Cerca de 83 mil mulheres e meninas foram mortas intencionalmente em 2024 em todo o mundo, sendo 50 mil delas (60%) por parceiros íntimos ou familiares. Isso significa que uma mulher ou menina é morta dentro de casa quase a cada 10 minutos em todo o mundo. Em contraste, apenas 11% dos homicídios de homens foram perpetrados por parceiros íntimos ou familiares no mesmo ano.
Os dados são do Femicide Brief 2025 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e da ONU Mulheres, divulgados nesta terça-feira (25), marcando oDia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. O levantamento confirma que o feminicídio continua tirando a vida de dezenas de milhares de mulheres e meninas em todo o mundo, sem sinais de progresso real, com níveis que permanecem inalterados apesar de anos de compromissos globais.
Segundo o relatório Femicide 2025, mulheres e meninas são submetidas a essa forma extrema de violência em todas as regiões do mundo. Estima-se que a maior taxa de feminicídio cometido por parceiros íntimos ou familiares ocorreu na África (3 por 100 mil mulheres), seguida pelas Américas (1,5), Oceânia (1,4), Ásia (0,7) e Europa (0,5).

O lar continua sendo um lugar perigoso e, às vezes, letal para muitas mulheres e meninas ao redor do mundo. O Femicide Brief 2025 é um lembrete contundente da necessidade de melhores estratégias de prevenção e respostas da justiça criminal ao feminicídio — respostas que considerem as condições que propagam essa forma extrema de violência”, afirmou o diretor executivo do UNODC, John Brandolino.
Para a diretora da Divisão de Políticas da ONU Mulheres, Sarah Hendriks, feminicídios não acontecem isoladamente. “Eles geralmente fazem parte de um contínuo de violência que pode começar com comportamentos controladores, ameaças e assédio, inclusive online”, disse.
A campanha das Nações Unidas pelos 16 Dias deste ano destaca que a violência digital muitas vezes não permanece apenas online. Ela pode escalar offline e, nos piores casos, contribuir para danos letais, incluindo o feminicídio”.
Segundo ela, toda mulher e menina tem o direito de estar segura em todas as esferas da vida, e isso exige sistemas que intervenham cedo. “Para prevenir esses assassinatos, precisamos da implementação de leis que reconheçam como a violência se manifesta ao longo da vida de mulheres e meninas — tanto online quanto offline — e responsabilizem os agressores muito antes de que a situação se torne fatal”.
Apesar de os feminicídios também ocorrerem fora do ambiente doméstico, a disponibilidade de dados ainda é limitada. Embora o número de quase 50 mil mulheres e meninas mortas no âmbito privado em 2024 seja inferior à estimativa de 51.100 vítimas em 2023, essa variação se deve amplamente a diferenças na disponibilidade de dados em nível nacional e não indica uma redução real.
Para ajudar a preencher essas lacunas, a ONU Mulheres e o UNODC estão trabalhando em estreita colaboração com países na implementação do marco estatístico de 2022, a fim de melhorar a identificação, o registro e a classificação dos assassinatos de mulheres e meninas relacionados ao gênero. Ampliar a disponibilidade de dados será vital para avaliar com precisão a magnitude e as consequências desses feminicídios, além de apoiar respostas eficazes da justiça.
Leia o relatório completo aqui.

Ligue 180 realiza média de 2.895 atendimentos por dia
Central de Atendimento à Mulher completa 20 anos de enfrentamento à violência de gênero
Entre janeiro e outubro de 2025, o Ligue 180 registrou 126.455 denúncias de violência contra mulheres. Em 66% dos casos, a denúncia foi feita pela própria vítima, 21% de forma anônima e 13% por terceiros. No período, foram realizados 877.197 atendimentos, uma média de 2.895 por dia. Do total, foram 719.968 chamadas por telefone, 26.378 atendimentos por Whatsapp, 130.827 por email, além de 24 videochamadas (Libras). No período
Em 2024, o Ligue 180 registrou uma média de 2.051 atendimentos por dia, com 750.687 chamadas, contabilizando telefonia, Whatsapp, e-mail, entre outros tipos de canais. Ainda em 2024, o Ligue 180 canal atendeu 691.455 ligações oriundas de todo o território nacional, o que representa um aumento de 21,6% em relação a 2023. O número de atendimentos pelo WhatsApp, lançado em abril de 2023, também ampliou, passando de 6.689 em 2023 (743/mês) para 14.572 em 2024 (1214/mês) — um salto de 63,4%.
Nesta terça-feira, 25 de novembro, Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 completa 20 anos. Criado como um serviço de orientação e acolhimento, o Ligue 180 incluiu, em 2014, um canal direto de denúncia de violência, sob a gestão da presidenta Dilma Rousseff, com encaminhamento às autoridades competentes e acompanhamento pelo governo.
Por meio do Ligue 180, é possível registrar denúncias de violência contra mulheres, obter orientação sobre leis e direitos, além de buscar informações sobre a localidade dos serviços especializados da rede de atendimento às mulheres (Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referência, delegacias especializadas, Defensorias Públicas, entre outros).
O serviço é gratuito e está disponível 24 horas, todos os dias, em quatro idiomas: português, inglês, espanhol e Libras. O atendimento é 100% realizado por mulheres. A equipe da Central de Atendimento – Ligue 180 conta com 346 profissionais, entre atendentes, analistas, psicólogas, coordenadoras, monitoras, analista de tráfego e gerente. Do total, são 298 atendentes e analistas, incluindo trabalhadoras bilíngues.
