Além de fatores de risco como diabetes, obesidade e hipertensão arterial, como vimos aqui, o rim pode se degenerar em decorrência de problemas cardíacos, como pode ser o caso do apresentador Fausto Silva, o Faustão. Diagnosticado com insuficiência cardíaca e renal aos 73 anos e fazendo hemodiálise três vezes por semana, ele passou por transplantes de coração e rim em apenas seis meses. Segundo especialistas, o cuidado é importante porque a combinação da insuficiência cardíaca com a hemodiálise representa um grande risco.
As doenças cardiovasculares são as principais causas de morbidade e mortalidade em pacientes submetidos a tratamento dialítico, contando com quase 40% das hospitalizações e aproximadamente 50% dos óbitos. A taxa de mortalidade cardiovascular em pacientes com doença renal em fase terminal é 10-20 vezes maior que na população em geral, sendo a taxa de sobrevida em cinco anos estimada em cerca de 20%.
Segundo artigo publicado no Jornal Brasileiro de Nefrologia, a presença de doenças cardiovasculares em pacientes com doença renal crônica é mais elevada do que na população geral, inclusive naqueles que se encontram na fase pré-dialítica – ou seja, antes da hemodiálise.
“Quando o paciente tem doenças que podem sobrecarregar a função do rim a longo prazo, como hipertensão, diabetes, doenças reumatológicas e glomerulonefrites, é preciso de um acompanhamento crônico com um nefrologista”, explica o urologista e especialista em Transplante Renal pela Universidade de Brasília (UnB), Rodrigo Rosa Lima.
De acordo com o nefrologista Bruno Zawadzki, diretor médico da DaVita Tratamento Renal, pacientes renais crônicos têm maiores chances de apresentar insuficiência cardíaca, quando o coração não consegue bombear sangue ou encher-se de sangue adequadamente, como é o caso de Faustão.
A relação entre a saúde dos rins e o coração
Zawadzki explica que os rins e o coração são órgãos vitais para o organismo, e a relação entre eles é fundamental para o bom funcionamento do corpo. Ambos trabalham juntos e quando um deles apresenta algum problema em sua funcionalidade, prejudica o desempenho do outro. Isso significa que uma doença renal pode favorecer o desenvolvimento de doenças cardíacas e vice-versa.
“Os rins são responsáveis por filtrar os resíduos e o excesso de fluidos do sangue, mantendo o equilíbrio eletrolítico e a pressão arterial adequada. E a saúde cardiovascular é responsável por fornecer o sangue e o oxigênio necessários para o funcionamento adequado dos rins”, complementa.
Quando o paciente é diagnosticado com insuficiência renal, o organismo passa a acumular toxinas que deveriam ser filtradas pelos rins, o que pode desencadear por exemplo, a calcificação dos vasos sanguíneos, um fator de risco para doenças cardiovasculares.
De acordo com o especialista, pacientes renais crônicos também desenvolvem hipertrofia de ventrículo esquerdo (condição cardíaca em que o músculo da principal câmara de bombeamento do coração torna-se anormalmente espesso) e doença isquêmica, que causa dores ou desconfortos no peito, quando uma parte do coração não recebe sangue suficiente para bombear de maneira adequada.
Por isso, o paciente renal deve ter um acompanhamento médico multidisciplinar, principalmente com um cardiologista para entender os riscos e auxiliar na prevenção de problemas do coração.
Entenda como a insuficiência cardíaca pode afetar os rins
Via final de muitas doenças cardiovasculares, a insuficiência cardíaca (IC) ocorre quando o coração não consegue bombear o sangue adequadamente para todo o corpo, seja por não ter “força” o suficiente para fazer o trabalho ou por ter que se “esforçar” demais para conseguir realizar a função. Com isso, a circulação sanguínea fica descompensada, o que pode causar diversos outros problemas secundários, como alterações de fluxo aos rins, impactando o funcionamento em curto ou em longo prazos.
