Com a aproximação do final do ano, o clima de celebração e renovação toma conta de muitas pessoas. O período de festas também carrega uma carga emocional significativa. O excesso de compromissos, as expectativas familiares e as reflexões sobre o ano que passou podem causar um aumento no estresse e na ansiedade.

Essa época também traz à tona sentimentos de frustração, ansiedade e melancolia que não são raros, mas pouco discutidos. O fenômeno, popularmente chamado de “síndrome do fim de ano”, afeta uma parcela da população, que se vê presa em expectativas não atendidas e pressões sociais.

A celebração do Natal e do Ano Novo está, muitas vezes, associada à reunião familiar, à troca de presentes e às reflexões sobre conquistas e desafios do ano. No entanto, o contexto de tantas expectativas e comparações pode desencadear emoções intensas, como tristeza, ansiedade e até sentimentos de fracasso.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Saúde Mental dos Estados Unidos, 64% das pessoas relatam sentir um aumento no estresse durante as festas de fim de ano, e no Brasil, um estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) aponta que os índices de ansiedade crescem cerca de 30% nesse período.

Muitas vezes, as pessoas se cobram para ter momentos perfeitos, quando na verdade o período deveria ser de acolhimento e descanso”, explica Aline Graffiette, especialista em psicologia clínica e neuropsicologia, à frente da Mental One.

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O que é a Síndrome do Fim de Ano?

A psicanalista Rachel Poubel explica que a “síndrome do fim de ano” não é um diagnóstico clínico, mas um conjunto de sensações psicológicas comuns durante o período de festas. Esses sentimentos podem variar entre angústia, tristeza profunda e sensação de fracasso.

As festas de fim de ano trazem muita tristeza e solidão porque a gente compra um pacote comercial. Olha nas redes sociais e se compara. As festas têm um apelo de troca de presentes e mostra todo mundo feliz, mas na vida real não é assim. A pessoa precisa estar bem e entender que talvez na ceia de Natal ela não estará com a família ou amigos. As pessoas precisam estar bem consigo mesmas, com a solitude, para enxergar a vida de uma forma real, como ela é”, explica a psicanalista.

Essa época também marca o fechamento de um ciclo, o que pode trazer à tona reflexões sobre o que foi deixado para trás ou metas não cumpridas. “É muito comum, com a chegada do fim do ano, a sensação de frustração. Uma sensação de não ter feito nada, de incapacidade de realizar as metas. Mas as metas não podem estar apegadas ao começo e ao fim de ano, elas precisam ser diárias. É até possível ter um objetivo para o final do ano, mas desde que se comece com pequenas metas, porque a mente acaba se dispersando e as pessoas desistem quando a meta é de longo prazo”, complementa Poubel.

Procrastinação e problemas familiares também geram angústia

A psicanalista destaca, ainda, que a procrastinação é um dos fatores que contribui para o sentimento de angústia que chega no final do ano. “Muita gente vai deixando pra amanhã, pra semana que vem, não trabalham a saúde emocional, não acreditam que são capazes. Se a pessoa tem ansiedade, por exemplo, ela precisa tratar para ter sucesso profissional, para alcançar os seus objetivos, senão, nunca vai sair do lugar. Para não procrastinar precisa criar novos hábitos e não deixar para o dia 31 de dezembro. Precisa parar de colocar datas para resolver as coisas e resolver hoje o que precisa ser resolvido”, disse.

Poubel acrescenta que problemas familiares e de relacionamentos também podem desencadear a “síndrome do fim de ano”. “A síndrome pode acontecer, ainda, devido a perdas de entes queridos, a rompimento de relacionamentos, quando a pessoa decide morar sozinha e quando está com conflitos na família. Então quando chega no final do ano, fica aquela sensação que a família não está bonitinha igual a dos filmes, e com isso, a pessoa começa a se sentir mal. Surge um sentimento de angústia muito forte porque ela pensa que está todo mundo feliz e ela não”, pontua.

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Como lidar com a Síndrome do Fim de Ano?

Segundo a psicanalista, é fundamental entender que esses sentimentos são comuns e podem ser gerenciados com algumas práticas de autocuidado emocional. “O primeiro passo é ter uma postura mais compassiva consigo mesmo. Entender que o final de um ciclo não significa a necessidade de realizar um balanço extremo, e que nem todas as metas precisam ser cumpridas de maneira absoluta”, frisa Poubel.

Algumas dicas práticas incluem:

  1. Reduzir as comparações: É importante lembrar que as redes sociais não refletem a vida real.
  2. Reavaliar metas: Em vez de focar no que não foi alcançado é melhor celebrar pequenas conquistas ao longo do ano e reavaliar metas de forma realista para o próximo ciclo.
  3. Aceitar o incompleto: Nem tudo precisa ser finalizado antes do novo ano começar. Muitas vezes, as pessoas querem terminar tudo em dezembro, mas a vida continua. Projetos podem ser retomados e concluídos com calma no futuro.
  4. Buscar ajuda: Se os sentimentos de angústia forem muito intensos, procurar ajuda de amigos e psicológica pode ser uma forma eficaz de lidar com essas emoções.

Estratégias para lidar com o estresse de fim de ano

Para Aline, é fundamental que, durante esse período, cada um se permita desacelerar e ser mais gentil consigo mesmo. “As redes sociais também têm um papel importante na amplificação dessas expectativas irreais. Lembre-se de que o que vemos online não necessariamente reflete a realidade. Tente focar no que é significativo para você, sem se comparar com os outros”, ressalta.

Pensando na saúde mental e na manutenção do bem-estar, especialistas recomendam técnicas que podem ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade e a promover mais tranquilidade. Entre essas técnicas, destaca-se o relaxamento progressivo, um método eficaz para aliviar o estresse acumulado. O relaxamento progressivo consiste em contrair e relaxar diferentes grupos musculares, permitindo que o corpo perceba a diferença entre tensão e relaxamento.

Segundo Aline Graffiette, “a prática do relaxamento progressivo é uma ferramenta importante para lidar com a sobrecarga do fim de ano. Quando nos concentramos em relaxar os músculos, nossa mente também tende a desacelerar, ajudando a reduzir os níveis de estresse”. Um estudo publicado na revista Frontiers in Psychology indica que essa técnica pode reduzir até 35% dos sintomas de estresse quando praticada regularmente.

Aline recomenda reservar um momento do dia para praticar o relaxamento progressivo, especialmente em dias de alta demanda emocional, como os que antecedem as festas. “Mesmo que sejam apenas 10 ou 15 minutos, essa pausa pode trazer um alívio significativo, diminuindo a sensação de exaustão e permitindo que você lide melhor com as situações do cotidiano”, afirma.

Dicas práticas para atravessar as festas com mais serenidade

  • Estabeleça limites: Se comprometer com todas as celebrações e encontros pode ser desgastante. Saiba dizer “não” quando sentir que será demais. “Ouça seus limites e respeite seu tempo. Nem todos os convites precisam ser aceitos”, aconselha Aline.
  • Pratique a respiração consciente: Técnicas de respiração são uma forma eficaz de reduzir o estresse. Respire profundamente por alguns minutos, concentrando-se apenas no movimento do ar entrando e saindo do corpo.
  • Priorize o que faz sentido para você: Ao invés de tentar agradar a todos, busque fazer aquilo que traz felicidade. “Essa é uma época para se conectar com aquilo que te faz bem, não para corresponder às expectativas dos outros”, destaca Aline.
  • Mantenha uma rotina equilibrada: Tente manter uma alimentação balanceada e praticar atividades físicas leves, como caminhadas. Essas práticas ajudam a regular o humor e diminuem a ansiedade.


Saúde mental em primeiro lugar

O mais importante, segundo Aline, é lembrar que é normal sentir-se sobrecarregado durante o fim de ano. “Vivemos em um ritmo acelerado e, muitas vezes, esquecemos de cuidar da nossa saúde mental. Permita-se pausar, refletir e relaxar. Isso faz toda a diferença na qualidade das suas experiências e no modo como você encerra o ano”. Aproveitar o período de festas com menos cobranças e mais compaixão é um dos caminhos para atravessar essa época do ano de forma mais leve e com bem-estar garantido.

Com Assessorias

 

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