Mais uma vez, pacientes que procuram perda de peso assistem o protagonismo das ditas canetas emagrecedoras crescer. O papel principal do momento vai para o Mounjaro (tirzepatida), o primo-irmão” do Ozempic (semaglutida), que acabou de ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também para a obesidade, com retenção de receita na hora da compra.
Com previsão de comercialização sob retenção de receita a partir de 26 de junho, a tirzepatida se junta a outros medicamentos da classe GLP-1, como Ozempic e Wegovy, ampliando as opções terapêuticas para pacientes com obesidade e sobrepeso. A novidade representa um avanço significativo no tratamento dessa condição no Brasil, na opinião de especialistas.
Esse fármaco, nome comercial da tirzepatida, tem ganhado popularidade no Brasil como uma nova promessa para a perda de peso rápida, embora sua real atuação seja ligada ao tratamento do diabetes tipo 2. Mesmo assim, provou ser um forte aliado no tratamento contra a obesidade e o público que sofre dessa comorbidade já sabe disso e está atrás de sua eficácia.
Antes mesmo da aprovação pela Anvisa, o medicamento americano virou trend nas redes sociais após celebridades relatarem o uso para o emagrecimento rápido. A droga, produzida pela farmacêutica Eli Lilly e aprovada pela Anvisa em 2023 para tratamento do diabetes tipo 2 no Brasil e mais recentemente também para obesidade, atua de forma semelhante ao Ozempic em casos de diabetes tipo 2, obesidade e sobrepeso.
‘Não é um produto de emagrecimento milagroso’, diz médico
No entanto, especialistas também reforçam um importante alerta: emagrecer com saúde exige mais do que um remédio, exige acompanhamento profissional e mudanças sustentáveis de estilo de vida.
A tirzepatida age imitando hormônios que regulam o apetite e o controle glicêmico, mas pode causar efeitos colaterais como náuseas, vômitos, diarreia e, em casos raros, pancreatite. Não é um produto de emagrecimento milagroso, é um remédio sério com indicações específicas”, afirma o gastroenterologista e cirurgião geral Mauro Lúcio Jácome.
O debate sobre o Monjauro escancara uma realidade preocupante que questiona a medicalização do corpo e a busca por soluções rápidas, muitas vezes sem acompanhamento profissional.
Não digo que o Mounjaro seja ruim, mas seu uso não pode ser discrepante. Até porque, os pacientes ainda não sabem bem do que se trata. O desafio agora é equilibrar o acesso à inovação farmacêutica com responsabilidade e informação de qualidade”, completa o médico.
Alerta para acompanhamento médico e mudanças no estilo de vida
Embora estudos mostrem que o Mounjaro pode reduzir até 22% do peso em cerca de 72 semanas, especialistas advertem que o uso isolado, sem supervisão médica, reeducação alimentar e acompanhamento, tende a levar à frustração ou até a riscos à saúde.
Esses medicamentos são uma ferramenta poderosa, mas não são solução mágica. Sem acompanhamento, o paciente pode perder massa magra, sofrer efeitos colaterais e não manter o resultado no longo prazo”, alerta a endocrinologista Karine Antunes.
A nova norma da Anvisa, que exige a retenção da receita médica, também reforça a responsabilidade dos farmacêuticos na ponta do atendimento.
Essa exigência é fundamental para promover o uso consciente e prevenir a automedicação. São medicamentos com ação ampla no organismo e efeitos intensos, por isso, o uso deve ser sempre acompanhado por uma equipe de profissionais”, afirma a farmacêutica sênior da Voy Lenyta Gomes.
10 perguntas e respostas sobre o Mounjaro
Para entender um pouco melhor desse remédio, Dr. Mauro Lúcio Jácome atende as dez perguntas mais recorrentes acerca do tema e do uso do medicamento. Veja abaixo:
- O que é o Mounjauro?
Mounjauro é o nome comercial da tirzepatida, um medicamento injetável utilizado para tratar diabetes tipo 2. Ele também tem mostrado eficácia significativa na perda de peso.
- Ele funciona mesmo para emagrecimento?
Ele é uma espécie de espelho hormonal. Atua nos receptores dos hormônios GLP-1 e GIP, que ajudam a controlar a glicose no sangue e a reduzir o apetite, promovendo saciedade. Oficialmente, ele é aprovado para o tratamento de diabetes tipo 2, mas tem resultados comprovados para o combate à obesidade e pode sim ser indicado para essa finalidade. Porém, jamais recomendo o uso indiscriminado. É necessário o acompanhamento médico para esse e qualquer outro tratamento.
- Qual o valor da medicação?
Essa é uma pergunta complexa de responder porque o valor de qualquer medicamento pode trafegar de acordo com o estabelecimento, promoções por compra e outros fatores. Porém, se pensarmos numa base, o valor das canetas parte de R$ 1.400,00, com 2,5 mg/ml de solução. Porém, essa caneta com uma quantidade de produto menor é usada quase que exclusividade para o tratamento do diabetes. A caneta eficaz mesmo para o tratamento de obesidade precisa de ao menos 7,5mg/ml, com valores passando de R$ 3.800,00.
- Precisa de receita médica para usar Mounjauro?
Sim. Até pouco tempo atrás, na verdade, ele sequer existia no Brasil. Precisava ser importado. Mas, agora, com sua chegada oficial e autorizada, passou a ser exigida a receita para uso.
- Quais são os principais efeitos colaterais?
Os mais comuns incluem náusea, vômito, diarreia, constipação e redução do apetite. Em alguns casos, pode haver efeitos mais graves, como pancreatite. Por isso a necessidade de sempre ter um médico acompanhando o tratamento. Isso é uma coisa séria.
- Existem tratamentos mais eficazes que o Mounjaro?
Essa é uma pergunta complexa. Tão complexa quanto a anatomia humana. Mas é importante que as pessoas saibam que cada tipo de paciente precisa de um tratamento individual. Não existe padrão. O remédio talvez seja mais eficaz para uma pessoa enquanto para outra seja outro tipo de tratamento. Não é possível confirmar essa questão.
- Como é aplicado o Mounjauro?
Trata-se de uma injeção subcutânea, normalmente aplicada ao lado do umbigo. Esse dispositivo é regulado por cliques giratórios que, de acordo com a proporção, injetam as doses adequadas da substância. Sei que parece complexo, mas não é. É bem simples.
- Monjauro substitui dieta e exercícios?
Jamais. Ele complementa o tratamento. Para melhores resultados, é necessário manter uma alimentação equilibrada e atividade física regular.
- Quanto tempo leva para ver resultados?
Algumas pessoas começam a ver resultados nas primeiras semanas, mas a perda de peso significativa costuma ocorrer após alguns meses de uso contínuo.
- O que acontece se parar de usar Mounjauro?
Muitos pacientes relatam ganho de peso após parar, principalmente se não mantiverem os hábitos saudáveis. Por isso, o acompanhamento médico é essencial durante e após o uso. Todavia, essa demanda é muito recente e não existem tantos exemplos a longo prazo para avaliarmos.
Monjauro: entenda como age o princípio ativo do emagrecedor americano
Inicialmente aprovada no Brasil apenas para o tratamento da diabetes tipo 2, esta medicação, conhecida como tirzepatida, combina análogos do GLP-1 com a molécula GIP em uma única estrutura. Segundo estudos clínicos, esta associação se mostrou superior na perda de peso e controle da glicemia em comparação ao uso isolado de semaglutida.
A endocrinologista Lorena Lima Amato conta que, mesmo antes da aprovação pela Anvisa, o Mounjaro começou a ser utilizado para a perda de peso com base em sua segurança e eficácia, similar ao precedente estabelecido pelo uso off-label do Ozempic para controle de peso. Ela lembra que ZepBound (tirzepatida para o tratamento da obesidade) já era regulamentado nos Estados Unidos.
