Era uma vez uma mulher casada, de 36 anos, que se apaixonou por um jovem, muito jovem. Ele tinha só 13 anos. O caso veio à tona, ela foi julgada por abuso infantil, ficou presa por 6 anos e teve um bebê dele atrás das grades. Ao ganhar a liberdade, eles se casaram, tiveram mais um casal de gêmeos e, passados 23 anos juntos… será que viveram felizes para sempre?

Bom, essa é a história (quase toda real) contada em ‘Segredos de um escândalo’, drama americano que estreou nos cinemas na última semana e segue em cartaz, antes de chegar à Netflix. O filme concorre na categoria Melhor Roteiro Original do Oscar de 2024 e é indicado a vários outros prêmios no cinema, como Globo de Ouro e Critics Choice Awards.

A convite da Diamond Films – que tem mais três produções com indicações ao Oscar deste ano (Anatomia de uma Queda, Zona de Interesse e Golda – A Mulher de Uma Nação) – fomos assistir o drama, em primeira mão, dias atrás, no Cinemark do Shopping Botafogo. Saí de lá entre confusa, perplexa e sem respostas – o que cabe a cada um dos telespectadores imaginar.

Mary Kay, Villi e as filhas: história da família inspirou drama americano que pode disputar Oscar 2024 (Fotos: Reprodução de internet)

‘Segredos de um escândalo’ é inspirado em um dos casos mais rumorosos de abuso sexual infantil nos Estados Unidos, mas não traduz fielmente a história. O ano era 1996 quando a professora Mary Kay Letourneu, de 34 anos, foi presa, acusada de estuprar Villi Fualaau, então com 12 anos.

O menino era colega de turma de um dos seus quatro filhos com o então marido, que era mais velho que ela. Na verdade, Mary conheceu Vini em 1991, quando ele tinha apenas oito anos e estudava na Shorewood Elementary School, mesma escola em que a professora dava aulas  em Burien (estado de Washington, EUA). De ascendência samoana, ele vinha de uma família pouco estruturada e tinha mais 17 irmãos.

Steve, o marido traído, encontrou as cartas de amor da esposa trocadas com o menino e denunciou o caso à polícia. Mary Kay acabou sendo acusada de estupro e se declarou culpada. Na prisão, descobriu-se que ela estava grávida do estudante. A professora ficou três meses presa, mas, ao sair da prisão, reiniciou o relacionamento ilegal com Vili.

Os dois foram flagrados num carro. Desta vez, Mary Kay foi condenada a sete anos e meio de reclusão. Oito meses após o início do cumprimento da sentença, ela deu à luz sua segundo filha com o adolescente, Georgia, quando o pai ainda não tinha completado 15 anos.

O escândalo fez Vili largar os estudos. Ele enfrentou sérios problemas, como depressão e alcoolismo. No período em que Mary Kay estava presa, a sogra cuidou das crianças, de quem tinha a guarda.

Vili acabou se casando com Mary Kay em 2005. Eles permaneceram casados por 14 anos. O casal se separou em 2017 e, em 2020, Mary morreu aos 58 anos, vítima de câncer de cólon, sem jamais admitir qualquer sentimento de culpa pelo crime. Foi por amor, assim como revela uma carta de Gracie em momento emocionante de ‘Segredos de um escândalo’.

Mesmo separados, os dois mantiveram os laços. Foi Vili quem cuidou de Mary Kay quando ela adoeceu. Após a separação, Vili contou que mentiu à polícia quando foi flagrado no carro com ela. Disse ter 18 anos e se tratar de um amigo tentando ajudar durante numa crise no casamento de Mary Kay.

Vários documentários foram produzidos sobre o escândalo e o relacionamento, ao longo de três décadas. A morte da professora, em 2020, fez reacender o interesse dos americanos no caso. Menos de  um ano após Mary morrer, Vili foi avô, aos 38 anos. Seu primeiro neto, filho da sua filha mais nova, Georgia, então com 24, nasceu em janeiro de 2021.

