Um estudo publicado em novembro de 2024 no The New England Journal of Medicine trouxe revelações promissoras sobre a tirzepatida. É um medicamento inicialmente desenvolvido para tratar diabetes, mas que tem se destacado na luta contra a obesidade. A pesquisa revelou que, em comparação a outras medicações como semaglutida e liraglutida, a tirzepatida apresenta resultados significativamente melhores e mais duradouros, tanto na redução de peso quanto na prevenção do diabetes tipo 2.
O estudo, que acompanhou pacientes com obesidade e pré-diabetes por mais de três anos, mostrou que 92% dos participantes tratados com tirzepatida reverteram a diabetes para a normoglicemia (níveis normais de glicemia no sangue, ou seja, sem diabetes). E 99% deles (752 de 762 pessoas) permaneceram livres da doença. E a redução de peso alcançou até 20% do peso corporal inicial. Esses efeitos foram mantidos por toda a duração do estudo.
Apenas 7% dos pacientes recuperaram o peso após 17 semanas sem tratamento e 15,5% dos participantes saíram de um nível “normal” de glicemia e foram para o estágio de “pré-diabetes”. E somente 1,2% dos pacientes receberam diagnóstico de diabetes tipo 2 após encerrar o tratamento com tirzepatida.
Comparação com liraglutida e semaglutida
Outros estudos mostraram que a liraglutida, ao longo de 3 anos, levou os pacientes a uma redução de peso corporal de 6,1%. E 65,9% das pessoas com diabetes atingiram a normoglicemia. Já a semaglutida teve vários estudos, que duraram entre 1 a 5 anos. A substância atingiu uma redução média de peso de 9,7% a 15,2%. E de 69,5% a 81% dos pacientes com pré-diabetes reverteram para a normoglicemia.
O endocrinologista André Vianna, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes – Capítulo Paraná, reforça o impacto desses achados: “A tirzepatida não apenas promove uma perda de peso mais expressiva em relação às outras substâncias, mas também reduz drasticamente a progressão para diabetes tipo 2. Esses resultados demonstram que o medicamento vai além do controle glicêmico, trazendo benefícios metabólicos amplos e sustentados.”
Além disso, a pesquisa revelou que, mesmo em pacientes que perderam menos de 5% do peso, houve benefícios no controle glicêmico. “Isso sugere que a tirzepatida tem efeitos diretos na sensibilidade à insulina e na função das células beta pancreáticas, algo vital no combate ao diabetes”, ressaltou Vianna.
O medicamento ainda se destacou em relação aos outros por apresentar efeitos colaterais mais leves. Não houve relatos de eventos adversos graves. Mas para manter a redução de peso e as melhorias glicêmicas, as terapias precisam ser continuadas a longo prazo, como ocorre em outras doenças crônicas.
Por que tratar a obesidade é vital?
Mais do que uma questão estética, a obesidade é um fator desencadeador de diversas doenças crônicas, incluindo diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. No Brasil, 61,4% da população apresenta excesso de peso e 24,3% está com obesidade, segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023.
O diabetes tipo 2, que representa 90% dos casos da doença, é desencadeado pela obesidade. Por isso, o endocrinologista lidera uma campanha para que seja incluído no SUS o tratamento medicamentoso para obesidade.
Medicamentos como a tirzepatida podem beneficiar uma parcela muito maior da população e, a longo prazo, reduzir os custos públicos relacionados às complicações da obesidade e do diabetes. É um medicamento de custo elevado, mas é investimento que gera economia futura”, ressalta Vianna.
Já tem tirzepatida no Brasil?
A tirzepatida ainda não é comercializada no Brasil. Mas a expectativa é chegar às farmácias nos próximos meses. No entanto, já se sabe que virá a preços maiores que a semaglutida, que facilmente ultrapassa mil reais uma caixa com quatro doses (mas pode chegar perto dos R$ 3 mil, conforme a concentração do medicamento prescrita pelo médico). Quem tem diabetes e/ou obesidade aplica a semaglutida uma vez por semana.