Recentemente nas redes sociais causou polêmica – e na maioria dos brasileiros, especialmente os que ainda não se vacinaram, muita revolta – o caso de uma veterinária que conseguiu “furar o bloqueio” da fila de imunização e tomar uma terceira dose da vacina contra a Covid-19, dessa vez da Janssen, de dose única. O motivo? Vacinada com as duas doses da CoronaVac em março, Jussara Sonner, moradora de Arujá, na Grande São Paulo, dizia não estar confiante na eficácia dos imunizantes, o que já foi mais do que contestado em inúmeras pesquisas, como esta da Fiocruz.

No dia 30 de junho, ela conseguiu burlar o esquema de vacinação e se vacinou novamente com a dose única da Janssen, em outra unidade do mesmo município, a UBS Uirapuru. Nas postagens, Jussara ainda zombou do sistema de saúde, afirmando que não havia computador na UBS. “Fui em um bairro meio que de favela em Guarulhos, onde não havia computadores para verificação online. Uma sorte! Anotaram meus dados numa folha timbrada. Quando cair no sistema será tarde demais”, escreveu ela no Facebook.

Veterinária burlou esquema de vacinação e conseguiu tomar terceira dose de vacina (Reprodução Facebook)

Considerando-se desprotegidas, há pessoas burlando as regras para tomar uma terceira dose de marcas de vacinas que acreditam ser “melhores” – como foi o caso da veterinária. O ato configura como fraude neste momento em que doses de reforço não são endossadas pelas autoridades sanitárias brasileiras e ainda pode atrasar a imunização geral da população. Até agora, pouco mais de 16% dos brasileiros conseguiram tomar as duas doses necessárias para completar o esquema vacinal.

Para especialistas, buscar uma terceira dose de vacina, qualquer que seja ela, neste momento em que ainda não é indicada pelas autoridades sanitárias, pode prejudicar a estratégia nacional de imunização e fomentar ainda mais a desinformação sobre a eficiência das vacinas, especialmente a Coronavac. Em live no #PapodePandemia do Portal ViDA & Ação, o infectologista pediátrico Marco Aurélio Safadi disse que a aplicação de uma dose de reforço só poderia ser cogitada depois que todos os brasileiros acima de 18 anos estivessem vacinados e, na prioridade, os adolescentes entre 12 e 17 anos, especialmente aqueles que são portadores de comorbidades.

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AMB reforça eficácia e segurança das quatro vacinas

Há necessidade de dose de reforço para as pessoas que já receberam vacinação completa para Covid-19? As variantes de preocupação Alpha, Beta, Gamma e Delta impactam a efetividade das vacinas? É recomendado fazer uma terceira dose para garantir a proteção vacinal? Também esta semana, a Associação Médica Brasileira (AMB), por meio do seu Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19 (CEM Covid_AMB), emitiu nota reforçando a eficácia e segurança das quatro vacinas aplicadas no Brasil.

Segundo o Comitê, “não existem dados apontando para a necessidade de revacinação no atual cenário Brasil”. E acrescenta: “É essencial ainda que todos os cidadãos saibam que as quatro vacinas disponíveis no País, a saber Sinovac, AstraZeneca/Oxford, Pfizer/BioNTech e Janssen/J&J, apresentaram excelente resultado preliminar”.

De acordo com a nota, as quatro vacinas “comprovaram elevada eficácia para evitar as formas graves da Covid-19 (associadas a hospitalização) e óbito nas pesquisas clínicas fase 3, quando o risco da ocorrência destes desfechos da doença entre voluntários vacinados é comparado ao risco observado no grupo controle”.

Neste momento, a prioridade deve ser para que a maioria dos brasileiros receba a vacinação completa (2 doses da Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e Sinovac ou dose única da Janssen/J&J). Enquanto a vacinação completa da maioria da população alvo não acontece, a vacinação de reforço (terceira dose) de apenas alguns brasileiros não é recomendada, até porque vários estudos seguem em andamento para elucidar esta pergunta, que nesse momento ainda não tem resposta”, afirma a nota do CEM-Covid_AMB.

Ainda segundo a AMB, “apenas a vacinação em massa e de forma célere, associada à manutenção das medidas não farmacológicas, permitirá que possamos voltar, o mais breve possível, para um cenário próximo à vida pré-pandemia”. Por isso, ressalta, “é indispensável que todo cidadão receba sua vacina, independentemente de qual das quatro atualmente disponíveis, assim que for chamado para ser imunizado”.

O comitê chama atenção ainda para o fato de que certas condições clínicas implicam em menor efetividade de todas as vacinas, não somente as da Covid-19. Entre os exemplos estão pacientes com senilidade, imunodeficiências, doença renal crônica, linfopenia, receptores de transplantes, pacientes de câncer e seu tratamento e pessoas em tratamento com drogas imunossupressoras e/ou altas doses de corticoides.