A escolha entre essas medicações deve considerar a tolerância individual a medicamentos como o Wegovy. Além disso, o Mounjaro pode ser uma alternativa, especialmente quando é necessária uma perda de peso mais significativa ou quando os efeitos colaterais da semaglutida são uma preocupação”, orienta Dra. Lorena Amato.
Especialista em Farmacologia compara benefícios do medicamento e faz recomendações para cada tipo de tratamento
Danilo Avelar, doutor em Farmacologia e professor de Enfermagem do Centro Universitário de Brasília (CEUB), esclarece dúvidas sobre o medicamento, seu princípio ativo e efeitos colaterais.
Qual é o principal mecanismo de ação do Mounjaro (tirzepatida)?
O Mounjaro atua como um análogo do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon) e GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose). Esses hormônios são responsáveis por estimular receptores que aumentam a produção de insulina em resposta à glicose. Além disso, o medicamento retarda o esvaziamento gástrico, prolongando a sensação de saciedade e contribuindo para o controle glicêmico.
Quais são os principais achados clínicos sobre a eficácia do Mounjaro no controle da glicemia e na perda de peso?
Estudos clínicos mostraram que o Mounjaro proporciona melhora substancial no controle da glicemia em indivíduos com diabetes tipo 2 e redução expressiva no peso corporal em pacientes com sobrepeso e obesidade. Isso porque, ao combinar ação sobre o GLP-1 e o GIP, retarda a digestão de carboidratos, resultando em uma sensação prolongada de saciedade. A diminuição significativa na ingestão calórica leva à perda de peso. Comparativamente a outros medicamentos, o Mounjaro se destaca pela eficácia em ambas as áreas.
Existe alguma evidência de que o Mounjaro possa ajudar na prevenção de outras condições além do diabetes tipo 2, como o Alzheimer?
Além de seu papel no controle glicêmico e na redução de peso, há estudos em andamento sobre o potencial do Mounjaro em beneficiar condições como doenças cardiovasculares, metabólicas e neurodegenerativas, como o Alzheimer. A regulação da glicemia e os efeitos positivos sobre o metabolismo celular podem contribuir para esses benefícios adicionais.
Para quais perfis de pacientes o Mounjaro é mais indicado? Quem deve evitar esse medicamento?
O Mounjaro é especialmente indicado para pacientes com diabetes tipo 2 que não alcançaram controle adequado com outras terapias, bem como para indivíduos com sobrepeso e obesidade que buscam uma redução de peso significativa. Gestantes, pessoas com alergia a análogos do GLP-1, indivíduos com histórico de pressão arterial muito baixa e aqueles com tendência a náuseas severas devem evitar o uso do medicamento devido aos possíveis efeitos adversos.
Qual é o regime de administração do Mounjaro e como ele contribui para uma melhor adesão ao tratamento pelos pacientes?
O Mounjaro é administrado por via subcutânea, geralmente em uma dose inicial baixa que é ajustada conforme a resposta do paciente ao tratamento. Esse regime de administração oferece conveniência e flexibilidade aos pacientes, o que pode melhorar significativamente a adesão ao tratamento.
Quais são os efeitos colaterais mais comuns associados ao uso do Mounjaro e como eles podem ser gerenciados?
Os efeitos colaterais mais frequentes incluem distúrbios gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia e desconforto abdominal. Esses sintomas podem ser gerenciados com ajustes na dieta, como aumento na ingestão de fibras e líquidos, além de orientação médica para minimizar o impacto dos efeitos adversos.
Existem precauções específicas que os pacientes devem tomar ao iniciar o tratamento com Mounjaro?
É importante que os pacientes compreendam os potenciais efeitos colaterais do Mounjaro, como distúrbios gastrointestinais e mudanças na pressão arterial. O uso do medicamento deve ser acompanhado de perto por profissionais de saúde, especialmente no ajuste da dosagem inicial e na monitorização contínua dos efeitos terapêuticos e adversos.
Com Assessorias