No ano passado, 14,2% das crianças brasileiras até cinco anos estavam com excesso de peso. Entre os adolescentes dos 10 aos 18 anos, o número é ainda maior: quase um terço (31,2%) estava com sobrepeso ou obesidade e a tendência de crescimento é ainda maior. Os dados são de levantamento do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância – Fiocruz/Unifase).

O estudo revela ainda elevada disparidade entre os índices de obesidade no Brasil e os padrões internacionais. Na comparação com outros países, o Brasil possui quase três vezes mais crianças com excesso de peso que a média global de 5,6% no resto do mundo. Já em relação aos adolescentes, a situação é ainda mais crítica: o número representa o dobro da média global (18,2%).

O fenômeno já preocupava especialistas desde o início da série, em 2013, mas vem sendo notado com maior aceleração desde a pandemia de Covid-19, quando a necessidade de isolamento social e a mudança de rotina levaram a uma redução na prática de exercícios físicos, o que se refletiu no aumento de peso. Entre 2019 e 2021 (período que engloba a pandemia), o número de crianças até 5 anos com excesso de peso no país cresceu 6,08%. O aumento entre os adolescentes foi ainda maior: de 17,2%.

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Influência dos alimentos ultraprocessados

Apesar de os números continuarem altos, entre as crianças é possível observar uma tendência de queda ao longo dos últimos anos, especialmente após o período de isolamento. O estudo mostra, entre 2021 e 2022, um recuo de 9,5% no número de crianças com excesso de peso. Já entre os adolescentes houve uma pequena queda, de 4,8% apenas, entre 2021 e 2022.

Gráfico mostra evolução do excesso de peso em crianças (0-5 anos) por regiões (Fonte: Observa Infância, Fiocruz/Unifase)

“Acreditamos que os altos números da obesidade infantil no Brasil deve muito à falta de regulação dos alimentos ultraprocessados no país. A partir de outubro de 2023 passa a vigorar plenamente a nova rotulagem frontal dos alimentos industrializados indicando os excessos de sal, gorduras saturadas e açúcares na parte frontal das embalagens”, avalia Cristiano Boccolini, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).

Segundo ele, as crianças são muito suscetíveis a esses produtos e a implementação dessa política terá algum impacto nos números de obesidade a partir deste ano. “Este estudo serve como um chamado à ação para políticas públicas, profissionais de saúde, escolas e famílias para redobrar os esforços na luta contra a obesidade infantil, garantindo um futuro mais saudável para as crianças do Brasil”, alerta o e coordenador do Observa Infância.

“A obesidade infantil e de adolescentes no Brasil ainda é uma grande preocupação de saúde pública. Apesar de observarmos uma queda nos últimos anos, o Brasil ainda possui números acima da média global e da América Latina. Nos anos de pandemia, observamos um aumento nos índices de obesidade infantil possivelmente consequência do aumento no consumo de ultraprocessados durante o período de isolamento”, alerta.

Mais sobre o estudo

De acordo com as análises das séries históricas feitas pelo Observa Infância, as realidades de crianças e adolescentes evoluem de forma distinta. O estudo, inédito, utilizou dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan-WEB), ferramenta de monitoramento de indicadores de saúde e nutrição. A análise foca na evolução dos dados de obesidade em crianças menores de cinco anos e adolescentes entre 10 e 18 anos no Brasil ao longo de um período de 10 anos (2013-2022).

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias, com Redação

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