Na nota, a AMB explica ainda como é obtida a chamada eficácia vacinal durante os testes clínicas dos imunizantes. Veja a nota na íntegra aqui.

Rio já tem até calendário para terceira dose

Em algumas cidades, como o Rio de Janeiro, já se avalia a possibilidade de aplicar uma terceira dose oficialmente – a chamada de dose de reforço – das vacinas em idosos. A ideia ainda está sendo estudada pelos técnicos do município, mas já existe até um cronograma para que esse reforço aconteça, de outubro a dezembro. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse que a terceira dose ainda está em discussão científica.

Se houver uma queda de imunidade nesse grupo de 80 anos ou mais. Ainda estamos analisando e nosso estudo em Paquetá, que vacinou toda a população, vai nos ajudar muito a tomar essa decisão. Já estamos planejando a logística para fazer a dose de reforço. É importante mas ainda está em discussão. Temos que garantir que essa população, que tem mais dificuldade de produzir anticorpos, esteja devidamente imunizada. Faltam algumas análises, mas é muito importante que a gente se planeje”, explicou.

Caso a terceira dose seja confirmada, o cronograma será o seguinte: em outubro, o reforço será aplicado em quem tem 80 anos ou mais; em novembro, voltará aos postos o público a partir dos 70 anos; e em dezembro, os cariocas com 60 anos ou mais. A previsão do município é que todos os cariocas com 12 anos ou mais recebam as duas doses de um dos imunizantes contra a Covid-19 ou a dose única da Janssen até novembro. Para os menores de idade, só é autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por enquanto, a aplicação da vacina da Pfizer.

Nesta quinta-feira (15), a Prefeitura do Rio anunciou mais uma antecipação do calendário de vacinação: todos os cariocas com 18 anos ou mais terão recebido ao menos a primeira dose de um imunizante até o dia 18 de agosto. E as datas para os adolescentes de 12 a 17 anos serão entre 23 de agosto e 10 de setembro.

Juiz de Minas manda idoso se vacinar pela terceira vez

Uma decisão polêmica em torno do assunto veio de Minas Gerais. O juiz Milton Biagioni Furquim, da 2ª Vara Cível de Guaxupé, no Sul de Minas, decidiu que um idoso de 75 anos tome a terceira dose de uma das vacinas contra a Covid-19 – menos a Coronavac. O homem já foi vacinado com as duas doses da vacina produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, de São Paulo.

O documento foi assinado neste sábado (17), e o município tem 24 horas para cumprir a ordem, após o recebimento da decisão. Caso não cumpra a sentença, o prefeito da cidade está sujeito a multa de R$ 1 mil por dia, podendo chegar a R$ 30 mil, e ainda sofrer sanções civis e criminais.

O pedido à Justiça foi feito depois que o requerente fez um teste de sorologia, que não acusou a presença de anticorpos contra o vírus. “Caso não esteja à disposição do município outra marca de vacina (sem ser a Coronavac), tem o requerente o livre arbítrio de aguardar o município receber vacina outra”, diz o juiz.

A sentença é polêmica, já que não há comprovação científica de que todas as pessoas desenvolvam os anticorpos após a imunização. Em sua decisão, o magistrado reconhece que organizações médicas não confirmam que o exame de sorologia atesta que a “agulhada” funcionou. No entanto, ele afirmou que não há essa discussão entre cientistas e que o idoso teria o direito à terceira dose. O magistrado justificou ainda que ele tem hipertensão e é acompanhado por um médico vascular.

“No caso em apreço, o requerente, um senhor de 75 (setenta e cinco) anos é portador de hipertensão, bem como cardiopata, além de ter sido submetido a tratamentos e até nos dias atuais tem sido acompanhado por médico vascular, com intuito de prolongar sua vida, bem como manter o seu bem-estar, ou seja, de acordo com todo o seu histórico de saúde, se encaixa perfeitamente no grupo de risco e prioritário para se vacinar contra os efeitos do coronavírus”, descreve o juiz, na decisão.

Ele apontou ainda que a terceira rodada não deve ser realizada com a Coronavac, já que há um debate do efeito do imunizante. Furquim ainda cita o exemplo da Indonésia, onde, dentre os 949 profissionais de saúde que morreram de Covid-19 entre fevereiro e junho, 30 haviam recebido as duas doses da Coronavac, “o que já serviu de pretexto para lançar dúvidas sobre a eficácia e a segurança” da vacina.

É bem de ver que se trava uma discussão entre cientistas sobre estar a referida vacina suspeita de não possuir efeitos. Mesmo entre os imunizados no país, há uma preocupação crescente sobre a proteção oferecida pela Coronavac, embora os estudos feitos até agora demonstrem que ela funciona”, escreveu o juiz.

Com El Pais e O Tempo

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