Mais uma queda de braço entre governo federal e comunidade científica em torno da gestão da pandemia do novo coronavírus. Secretários estaduais e municipais de Saúde são contra a decisão do Ministério da Saúde de promover uma consulta pública sobre a aplicação de doses da vacina contra a Covid-19 a crianças de 5 a 11 anos, já aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A pesquisa foi lançada na sexta-feira (24) no site do MS, mas acabou ficando inacessível, segundo a pasta, por excesso de acessos – o limite era de 50 mil. Representantes de entidades médicas e especialistas em Saúde são contra a pesquisa, que nunca foi realizada para a aplicação de outras vacinas já aprovadas pela Anvisa, tanto entre crianças, tanto em adultos.

Também acusam o ministério de manipular as perguntas da consulta pública com objetivo de  induzir pais e mães a favor da decisão do governo, que é contrário à vacinação, como já manifestaram o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Dois pontos previstos na consulta são os principais alvo de críticas: ser uma decisão dos pais – o que é redundante já que eles são os responsáveis por levar as crianças aos postos de vacinação – e ter autorização médica – o que pode dificultar o acesso ao imunizantes, já que muitas crianças não teriam acesso a uma consulta médica. Além disso, poderia sobrecarregar o Sistema Único de Saúde (SUS), deixando de atender crianças que realmente necessitam de avaliação médica.

Rio vai dispensar autorização médica para vacina

Somente no município do Rio de Janeiro, são 320 mil crianças nessa faixa etária. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, confirmou que os postos de saúde da cidade não vão exigir autorização médica para vacinação das crianças. Ele classificou a condição imposta pelo Ministério como “absurda” e a pesquisa de opinião, já que “dados científicos sólidos” comprovam a segurança e eficiência da vacina em países como Canadá, EUA e Israel.

Ainda segundo Soranz, a Prefeitura do Rio tentou comprar doses diretamente da Pfizer, mas a farmacêutica não aceitou porque já tinha negociado com o Ministério da Saúde. A previsão, segundo o secretário, é que a Pfizer entregue uma remessa grande de doses ainda na primeira quinzena de janeiro de 2022. “Essas vacinas devem ser entregues aos municípios”, comentou.

Médicos destacam a necessidade de realizar a vacinação das crianças como forma de conter o avanço da variante ômicron, que vem ocorrendo em outros países, já que elas são transmissoras da doença e, eventualmente, também adoecem, inclusive de forma grave. Também afirmam que o risco de uma miocardite – alegado por muitos que se opõem à vacina em crianças – é 30 vezes maior num caso de infecção pela Covid do que pelo imunizante.

Entenda o cronograma da consulta pública sobre vacinação de crianças

 

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