Mary Kay Letourneu e Villi Fualaau são interpretados no filme por Julianne Moore e Charles Melton, 23 anos após escândalo (Foto: Reprodução de internet)

Professora no Brasil perde emprego após beijar aluno de 14: ‘Queria transar com ele’

Casos de mulheres que se apaixonam ou se envolvem sexualmente com homens mais novos sempre foram tabu na nossa sociedade e, muitas vezes, tratadas com desrespeito – diferentemente dos homens, aos quais é permitido exibir, sem nenhuma cerimônia. mulheres 20, 30, 40 ou até 50 anos mais jovens. Mas quando envolve crianças e adolescentes – seja por parte de homem ou de mulher – os casos se tornam polêmicos e, quase sempre, revoltantes. Com toda razão.

Episódios envolvendo mulheres são muito raros, pois os homens, como sabemos, continuam sendo os maiores acusados de cometer todo o tipo de atrocidades contra menores – pedofilia, estupro, abuso sexual e outros crimes. Mas vira e mexe algum caso de mulher acusada de abuso contra garotos na adolescência provoca escândalo e mexe com a opinião pública.

Recentemente, em Santos (SP), uma professora de 25 anos foi demitida de uma escola pública após beijar um aluno de 14. Ela ainda revelou, pelo whatsapp, seu desejo de transar com ele a uma das melhores amigas do adolescente. O caso acabou parando na polícia e a professora perdeu o emprego, mas o delegado não vê crime sexual e ela está solta.

Professora de Praia Grande (SP) confessou que beijou um aluno e que teria interesse em ter relações sexuais com ele — Foto: Reprodução

Professora confessou que beijou um aluno e que gostaria de ter relações sexuais com ele (Foto: Reprodução)

A denúncia partiu da mãe da aluna com quem a professora ‘desabafava’ sobre o beijo ao encontrar a conversa no celular da filha. Na ocasião, a professora de 25 anos, que dá aulas de Artes, contou ter beijado um estudante do 9º ano do Ensino Fundamental, além de ressaltar o desejo de “transar com ele” e convidá-lo para fumar cigarro eletrônico.

“Mas agora vem a pior parte. Quero transar com ele. Só o beijo não deu conta”, escreveu a professora à aluna, via WhatsApp, o que teria escandalizado toda a escola pública onde ela leciona e o menino estuda. Até uma briga corporal entre os estudantes foi gerada em torno do caso (veja mais no final do texto).

No filme, mulher é retratada como manipuladora, autoritária e abusiva

Mary e o marido, com as filhas: história é retratada em filme três anos após sua morte por câncer (Fotos: Reprodução da internet)

‘Segredos de um escândalo’ conta a história de uma atriz, Elizabeth Berry (Natalie Portman) que chega a uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos para conhecer a família atípica construída por Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton). Era um laboratório para o filme que ela protagonizaria sobre a vida deles.

Tirando as constantes caixas de cocô que recebiam – como protesto anônimo velado das famílias da cidade que não aceitariam o casal – Gracie e Joe viviam uma vida aparentemente pacata e segura até a chegada de Elizabeth, que revira os monstros em busca de esqueletos no armário da família e faz Joe refletir sobre sua decisão.

Ao longo do drama, Gracie se revela uma personalidade autoritária, manipuladora e, por vezes, fria, ao lidar com os filhos e o marido – agora com 36 anos, a mesma idade com a qual ela o conheceu e também a idade de Elizabeth. Joe se mostra um homem por vezes infantilizado – afinal, com a infância interrompida pelo escândalo nos tabloides e TVs americanos e a adolescência já como pai, que outras experiências na vida ele teve?

Um duelo entre duas gigantes atrizes

Natalie Portman vive Elizabeth, atriz que vai até uma pequena cidade para conhecer a família atípica construída por Gracie (Julianne Moore) – Fotos: Reprodução de internet

No filme, Gracie se sente visivelmente ameaçada pela presença um tanto invasiva de Elizabeth. As duas potentes protagonistas do filme parecem rivalizar em alguns momentos sobre a atenção de Joe.

Ele é retratado no filme como um homem bonito e atraente, porém, sem muita expressão e sem grandes histórias para contar, vivendo à sombra da mulher e criando os filhos gêmeos, já prestes a ir para a faculdade, inaugurando a tão propagada ‘síndrome do ninho vazio’.

Por sua vez, Elizabeth extrapola ao “mergulhar” na personagem e age ora como psicóloga, ora como detetive, provando seu talento como uma mulher inteligente e superdotada.

E vai tão fundo em suas pesquisas para viver essa mulher no cinema que busca sentir na pele a emoção de estar com Joe às escondidas. Acaba seduzindo o rapaz, que nunca tivera outra relação sexual além da mulher, 23 anos mais velha.

