O trabalho doméstico e as responsabilidades com os filhos, que já eram grandes e desproporcionais, ficaram ainda maiores e desgastantes durante a pandemia, aumentando os riscos de problemas de saúde mental e exaustão nas mulheres. Foi o que apontou a pesquisa inédita realizada pela Behup, empresa de tecnologia e inteligência de dados, para identificar as mudanças e impactos causados após um ano de pandemia.

Nas respostas, os maiores desejos apontados para o Dia das Mães são saúde, vacina e abraço. O levantamento foi divulgado no webinar Arena de Ideias desta quinta-feira (6) e mostra que a Covid-19 colocou ainda mais pressão sobre as mulheres, que têm que dividir o seu tempo entre trabalho, tarefas domésticas e o cuidado com os filhos.

De acordo com a pesquisa, a pandemia causou um retrocesso de três décadas na participação da mulher no mercado de trabalho. Além disso, as mães relatam impacto na carreira, finanças e na saúde mental: 62% das mulheres têm medo de perder o emprego, 60,5% temem queda na renda e 56% relataram aumento do estresse. As mulheres também passaram a acumular novas tarefas durante a pandemia, como limpar a casa (73%) e cozinhar (64,7%).

Para as mães está sendo reservado o papel tradicional de cuidadoras e para os homens, de provedores. A pesquisa mostra que quem realmente está segurando a onda durante a pandemia são as mulheres, que já dedicavam duas vezes mais tempo para as tarefas do que os homens. A essas multitarefas são somados o momento de dor, incerteza, insegurança e de muita doença”, afirmou a jornalista e sócia-diretora da In Press Oficina, Patrícia Marins.

A partner da Behup, Cila Schulman, explica que está enraizada na sociedade essa falsa impressão de que a mulher consegue executar várias atividades ao mesmo tempo. O que, naturalmente, não é verdade. “Uma fake news que corre por aí é que a mulher é multitasking, que ela consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo. Isso é mentira. É um jeito de nos passar mais tarefas. O cérebro do homem e da mulher são exatamente iguais nesse sentido. Reverter isso é com informação, ter essa consciência e educar nossos filhos para isso”.

Para a consultora organizacional e coach executiva da Homero Reis – Relações Inteligentes, Thirza Reis, a sobrecarga de tarefas que tem deixado as mulheres estafadas pode causar gerar sérios prejuízos à saúde mental. “A pandemia tem evidenciado o quanto a gente ainda entende esse espaço doméstico como responsabilidade da mulher. A gente faz essas escolhas sem sequer perceber, não é algo racional. A gente vai no fluxo, quando vê já está com aquele bando de coisas na mão e nem cogitamos nos sentar com o parceiro e dizer que a vida mudou”.

Homeschooling sob a responsabilidade das mães

As aulas on-line aumentaram ainda mais a sobrecarga das mulheres, que precisam auxiliar os filhos com as tarefas diárias e conexão com a internet. E acabam, muitas vezes, renunciando à carreira profissional. Segundo a pesquisa, 27% das mães acreditam que o fechamento das escolas impactou totalmente as finanças da família e 32% acreditam que o fechamento das escolas impactou totalmente a sua saúde mental.

A pesquisa revela algumas questões bastante dramáticas sobre o homeschooling. Quando perguntamos sobre essa questão, 90% são mulheres e mães que respondem. Isso já demonstra como esse assunto está com as mães”, explicou Cila Schulman.

Thirza Reis enfatiza que o acompanhamento das aulas on-line é apenas mais uma das inúmeras atividades incorporadas na rotina das mulheres durante a pandemia. “Estamos vivendo uma situação não de home office ou homeschooling, é de “home tudo”. Não é que agora nós tornamos multitarefas, sempre fomos. É uma permeabilidade que leva a gente a uma sensação absoluta de exaustão”.

A pesquisa questionou as mulheres sobre o significado do Dia das Mães. Pela segunda vez, a data será celebrada em plena pandemia. Apesar da distância e isolamento causados pela covid-19, as emoções para a data são positivas, e 82% das palavras emocionais utilizadas em discursos espontâneos são de motivação, felicidade, relaxamento e vaidade.

Ipsos: mães se sentem julgadas

Para 46,3% das brasileiras, o sentimento de se sentirem julgadas enquanto mães é frequente. É o que aponta estudo da Ipsos realizado em 28 países. No comparativo com as respostas de pais, há uma diferença de mais de 10 pontos percentuais: 35,9% dos respondentes do sexo masculino disseram se sentir julgados frequentemente.

Além disso, 33,5% das mulheres e 47,5% dos homens afirmaram se sentir julgados às vezes. Somando as respostas do “frequentemente” e “às vezes”, 8 entre cada 10 pessoas entrevistadas pelo levantamento no Brasil sentem que a sociedade julga, em maior ou menor escala, sua maternidade ou paternidade.

Entre os principais tópicos pelos quais se sentem julgadas, as mães brasileiras citam: o comportamento do(s) filho(s) (49,7%), o que deixam ou proíbem o(s) filho(s) de fazer(em) (47,6%) e a forma como controlam os comportamentos da(s) crianças(s) (36,4%).

As mães do Brasil estão entre as que mais se sentem frequentemente julgadas no mundo, atrás apenas das indianas (60,6%), das sauditas (49,4%) e das australianas (48,5%). Na média global, o percentual de mulheres no exercício da função materna que sente julgamento frequente da sociedade é de 38%. De homens, é de 33,9%.

Foram realizadas 23 mil entrevistas em 28 países – sendo 1.000 entrevistas no Brasil – entre 23 de dezembro de 2020 e 8 de janeiro de 2021. A margem de erro para o Brasil é de 3,5 p.p..

Com Assessorias

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *