Se os adultos sofrem com as ondas de calor que vêm atingindo o Brasil, as crianças tendem a ser vítimas mais severas desse fenômeno, com riscos de desidratação e até de queimaduras de sol. Com as temperaturas acima do normal por todo o Brasil, a atenção com a saúde das crianças deve ser redobrada. Desidratação, cansaço, insolação e desconfortos respiratórios são apenas alguns dos problemas que o excesso de calor pode causar.

“O corpo humano tem capacidade de se adaptar às temperaturas e às condições do ambiente, mas quando as mudanças são muito bruscas, principalmente em regiões em que normalmente o calor não é tão frequente, o organismo sente dificuldade de se adaptar. Por isso é preciso tomar alguns cuidados”, explica o pediatra Luiz Renato Valério, do Hospital Pequeno Príncipe.

Segundo ele, como as crianças sentem um pouco mais de dificuldade para tomar água no cotidiano, os pais devem estimular a hidratação de maneira mais frequente, principalmente em dias quentes.

“As crianças devem ingerir principalmente líquidos de boa qualidade como a água filtrada, água de coco e sucos naturais frescos, porque quando deixamos em garrafinhas fora da geladeira ou dentro de uma mochila eles estragam com mais facilidade”, alerta o especialista.

Risco de insolação: como evitar?

Os desconfortos e consequências do calor extremo afetam toda a população, mas tendem a ser mais preocupantes para crianças e idosos. O calor em excesso pode gerar desidratação e insolação, caso a criança fique exposta durante muito tempo ao sol.

“Um dos principais problemas do calor excessivo é a insolação, que pode ser percebida pela alta temperatura corporal (maior que 39 graus), dores de cabeça, náusea, tontura e confusão mental”, destaca Thales Araújo, gerente médico do Pronto- Socorro e Centro de Excelência do Sabará Hospital Infantil.

Para evitar o problema, a pediatra da Care Plus Clinic, Aline Aoki Yassaka, reforça as recomendações para proteger os pequenos nos dias mais quentes. “Sempre que possível, evitar a exposição solar nos períodos mais quentes, geralmente entre 10h e 16h, por exemplo, além de manter a ingestão de líquidos frequentemente, utilizar protetor solar e roupas leves, de preferência com proteção solar, chapéus e óculos escuros”, diz Yassaka.

Segundo a médica, pais devem ficar atentos à hidratação e à diurese – ou seja, quando a criança faz bastante xixi, é um bom indicador de hidratação. Ela  alerta, ainda, para sintomas de insolação.

“Se a criança ficou muito exposta ao sol pode apresentar febre, taquicardia (coração acelerado), dor de cabeça, pele avermelhada, tonturas e até desmaios”, afirma. Nestes casos, os pais devem ficar  atentos a sinais adicionais como confusão mental e sonolência excessiva para procurarem atendimento médico.

Atenção aos sinais de que algo está errado

Anna Bohn, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), indica os cuidados que as famílias precisam intensificar nesses dias com vistas a manter a saúde infantil e compensar os efeitos das ondas de calor.

“Brincadeira ao ar livre é sempre uma das melhores escolhas para as crianças. Entretanto, com altas temperaturas existem riscos à saúde que devem ser observados”, anuncia a médica, ao citar possibilidades como desidratação, insolação, câimbras, fadiga e queimaduras de sol nesses próximos dias.

A especialista ressalta que, além de serem mais suscetíveis, crianças pequenas têm risco maior de eventos graves e intensos. “Apesar dessas medidas, muitas vezes o calor em excesso acaba prejudicando e causando mal-estar”, avisa Dra. Anna. Abaixo, ela indica os pontos de atenção a serem observados e cuidados nas crianças:

  • Sensação de desmaio
  • Cansaço excessivo (sonolência, moleza excessiva e dificuldade em se movimentar)
  • Dor de cabeça (sinal importante de alerta, procure o hospital imediatamente)
  • Febre (sinal importante de alerta, procure o hospital imediatamente)
  • Sede excessiva e mantida
  • Ausência de xixi por mais de 6 horas
  • Náuseas e vômitos
  • Falta de ar e respiração ofegante, mesmo em repouso
  • Espasmos e cãibras musculares
  • Formigamento e sensação de dormência em dedos e mãos

Dicas dos especialistas para a saúde das crianças

Reunimos dicas dos três especialistas para aumentar os cuidados nesta época do ano. Confira:

Mantenha a criança sempre bem hidratada:  Incentive seus filhos a beberem água com frequência e tenha uma garrafa sempre disponível ao sair e ofereça várias vezes ao dia, mesmo que seus filhos não peçam. Para bebês abaixo de 6 meses, ofereça mais vezes o seio materno ou fórmula nestes dias. Outra opção é aumentar a oferta de frutas que tenham bastante água em sua composição, como a melancia, melão, laranja, abacaxi e mamão. Além de auxiliarem na hidratação, elas também fortalecem o sistema imunológico.

– Planeje descansos forçados: O calor costuma aumentar o cansaço, causando irritabilidade com frequência nas crianças. Promova pausas entre as atividades e aproveite para dar água;

– Uso de roupas leves e em pouca quantidade: A criança deve estar confortável, então é importante que os pais evitem tecidos sintéticos e optem por vestir os pequenos com roupas de algodão, com uma camada de material absorvente que maximize a evaporação do suor. Use roupas claras dentro de casa para não absorver muito calor, mas se a criança for ficar exposta ao sol, roupas escuras previnem melhor contra queimaduras;

– Banhos frequentes: Um bom banho fresco é uma ótima alternativa para aliviar o calor. E especialmente nestes dias, mais banhos são muito bem-vindos. O ideal é que crianças pequenas passem pelo chuveiro de maneira rápida três vezes ao dia, com o intuito de refrescar e tirar o suor e resíduos que possam ficar durante a troca das fraldas. Já o banho completo, que leva mais tempo, deve ser dado no fim da tarde ou no início da noite. Uma ótima alternativa são as brincadeiras com água, seja em piscinas, mangueiras ou baldes, para aliviar o calor e podem ser utilizadas sempre, sob supervisão;

– Mantenha os locais bem ventilados: As portas dos cômodos e janelas devem estar sempre bem abertas para que os ambientes fiquem bem ventilados e não tenham aquela sensação de abafado, que pode contribuir para a desidratação;

– Saídas ao ar livre: Se possível, evite levar as crianças para brincar em parquinhos entre 10h e 15h30. Mesmo que as atividades sejam feitas na sombra, há risco para a saúde dos pequenos;

– Evite a exposição ao sol e passe protetor solar: crianças menores de 1 ano de idade devem evitar sair de casa, mas se for necessário precisam permanecer pouco tempo em exposição solar. O mesmo vale para crianças maiores. E, em todos os casos, elas devem utilizar protetor solar com filtro 50. Reforce o uso, caso haja necessidade de se expor em lugares ao ar livre;

– Evite andar de carro: As temperaturas dentro dos veículos podem atingir níveis insuportáveis, e as crianças só devem andar de carro se for muito necessário. Para isso, os pais precisam deixar o ar-condicionado ligado ou garantir uma boa ventilação com os vidros abertos;

– Jamais deixe uma criança no carro sozinha: A temperatura dentro de um carro exposto ao calor sobe rapidamente atingindo níveis possivelmente fatais em poucos minutos, mesmo com as janelas abertas;

– Use repelente: as temperaturas mais altas também proliferam insetos, então é indicado o uso de repelente, seguindo a orientação do pediatra de confiança.

Bebê deve começar a beber água a partir dos 6 meses

O início do verão indica temperaturas intensas e alta umidade, fatores que podem afetar a saúde das crianças, caso não sejam tomados alguns cuidados no dia a dia. De acordo com o pediatra Edson Fayad, consultor da MAM Baby, uma criança bem hidratada fica menos propensa a contrair doenças renais, obstipação e desidratação.

A partir dos 6 meses, quando é iniciada a introdução alimentar, a criança precisa começar a ingerir água. “Estima-se uma ingesta hídrica de 20 ml a cada quilo de peso do bebê. Em dias mais quentes, com maior exposição da criança ao tempo ou aumento das atividades físicas, pode haver um aumento dessa necessidade”, esclarece o pediatra.

Há alguns fatores que podem indicar que o bebê precisa de mais água, um deles é a aparência da boca, que, se estiver seca, indica falta de hidratação. “Normalmente, a orientação para dosar o consumo de água é pela coloração da urina. Se estiver mais escura, deve-se oferecer água mais vezes ao dia. Caso esteja mais clara, não há necessidade do aumento”, explica o médico.

Os pais devem priorizar a hidratação com água. No entanto, após o primeiro ano de vida, é possível inserir, com cautela, opções como chás, sucos de frutas e água de coco (120 ml ao dia).  Como em todo processo de transição nas rotinas dos bebês, é essencial ter produtos que apoiem os pais e facilitem a nova etapa.

Dr. Edson também destaca que, no verão, utilizar um creme com alto poder hidratante auxilia na redução das dermatites. Além disso, é indicado um banho geral ao dia, com uso de sabonete e de curta duração (não deixar a criança brincando na banheira), temperatura da água mais amena e, caso sejam necessários mais banhos, evitar o uso excessivo de sabonete.

Será que a criança está devidamente protegida no sol?

