Mãe de Rocco, de 6 anos, e Leon, de 1, a apresentadora Rafa Brites noticiou recentemente, em seu instagram, que fará o explante de silicone. A cirurgia de retirada da prótese está marcada para o dia 2 de junho. A decisão foi tomada depois de amamentar os dois filhos e também conhecer histórias de mulheres que tiveram complicações depois de colocar silicone.

“Meu peito ‘caiu’ depois de duas amamentações e isso faz com que o silicone fique marcado. Teria que refazer a cirurgia e colocar outra prótese; ao invés de substituir, decidi tirar”, contou Brites. “Resolvi tirar esse plástico do meu corpo, mas é claro que cada um faz o que quer com o próprio corpo”, justificou ela.

A apresentadora se junta ao time de mulheres que decidiram pela remoção da prótese mamária, tendência que vem crescendo nos últimos anos, seja por questões estéticas – um novo padrão de beleza, mais natural, parece predominar -, seja por questões de saúde. Muitas mulheres vêm relatando problemas, como os que Rafa Brites viu no perfil Perigos do Silicone, que tem mais de 234 mil seguidores.

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Dores, coceira, mancha, feridas pelo corpo: era o silicone

Foi o que aconteceu com Marileia Cardoso (foto), aos 50 anos. Uma dor aguda e insistente no quadril a levou a vários médicos. Ela associou o problema à prótese de silicone, implantada cerca de um ano antes, para corrigir uma assimetria entre os seios. “‘Essa dor não tem nada a ver com o silicone que você implantou”, me diziam. ‘É psicológica’.

A dor progrediu e, com o passar do tempo, atingiu mãos e braços. Marileia também começou a sentir coceiras e a identificar manchas e feridas em todo o corpo. Passou por cirurgias, fisioterapia. Tomou anti-inflamatórios e anti-alérgicos. Fez tratamentos psicológicos e psiquiátricos.

Como o único fato novo em sua vida era a inserção do silicone, Marileia optou – contrariando a opinião de médicos e até de sua família – por remover a prótese. A partir daí, começou a sentir melhoras em todas as suas queixas. E sua vida finalmente começou a voltar ao normal.

 

‘Oito entre 10 cirurgias com silicone são de explante’, diz médico

Bruno Herkenhoff, cirurgião plástico e diretor da SBCP-RJ (Foto: Divulgação)

 

A história de Marileia está longe de ser um caso isolado. A busca pelo explante de próteses de silicone cresceu em proporção inédita nos últimos anos. Levantamento clínico recente feito pelo cirurgião plástico Bruno Herkenhoff (foto) revela que, em seu consultório, das cirurgias plásticas que envolvem o silicone, duas são para colocar e oito para retirar.

“A motivação da paciente varia entre a proteção da saúde e uma nova tendência em termos estéticos, que são seios menores e mais naturais”, explica o médico, que é diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica do Rio de Janeiro (SBCP-RJ) e se tornou referência em explante de prótese de silicone em todo o Brasil.

A questão também tem nuances psicológicas. Rafa relacionou o desejo de colocar silicone a problemas com distorção de imagem: “Me equivoquei na época, hoje em dia jamais teria colocado, acho que foi uma distorção de imagem, sentia que eu tinha muito menos peito do que eu realmente possuía”. E explica: “Quando eu coloquei silicone era muito nova, fui influenciada pela moda, pela cultura da época, fui influenciada pelas Angels da Victoria’s Secret, que eram muito magras e peitudas”.

Segundo ele, hoje, existem outras alternativas que a maioria das mulheres ainda desconhece. “Existem técnicas cirúrgicas capazes de proporcionar seios mais bonitos e volumosos sem o uso da prótese. Às vezes usamos gordura de outras partes do corpo. Às vezes, reestruturamos o próprio tecido mamário”, explica ele.

‘Doença do silicone’ x Síndrome Asia

O caso de Marileia foi uma típica tempestade inflamatória possivelmente causada pela prótese. Em suas aulas por congressos de cirurgia plástica Brasil afora, Dr. Herkenhoff costuma explicar aos médicos que este não é um diagnóstico fácil.

“Não é possível prever quais pacientes irão desenvolver a condição. Os sintomas são sistêmicos e inespecíficos, e o diagnóstico em geral é feito por exclusão. O que hoje se sabe é que tanto a síndrome Asia como a doença do silicone existem, são patologias com grande subnotificação e as queixas das pacientes não podem ser desprezadas ou encaradas como ‘sintomas psicológicos'”, esclareceu o especialista.

A chamada Doença do Silicone é um termo popular para se referir a uma série de sintomas de disfunções autoimunes induzidas pela prótese mamária. Já a Síndrome Asia (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants) ou Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvantes, é uma doença que pode ser desencadeada por reações autoimunes a dispositivos externos, uma prótese de silicone ou um marca-passo, por exemplo. “Quem tem doença autoimune ou histórico na família, normalmente, não deve colocar silicone”, alerta Dr. Herkenhoff.

Sintomas se confundem e relatos aumentam na internet

Os sintomas de ambas as condições se confundem entre si, e podem ser sinais de diversas outras doenças. Marileia, com o tempo, deixou de escrever, parou de fazer musculação. “Doía braço, pescoço, perna, ombro, costas, mãos, dedos. Até que um dia eu caí com uma dor forte nos joelhos e não consegui mais levantar. Foi então que eu fui pesquisar, ler. Entender se existia mais alguém com os mesmos sintomas que os meus”, contou.

Foi na Internet que ela encontrou o grupo Doença do Silicone, composto por mulheres que se conheceram através de blogs e redes sociais e que compartilhavam histórias parecidas com a sua. “Desde então, comecei a juntar dinheiro para fazer o explante”.

Hoje, já explantada, ela comemora o alívio das queixas. “Tem menos de um ano que eu explantei, mas, aos poucos, sinto meu corpo desinflamando.  As dores diminuíram. As coceiras sumiram. Quase não vejo manchas. Esses dias, tomei coragem de agachar. E descobri que meu joelho está ótimo.”

‘Você já avisou ao seu marido que vai ficar reta?’, disse o cardiologista

A história da psicóloga Luciana Moraes, 55 anos, é um pouco diferente. Ela não ficou doente. Mas cansou de “administrar” a prótese colocada em 2001, quando cedeu ao apelo do peito grande.

“A prótese não ficava no lugar. Tive que trocar, corrigir. E então cansei. E decidi explantar. Quando cheguei ao cardiologista para fazer o exame do risco cirúrgico, ele disse: ‘Mas vai tirar por quê? Você já falou com seu marido sobre isso? Ele sabe que você vai ficar reta? A síndrome ASIA é uma invenção. Você vai ficar com um buraco aí’. Imagina ouvir isso de um médico?”, contou a psicóloga.

Mas ela já estava decidida. Fez o explante, seguido da mastopexia – estruturação do seio com o tecido natural do corpo humano – e hoje se sente muito feliz. Luciana acredita que, hoje, as mulheres se conhecem mais e se sentem mais seguras acerca de suas preferências e de opiniões inóspitas, guiadas por padrões estéticos que já não fazem tanto sentido.

“Mas acho que essas notícias acerca de doenças e de desconfortos têm que chegar aos homens. Não só às mulheres. Pois eles são incentivadores disso”, destacou.

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