As denúncias de violência contra as mulheres são encaminhadas para os órgãos de investigação dos estados e do Distrito Federal, incluindo a Polícia Civil e o Ministério Público. O Ministério das Mulheres realiza o acompanhamento dos casos, oferecendo suporte às vítimas em parceria com os governos estaduais, municipais e distrital.
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Melhorias a partir de 2023 ampliaram os canais de comunicação
Para a ministra Márcia Lopes, o aumento nos registros, a cada ano, demonstra a maior confiança no serviço, resultado de uma série de melhorias implementadas pelo Ministério das Mulheres no serviço a partir de 2023, incluindo a ampliação dos canais de comunicação com o serviço, com atendimento pelo Whatsapp, através do número (61) 9610-0180. Assim como nas chamadas por telefone, o atendimento é sigiloso e as denúncias podem ser registradas de forma anônima ou por terceiros.
Ampliamos os investimentos na capacitação das equipes, fortalecendo a escuta qualificada para que as mulheres possam realizar as denúncias em um ambiente seguro e acolhedor. Este é um instrumento fundamental para romper o ciclo de violência. O Ligue 180 também é um canal importante para tirar dúvidas e encaminhar meninas e mulheres para serviços especializados”, destacou.
Márcia Lopes ressaltou que o fortalecimento do Ligue 180 é prioridade da política nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres e a importância de reconhecer o trabalho das equipes que diariamente acolhem relatos difíceis, orientam caminhos de proteção e ajudam a salvar vidas.
O Ministério das Mulheres iniciou, em 2023, uma série de ações para desfazer retrocessos no serviço, por meio do Programa Mulher Viver sem Violência, incluindo a inauguração de uma nova Central do Ligue 180, totalmente independente da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. O novo espaço foi inaugurado em agosto de 2024, com o objetivo de retirar o Ligue 180 do escopo do canal de denúncias de violações de direitos humanos, o Disque 100.
Onde encontrar atendimento especializado
Com novas tecnologias, equipe qualificada e atendimento humanizado, o Ligue 180 reafirma sua missão: proteger vidas, garantir direitos e assegurar que nenhuma mulher esteja sozinha diante da violência. De acordo com Estela Bezerra, secretária Nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, é o maior serviço de que o Brasil dispõe para retirar as mulheres do isolamento quando estão em situação de violência.
Pelo 180 conseguimos identificar o perfil do agressor e da mulher agredida e onde há rede de apoio, porque essa mulher liga de um local e, por meio da georreferência, nós acionamos a rede local. Portanto, trata-se da maior série de informações baseada em dados concretos para que possamos tomar decisões sobre políticas públicas”
Para facilitar a identificação de serviços disponíveis para as mulheres pelo país, o Ministério das Mulheres lançou, em 2024, o Painel Rede de Atendimento às Mulheres, com informações de mais de 2.600 locais especializados no atendimento às mulheres.
No mesmo ano, o serviço passou a ofertar um canal exclusivo às mulheres surdas ou com deficiência auditiva, por meio de atendimento em Libras. Também é possível realizar a denúncia por e-mail: central180@mulheres.gov.br. Em casos de emergência, deve ser acionada a Polícia Militar pelo telefone 190.
Outra inovação do serviço foi o lançamento do Painel de Dados, em 2025, que amplia a transparência do serviço, trazendo dados de atendimentos com filtros por perfis de denúncias, das vítimas, dos agressores, entre outros.
350 mulheres jovens, sete dias por semana, 24 horas por dia
Nesta terça (25), Márcia Lopes visitou a sede da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, numa demonstração de reconhecimento ao trabalho das profissionais que atuam na linha de frente do atendimento.
Toda vez que concedo uma entrevista, que falo do 180, é muito emocionante, porque eu falo de vocês, que são 350 mulheres jovens, sete dias por semana, 24 horas por dia. E vocês estão aqui abertas, preparadas psicologicamente, inclusive, para ouvir, para receber, para acolher essas mulheres”, reforçou a ministra.
A coordenadora-geral do Ligue 180, Ellen dos Santos Costa, disse que as profissionais passam por capacitações permanentes, aperfeiçoando a escuta qualificada com recorte de raça, gênero e território.
Estamos estruturando o Ligue 180 por meio de uma equipe técnica que é constantemente valorizada e do compromisso político com a vida das mulheres. Celebrar esses 20 anos é reconhecer, também, a força dessas mulheres que fazem essa política acontecer e reafirmar que o Estado brasileiro está ao lado das mulheres que buscam ajuda e proteção para romper com o ciclo de violência”, afirmou.
Apoio psicológico também para as atendentes
Estamos ampliando as formações, especializações e implementando, também, uma estrutura de cuidado interno, que inclui apoio psicológico para as atendentes, que lidam diariamente com relatos de violência e que também precisam ser cuidadas”, ressaltou Ellen dos Santos Costa.
Após processo licitatório, o Ministério das Mulheres firmou um novo contrato no valor de R$ 84,4 milhões com empresa especializada para prestação de serviço continuado de atendimento por meio de múltiplos canais por um período de 30 meses. A unificação indevida havia sido realizada em 2019, retirando a especificidade do atendimento às mulheres.
Para agilizar o fluxo de encaminhamento e capacitar pontos focais junto aos gestores locais, o Ministério das Mulheres firmou um Acordo de Cooperação Técnica (ACT). Ao todo, 14 estados já aderiram ao ACT: Sergipe, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Pará, Piauí, Acre, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão, além do Distrito Federal e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República