Dezembro Laranja alerta para a importância de conscientizar crianças sobre proteção solar (Foto: © iStock)

Qual a quantidade ideal de protetor para passar nos pequenos? Antes ou depois do repelente? A partir de que idade? Pediatra fala tudo sobre proteção solar em crianças

Se lidar com a pele queimada do sol já é chato quando se é adulto, imagina em crianças pequenas, que nem bem entendem o que aconteceu com a própria pele enquanto brincavam ao ar livre? A partir dos seis meses de idade, protetor solar UVA/UVB, com FPS mínimo de 30, a cada duas horas de exposição solar.

“Antes dos 6 meses, as crianças não devem ser expostas diretamente ao sol com o intuito de obter síntese de vitamina D devido à pele muito sensível, ao grande risco de lesões cutâneas e ao aumento de risco de câncer de pele na fase adulta”, define a pediatra Elisabeth Fernandes, da Sociedade Brasileira de Pediatria.

  • Nessa etapa, os pais devem colocar nas crianças bonés, camisetas com proteção solar e evitar a exposição direta. Dra. Elisabeth reconhece a importância do sol na síntese da vitamina D, mas recomenda que, durante essa fase, seja feita a suplementação da vitamina. “Do sétimo dia de vida até 2 anos de idade, independente do estado ou região do País onde a família mora”, orienta ela.
  • Passado esse primeiro meio ano de vida, segundo ela, o bebê já pode ir para o sol, devidamente protegido com protetores de FPS 30 para cima, sempre na versão infantil. “Lembrando que as faixas de horário ideais para crianças e adultos são antes das 10h ou após as 16h”, lembra a pediatra.

Ela enfatiza o uso de protetores solares kids em crianças de até 5 anos. “Geralmente, eles contêm menos substâncias químicas prejudiciais à pele da criança, menos perfume, são mais espessos e mais esbranquiçados”, explica a Dra. Elisabeth, ao reforçar que a reaplicação deve ser feita a cada duas horas, principalmente se a criança suar ou nadar na piscina ou no mar.

Procedimentos corretos para proteção solar das crianças

“Na maioria das vezes, os pais aplicam menor quantidade que o necessário nas crianças“, observa a pediatra. Ela compartilha uma regra simples e que garante a proteção: “2 colheres de chá de protetor solar para cada região da criança“.

Pensando assim, serão 2 colheres de chá de protetor para: cada braço; cada perna; cada coxa; frente do tronco; e parte de trás do tronco.

Antes ou depois do repelente? Dra. Elisabeth enfatiza que o protetor precisa ser passado de 30 a 40 minutos antes do repelente escolhido.

Por fim, a pediatra reforça que o ideal é que as crianças usem protetor solar diariamente nas áreas do corpo expostas do corpo. “O mais fácil é que os pais deem o exemplo e usem protetor solar facial diariamente”, propõe a especialista.

Agenda Positiva

Congresso de Pediatria aborda novos desafios na saúde das crianças

“Pediatria: Desafio dos Novos Tempos” é o principal tema do Congresso de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (Consoperj), evento que reúne pediatras de todo Brasil para discutir os novos rumos da pediatria de 30 de novembro a 2 de dezembro. Durante três dias especialistas de diferentes áreas abordarão temas relevantes sobre a saúde infantojuvenil em palestras, aulas, conferências e debates.

Espiritualidade, saúde mental (ansiedade, depressão, automutilação, comportamento suicida, transtornos alimentares), cyberbullyng – a violência no mundo virtual, impacto das novas tecnologias no desenvolvimento cerebral e atendimento de transgêneros estão entre os muitos temas da programação do evento, que volta a ser realizado de forma presencial.

Um destaque é o Fórum Criação de Filhos: o papel dos pediatras e educadores na promoção de crianças emocionalmente saudáveis, que acontecerá no dia 1 de dezembro. Durante o fórum serão discutidas questões como criação respeitosa, neurodesenvolvimento infantil, diálogo com os filhos, paternidade ativa e comportamentos desafiadores da criança.

De acordo com o presidente da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (Soperfj), Claudio Hoineff, o encontro de profissionais da área promoverá troca de conhecimentos e novos aprendizados sobre questões fundamentais para a saúde de crianças e adolescentes.

Novos hábitos alimentares, fake news na nutrição, atualização no manejo das crianças expostas ao HIV, imunização (vacinas), desafios no diagnóstico do câncer em adolescentes,  novas demandas em saúde escolar (escola e estudantes com doenças genéticas raras), autismo e microbioma, tuberculose, aleitamento materno, entre outros temas, também serão discutidos no evento.

Após três anos sendo realizado de forma virtual, em decorrência da pandemia de Covid-19, o Consoperj volta a ser realizado presencialmente este ano. A 15ª edição do evento, o maior da Soperj, acontece no Expo Mag, antigo Centro de Convenções Sul América, na Rua Beatriz Larragoiti Lucas, s/n, Cidade Nova.

Com Assessorias

 

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