenta Ligia Mello. “O patrocínio esportivo influencia diretamente o comportamento dos apostadores, mostrando que a confiança e o engajamento emocional com um time têm um papel crucial nas decisões de aposta.”
O Tigrinho: o fenômeno dos cassinos online
Outro dado relevante da pesquisa diz respeito ao jogo “Tigrinho”, que lidera entre as opções de jogos de cassino online, sendo a preferência de 69% dos jogadores desse segmento. Os apostadores que jogam o “Tigrinho” são também os que mais gastam e passam tempo jogando. A maioria (50%) gasta entre R$10 e R$50 por rodada, e 34% investem até entre R$200 e R$500 por mês nessas plataformas.
É curioso como o ‘Tigrinho’ se tornou um fenômeno entre os apostadores de cassinos online. O jogo oferece uma combinação de imediatismo e simplicidade, o que atrai jogadores de diferentes perfis”, destaca Lígia Mello. “No entanto, a falta de entendimento do modelo e a percepção do possível ganho tem colocado o brasileiro em dívidas, pois perde o controle, nesse modelo.”
Além disso, 78% dos jogadores de “Tigrinho” não têm clareza sobre o total que já gastaram nesse tipo de jogo, o que levanta preocupações sobre o controle financeiro e o potencial de vício. O perfil predominante desses jogadores é recreativo (41%), seguido por aqueles que jogam com frequência regular (31%) e os que se consideram estratégicos (21%).
Limites e frequência de apostas
Quando perguntados sobre os limites financeiros mensais para as apostas em geral, 50% dos brasileiros que apostam definem um limite entre R$50 e R$100, enquanto 36% admitiram não ter um limite definido. A frequência de apostas varia, com 42% jogando ocasionalmente, 17% apostando uma ou duas vezes por semana, e 3% relatando que jogam diariamente.
A realidade dos não-apostadores
Entre os 32% dos brasileiros que não participam de jogos de apostas, os principais motivos são a falta de confiança na honestidade dos sistemas de apostas (44%), a falta de dinheiro disponível (30%), e a ausência de exemplos de ganhadores em seu círculo social (25%). Dentre eles, 88% acreditam que esses jogos podem viciar, e 69% consideram os cassinos online como a modalidade mais perigosa nesse aspecto. Além disso, 65% dos não-apostadores conhecem alguém que já se endividou por causa das apostas, sendo que 27% desses problemas financeiros permanecem sem solução.
Perspectivas e regulação
A pesquisa também abordou a percepção dos não-apostadores sobre a regulação dos jogos de apostas. 73% acreditam que as empresas de jogos deveriam pagar mais impostos, e 39% acham que a legalização e regulamentação do jogo traria mais segurança para quem aposta.