“Aproximadamente 70% dos casos de síndrome cardiorrenal advêm de piora da função cardíaca em um contexto de IC descompensada. Quando um paciente passa pelo transplante do coração, o organismo precisa se recuperar da ‘agressão’ da própria cirurgia e se adaptar ao uso das medicações necessárias. Os imunossupressores, por exemplo, que são vitais para transplantados, também afetam os rins”, explica Alexandre Soeiro, coordenador do Programa de Insuficiência Cardíaca e Transplante Cardíaco do Hcor.
O critério diagnóstico mais comumente utilizado para detecção da síndrome cardiorrenal é o aumento da creatinina sérica. “A realização desse exame já é uma prática clínica para o acompanhamento de pacientes com doenças cardiovasculares e/ou renais. Todos os nossos esforços visam estabilizar os níveis, mas quando a função renal chega a 15%, é preciso iniciar o tratamento de hemodiálise, para manter o equilíbrio das substâncias essenciais para o organismo”, esclarece o especialista.
Caso de Faustão exige cuidados especiais
Dr Rodrigo esclarece que o caso do Faustão, que precisou ser submetido a dois transplantes de órgãos diferentes, é incomum e exige cuidado especial.
“É preciso muita a atenção ao uso dos medicamentos e seguir com o acompanhamento com os especialistas adequados: cardiologista e cirurgião cardíaco no caso do transplante do coração, e nefrologista e urologista no caso do transplante renal”, diz.
O especialista explica que as chances de uma rejeição são baixas, mas também demandam atenção. De acordo com ele, existem diferentes tipos de rejeição, causadas por anticorpos ou rejeição das células, que podem ser evitadas ou retardadas ao máximo se o paciente fizer o uso de imunossupressores de modo adequado.
“Não existe imunossupressor perfeito, que impeça a longo prazo o processo de rejeição. Para o rim, por exemplo, a média de duração de funcionamento do transplante é de 12 a 15 anos. Mas existem pacientes com rim em ótimo funcionamento por mais de 20 a 25 anos. Cada caso é avaliado individualmente”, pontua Rodrigo.
Conforme o médico, o transplante restaura a função renal do paciente, trazendo significativa melhora na qualidade de vida, uma vez que deixa a pessoa livre do processo de diálise, que faz a filtragem das impurezas do sangue, principal função dos rins, de forma artificial por meio de um aparelho dialisador.
O tempo de recuperação após o transplante varia bastante, explica Rodrigo, dependendo das condições do órgão doado e do paciente que o recebeu.
“Pode variar de uma semana até mais de um mês. Em casos de transplante renal intervivos, os receptores costumam receber alta hospitalar com menos de uma semana de cirurgia. Após o período de internação, é muito importante que o paciente mantenha as consultas regulares e o repouso necessário nas primeiras semanas, quando o organismo ainda está em recuperação”, destaca o especialista.
O uso correto dos medicamentos também interfere na qualidade de vida dos transplantados, lembra Rodrigo. Isso porque os remédios imunossupressores são prescritos para diminuir as chances de rejeição do órgão recebido.
“Os pacientes transplantados devem usar esses imunossupressores para o resto da vida e em caso de abandono da medicação ou uso irregular, o resultado será a perda do rim transplantado e outras complicações”, alerta o médico.
Ele também orienta que é fundamental seguir uma rotina adequada de alimentação e todas as orientações do nefrologista. “É também importantíssimo evitar ambientes com aglomerações, para reduzir o risco de infecções oportunistas neste período em que o organismo está mais debilitado”, destaca o médico.
Prevenção da doença renal crônica
A prevenção ainda é a melhor forma de evitar problemas com a função destes órgãos. Adotar um estilo de vida saudável é fundamental para que o organismo funcione corretamente.
“Não fumar, ingerir baixa quantidade de gordura e se exercitar regularmente são alguns dos hábitos para manter uma rotina equilibrada”, destaca Zawadzki.
Reduzir a ingestão de sal e açúcar, manter o peso ideal, evitar estresse e cuidar da saúde mental também auxiliam nos cuidados não só dos rins e do coração, mas de todo o organismo.
Com Assessorias