Lançado em maio de 2023 na Mostra Competitiva do Festival de Cannes, May December (título original) chega aos cinemas brasileiros dia 18 de janeiro  e, posteriormente, na Netflix. “May December” (no título original) é dirigido por Todd Haynes (diretor de “Carol” e “Mal do Século”).

Ok se você não curte muito o estilo – até por que, filmes inspirados em histórias reais nunca têm o compromisso de retratar, na íntegra, a realidade e sempre podem haver várias interpretações. Mas só a trilha sonora que domina o drama já cria um clima de suspense o tempo todo, prende a atenção do começo ao fim e já vale o ingresso.

‘Uma mulher que teve coragem de lutar pelo seu grande amor’

“Diferença de idade entre casais ainda é considerada um tabu na sociedade. Na época, o caso chocou a todos: a mulher largou o marido com quem tinha quatro filhos e ainda ficou grávida do adolescente. Saiu de casa para viver sua paixão. A ideia é que seja feito um filme dessa mulher que há quase 30 anos teve a coragem de lutar pelo seu grande amor”, diz Waleria de Carvalho, em sua análise sobre o filme para o site Sopa Cultural.

Para a jornalista,  trata-se de “um grande drama familiar com comportamentos estranhos e até um toque de narcisismo e de manipulação”. Com uma inevitável pitada de sensacionalismo em torno do filme, a história mostra “uma família que tenta se adequar aos mandos da matriarca, que parece ser boa mas nem sempre consegue”, escreve Waléria.

A colunista desmistifica toda a expectativa em torno de ‘Segredos de um escândalo’, que pode disputar o Oscar 2024. “O filme é daqueles que te prendem do começo ao fim, mas deixa muitas dúvidas no ar. Em princípio, principalmente por conta da trilha musical, parece que o telespectador irá se deparar com um daqueles suspenses de tirar o fôlego. Não é verdade”, entrega.

Seria Gracie uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista?

De fato, o final é, no mínimo, intrigante e surpreendente: será que Elizabeth consegue assimilar a verdadeira personalidade secreta de Gracie para interpretá-la no cinema como ela gostaria – como mocinha e não como vilã?

Terá Elizabeth características tão parecidas quanto as de Gracie, a ponto de confundir o papel a representar com ela própria na vida real? São muitas as interrogações com as quais o público pode sair da sala de cinema.

E, trazendo para a vida real, até que ponto histórias como essas podem ser classificadas como assédio sexual, abuso infantil ou apenas amor de verdade? O que levaria uma mulher madura a se envolver com um menor de idade? Seria Gracie uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista?

Com a palavra, psicólogos, psicanalistas e psiquiatras.

Professora que beijou aluno no Brasil: não houve crime sexual, diz delegado

O caso envolvendo a professora de 25 anos e o aluno de 14 na cidade de Santos corre em segredo de Justiça, assim como outros envolvendo menores. Mas, a depender da Polícia Civil, ela não será presa porque não se configurou como um crime.

O delegado Rodrigo Martins Iotti, que investiga o caso, concluiu que a jovem professora não cometeu crime sexual pois, com essa idade, o menino já teria discernimento suficiente para decidir a respeito de questões sexuais. Caso ele fosse um ano mais novo, a educadora responderia por estupro de vulnerável.

“Não há qualquer indício de que ela tenha forçado o suposto relacionamento, utilizando-se do cargo para obtenção de eventual favorecimento sexual”, explicou o delegado, após ouvir a professora, o aluno e responsáveis.

Apesar de não ter sido constatado crime pela Polícia Civil, o caso foi encaminhado ao Ministério Público (MP), que fará uma análise e, a partir do resultado, pode denunciar a professora pelo ato.

A professora, no entanto, perdeu o emprego. A Prefeitura de Praia Grande, por meio da Secretaria de Educação (Seduc), disse que a professora foi demitida por “má conduta” e afirmou que a direção da escola reportou o caso ao conselho tutelar.

A polícia ainda investiga o caso do adolescente que chegou a ficar internado por cinco dias após ser espancado nas ruas por três garotos da escola – inclusive o que teria beijado a professora – porque achavam que ele a havia denunciado para a diretoria. O garoto é o melhor amigo da aluna que trocava mensagens com a docente.

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