Natal é tempo de compartilhar amor, fazer o bem e renovar a esperança, inclusive para quem espera há anos por uma família. No Estado do Rio de Janeiro, mais da metade das 283 crianças e adolescentes disponíveis para adoção tem mais de 12 anos de idade. Desse total, 89% são declaradas pardas ou pretas e a maioria é do sexo masculino (57,6%), de acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Uma dessas jovens é Thayane Fonseca Marinho, de 17 anos. Ao lado dos três irmãos, Taun, de 16, Gabriel, de 14, e Luis Felipe, de 11 anos, a adolescente sonha com um futuro promissor. Uma janela de possibilidades surgiu nesta quinta-feira (23/12), no lançamento da campanha ‘Braços Abertos para a Adoção’.

A iniciativa do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) pretende incentivar a formação de novas famílias para aqueles que vivem em abrigos e instituições parceiras das Varas da Infância, da Juventude e do Idoso.

Thayane e os irmãos estão em acolhimento familiar – uma situação provisória, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para crianças e adolescente afastados da família biológica. Durante esse período, os menores são acolhidos por famílias devidamente cadastradas e selecionadas pelas varas de infância e juventude.   

“Vivemos com uma família em Campo Grande e tenho mais três irmãos ‘de coração’. Se eu pudesse pedir algo de Natal hoje, gostaria de começar, em 2022, a minha faculdade de Pedagogia. Fiz o Enem, mas ainda estou esperando o resultado. Quero ter estabilidade para proporcionar uma vida boa para os meus irmãos. Se eu pudesse fazer mais um pedido, gostaria de ser adotada pela família que convivemos. Lá temos suporte, carinho e muito amor”, revelou a jovem.  

Visita ao Cristo Redentor é adiada pelas chuvas

O evento de lançamento da campanha ‘Braços Abertos para Adoção’ incluía a visita, pela primeira vez, de um dos principais pontos turísticos do mundo, o Santuário Cristo Redentor, mas a chuva impediu o passeio. Transferido para a Paróquia São José, na Lagoa, Zona Sul do Rio, o evento reuniu 49 crianças e adolescentes de seis abrigos e instituições do Rio e Grande Rio (São João de Meriti, Duque de Caxias e São Gonçalo).

Mesmo com a mudança de planos, não faltaram sorrisos, música, encontro com o Papai Noel, distribuição de presentes, lanches e muita animação. O Padre Omar, reitor do Santuário, abençoou os menores e prometeu que a visita ao Corcovado está mantida, numa parceria com o Trem do Corcovado.

“Estamos na antevéspera do Natal, a festa da esperança. Que bom estarmos aqui reunidos, celebrando esta importante parceria já consolidada com o Tribunal, distribuindo carinho, amor e acolhimento. O tempo não ajudou, mas o passeio ainda vai acontecer”,  garantiu o sacerdote.  

Adolescente terá oportunidade no Jovem Aprendiz

Vivendo no abrigo Casa de Passagem Futuro Feliz, em Duque de Caxias, Região Metropolitana do Rio, Luís Gabriel da Silva, de 16 anos, exibia no pulso o relógio que acabara de ganhar do Papai Noel. Durante a pandemia, o jovem perdeu a mãe. O pai não chegou a conhecer.  

“Fiquei andando pelas ruas até que resolvi pedir ajuda. No abrigo tenho carinho, atenção, lugar para dormir, o que comer e posso estudar”,  contou o rapaz que nem imagina que vai ter a oportunidade de começar a trabalhar no ano que vem. 

Gabriel ainda não sabe, mas já está com 2022 encaminhado. Vai ser Jovem Aprendiz, trabalhando no administrativo da Fetranspor. Foi o que anunciou a coordenadora do abrigo, Maria da Penha Santos. “No abrigo trabalhamos para que eles tenham autonomia e que possam um dia trilhar um caminho de sucesso”, disse ela.

Maior procura é por crianças de 0 a 3 anos, sem irmãos e saudáveis

O juiz Sérgio Luiz Ribeiro de Souza, titular da 4ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Comarca da Capital, que cantou e tocou violão durante o evento, contou que o maior desafio no processo de adoção é mostrar para os habilitados crianças e adolescentes reais.  

“Costumo dizer que não procuro uma criança ou adolescente para a família, mas sim uma família para essas crianças e adolescentes que estão aptos para adoção. Precisamos dar mais visibilidade no sentido de ampliar o perfil que é procurado”,  explicou.  

Segundo ele, a maioria dos casos de adoção é de crianças de 0 a 3 anos, sem irmãos e saudáveis. “Para ampliar essa descrição, é preciso promover mais encontros entre habilitados e aptos para adoção. Desses encontros, surgem muitas adoções, inclusive de um perfil que não era pretendido inicialmente”, aposta o magistrado.

Para Juliana Kalichsztein, titular da Vara da Infância, Juventude e do Idoso de Duque de Caxias, eventos como o desta quinta-feira precisam entrar no calendário anual do TJ-RJ. Este precisa ser o primeiro de muitos. De acordo com ela, ‘Braços abertos para adoção’ traz uma mensagem de cuidado e de carinho.

“Essas crianças e adolescentes acolhidos têm um histórico muito triste de vida, vieram de situação de risco e de muita carência afetiva. Iniciativas como essa trazem esperança, acolhimento, sentimento de que estão sendo cuidados e preparados para o futuro”, destacou a juíza.  

TJ quer apoio da sociedade para ampliar adoção

Para o presidente do TJRJ, desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira, o Judiciário do Rio deve ir além da prestação jurisdicional e abraçar causas importantes, como a adoção.

“Devemos dar visibilidade a essas crianças porque a adoção é uma causa que deve unir todas as forças, principalmente a sociedade. Quando conseguimos proporcionar um futuro melhor para elas, todos ganham”, comentou.

Figueira reconhece que a adoção não é um processo simples. “Muito pelo contrário, é muito cuidadoso. A relação entre a família e o adotado precisa de um certo tempo para maturar até chegar a um final feliz. Para 2022, esperamos uma maior participação da sociedade”, disse o presidente do TJRJ.

Da Ascom do TJ-RJ, com Redação

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