Apesar de curável, a tuberculose permanece como um problema de saúde pública que atinge milhões de pessoas no mundo e provoca milhares de mortes no Brasil, especialmente em populações vulneráveis.. O Dia Nacional de Combate à Tuberculose, em 17 de novembro, reitera a necessidade de fortalecer ações de alerta aos sintomas, busca ativa por diagnóstico e acesso ao tratamento.
O Brasil enfrenta a persistência da transmissão comunitária de tuberculose e a necessidade de localizar precocemente pessoas com sintomas respiratórios prolongados. Compreender o quadro epidemiológico é essencial para direcionar as ações de enfrentamento, como destaca o médico epidemiologista André Ribas, doutor em Epidemiologia pela Faculdade de Medicina da Unicamp e professor na Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic,
A tuberculose segue distribuída de modo desigual no território nacional e alcança com maior intensidade pessoas que convivem com condições que facilitam a transmissão. A lógica de enfrentamento depende de localizar rapidamente quem apresenta tosse persistente e garantir que o acesso ao diagnóstico e ao início do tratamento ocorra sem barreiras”, afirma o consultor científico do projeto.
É neste contexto que o trabalho dos agentes comunitários de saúde dos agentes de endemias ganha protagonismo no Sistema Único de Saúde (SUS). Durante as visitas domiciliares, esses profissionais identificam sinais de alerta, orientam sobre ventilação adequada e reforçam que a tuberculose não é transmitida por roupas, objetos ou contato físico. Também ajudam a esclarecer dúvidas, estimular a coleta correta do escarro e acompanhar o tratamento, etapa essencial para garantir cura e evitar resistência bacteriana.
De acordo com Ilda Angélica Correia, presidente da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias (CONACS), o vínculo cotidiano com as famílias faz desses trabalhadores uma ponte decisiva para o cuidado.
O agente comunitário reconhece precocemente a mudança no estado de saúde das pessoas que acompanha e orienta sobre onde buscar ajuda. Quando esse profissional identifica sintomas e encaminha para a unidade, encurta o caminho entre a suspeita e o diagnóstico e fortalece a confiança no tratamento”, afirma.
A importância dos comunicantes e o papel das visitas domiciliares
A especialista detalha como essa atuação acontece diariamente nas comunidades.
O agente comunitário cria um canal permanente com as famílias e isso permite observar mudanças no estado de saúde perceber quando alguém está com tosse por semanas e orientar sobre a necessidade de procurar a unidade A tuberculose exige acompanhamento contínuo e a presença regular do agente facilita o entendimento do tratamento e a permanência nele”, detalha.
Nas residências, os profissionais reforçam explicações sobre circulação de ar, abertura de janelas e entrada de luz solar, que ajudam a reduzir a presença de partículas respiratórias. O agente também esclarece que objetos, roupas, utensílios ou aperto de mão não transmitem a doença, informação fundamental para evitar exclusão social de pessoas em tratamento.
Ilda enfatiza que, ao orientar famílias e comunicantes, o ACS atua como ponte entre o território e o sistema de saúde. “O agente identifica quem convive no mesmo ambiente observa quem pode estar com sinais e facilita o caminho até a unidade de saúde Isso faz diferença no tempo de diagnóstico e reduz o risco para quem mora com a pessoa doente”.
No país, agentes comunitários de saúde participam de uma mobilização organizada pelo Projeto A CASA – Comunidade de práticas, conexão, formação e informação do Agente Comunitário de Saúde e Agente de Combate às Endemias. conduzido pelo Instituto de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Social (IPADS) em parceria com Johnson & Johnson, e CONACS.
Neste ano, a mobilização ganha novo fôlego, ao ampliar o alcance das ações educativas e padroniza informações técnicas para os mais de 400 mil agentes comunitários atuantes no país sobre a identificação precoce e o cuidado integral no SUS. A iniciativa reúne conceitos fundamentais para ampliar a capacidade desses profissionais de apoio à vigilância e ao cuidado no território.
Thiago Lavras Trapé, presidente do Instituto de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Social, destaca que organizar conteúdos acessíveis e atualizados para esses profissionais gera impacto direto na capacidade do município de controlar a doença.
O projeto oferece formação contínua, material de referência e um ambiente de troca que fortalece a prática diária dos agentes. Ao qualificar esse trabalho, ampliamos o diagnóstico oportuno e contribuímos para reduzir casos e mortes”, explica.
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Conheça os pontos principais da cartilha sobre tuberculose:
1. Transmissão da tuberculose acontece pelo ar
A doença é causada pela bactéria Mycobacterium\ tuberculosis (bacilo de Koch), transmitida de pessoa para pessoa, principalmente quando alguém doente com a forma pulmonar tosse, espirra ou fala em ambientes fechados e com pouca circulação de ar.
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Reforço: “A transmissão não ocorre por roupas, talheres, objetos ou aperto de mão, o que reforça a importância de orientar a população sobre como o contato direto pelo ar é o principal fator de risco.”
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O risco de transmissão diminui drasticamente cerca de 15 dias após o início do tratamento.
2. Formas clínicas: pulmonar e extrapulmonar
A tuberculose pulmonar é a mais comum e transmissível. No entanto, a doença pode afetar outros órgãos, configurando as formas extrapulmonares (ex: pleural, óssea e ganglionar).
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Todas as formas são tratáveis pelo SUS. A forma ganglionar é mais comum em crianças e pessoas vivendo com HIV.
3. A tosse persistente é o principal sinal
O sintoma mais importante para suspeitar da doença é a tosse que dura três semanas ou mais, frequentemente com catarro. Outros sinais comuns incluem febre baixa ao final da tarde, suores noturnos, cansaço e perda de peso.
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Pessoas com tosse persistente devem procurar imediatamente uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para investigação.
4. Diagnóstico gratuito e abrangente
O diagnóstico é oferecido gratuitamente pelo SUS e envolve diferentes exames para identificar a bactéria e suas características.
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Exames principais: Coleta de escarro (para baciloscopia e cultura), Teste Rápido Molecular para Tuberculose (TRM-TB), que identifica a bactéria e detecta resistência à Rifampicina, além do Raio-X de tórax.
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“A cultura de escarro é o exame mais sensível e é indicada quando há dúvida diagnóstica ou suspeita de resistência.”
5. O tratamento é padrão, eficaz e curável
A tuberculose tem cura. O tratamento padrão utiliza uma combinação de quatro medicamentos e dura cerca de seis meses.
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É fundamental que o tratamento seja seguido diariamente e sem interrupções para garantir a cura e evitar a resistência bacteriana, que exige terapias mais longas e complexas.
6. Avaliação de comunicantes é prioritária
Pessoas que convivem com o paciente e respiraram o mesmo ar por tempo prolongado (comunicantes) devem ser avaliadas com prioridade na UBS, mesmo que não apresentem sintomas.
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Crianças pequenas, idosos e pessoas com imunidade baixa (como indivíduos com HIV) têm maior risco. A investigação de comunicantes é vital para interromper a cadeia de transmissão na comunidade.
7. O protagonismo dos agentes comunitários de saúde (ACS)
Os ACS e ACE são peças-chave no controle da tuberculose devido à sua atuação territorial e o vínculo cotidiano com as famílias.
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Busca Ativa: Identificam a tosse prolongada e orientam sobre a coleta de escarro e a necessidade de ir à UBS.
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Adesão ao Tratamento: Acompanham os pacientes para garantir que tomem os medicamentos corretamente, combatendo o abandono.
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Citação: Para Ilda Angélica Correia, presidente da CONACS, “O agente comunitário reconhece precocemente a mudança no estado de saúde das pessoas que acompanha e orienta sobre onde buscar ajuda. Quando identifica sintomas e encaminha para a unidade, encurta o caminho entre a suspeita e o diagnóstico.”
8. Concentração em grupos vulneráveis
A tuberculose é uma doença que persiste de forma desigual no Brasil. Populações em situação de rua, privadas de liberdade, vivendo com HIV ou em moradias precárias concentram o maior número de casos.
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O diagnóstico tardio é mais frequente nessas populações, o que aumenta o risco de formas graves e a transmissão comunitária.
9. A importância da informação e acolhimento
O vínculo entre paciente e equipe de saúde é determinante para a continuidade do cuidado. O agente comunitário esclarece dúvidas, combate o estigma social da doença e reforça a importância da ventilação e isolamento respiratório inicial.
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Citação: O epidemiologista André Ribas, consultor científico do projeto, destaca que a lógica de enfrentamento depende de “localizar rapidamente quem apresenta tosse persistente e garantir que o acesso ao diagnóstico e ao início do tratamento ocorra sem barreiras.”
10. Projeto A CASA: fortalecendo a atenção primária
O Projeto A CASA oferece formação contínua, materiais de referência e espaços de troca para os ACS e ACE, com o objetivo de qualificar a atuação territorial, o que tem impacto direto nos indicadores de saúde.
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Citação: Thiago Lavras Trapé, presidente do IPADS, ressalta: “Ao qualificar esse trabalho, ampliamos o diagnóstico oportuno e contribuímos para reduzir casos e mortes.”
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O enfrentamento da tuberculose depende, sobretudo, da vigilância e do acolhimento qualificado onde as pessoas vivem, o que faz dos ACSs e ACEs protagonistas insubstituíveis nesse processo.
A cartilha completa está disponível para download gratuito em: acasadosagentes.org.br/materiais-informativos/




