Medicamentos para a obesidade como o Ozempic, Victoza e Mounjaro têm ganhado cada vez mais popularidade entre quem deseja perder peso. Apesar de serem indicados para o tratamento da diabetes, atuando no controle glicêmico, esses medicamentos são usados para perda de peso por terem ação na regulação da fome, auxiliando na saciedade e diminuição do apetite.
Nesse cenário, pesquisadores da Universidade da Flórida desenvolveram uma nova droga capaz de auxiliar no tratamento da obesidade que, em vez de afetar o apetite ou a ingestão de alimentos, simula a prática de atividade física, fazendo com que o organismo aja como se estivesse se exercitando e, consequentemente, auxiliando na perda de peso. A descoberta foi publicada em setembro no periódico cientifico Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics.
O novo medicamento, chamado SLU-PP-332, pertence a uma classe chamada de mimetizadores de exercícios, assim promovendo benefícios da prática de atividade física mesmo sem sua realização. Essa substância tem como alvo um grupo de proteínas do corpo conhecidas como ERRs (receptores relacionados ao estrogênio), que são mais ativas durante a prática de exercícios e são responsáveis pela ativação de vias metabólicas importantes em tecido que consomem energia, como músculos, coração e cérebro.
Dessa forma, a droga estimula uma via metabólica natural que normalmente responde ao exercício, fazendo com que o corpo aja como se estivesse treinando para uma maratona e, consequentemente, promovendo maior gasto energético e aceleração do metabolismo da gordura. A nova droga ainda está em estágios iniciais de desenvolvimento.
Testes em camundongos obesos
Ratos tratados com a substância ganharam 10 vezes menos gordura em comparação aos camundongos não tratados, além de perderem 12% do peso corporal
Mas testes em camundongos obesos mostraram que, com o medicamento, o metabolismo foi acelerado e passou a utilizar ácido graxos de maneira muito semelhante ao que ocorre em pessoas se exercitando ou em jejum, o que fez com que os animais começassem a perder peso.
Além disso, o tratamento também aumentou a resistência, ajudando os camundongos a correrem quase 50% mais longe do que conseguiam antes. De acordo com a pesquisa, o tratamento de camundongos obesos com o medicamento, duas vezes por dia durante um mês, fez com que o ganho de gordura fosse 10 vezes menor em comparação aos camundongos não tratados, além de perderem 12% do peso corporal com a mesma alimentação e prática de exercícios do grupo de controle.
Os pesquisadores disseram que também publicarão um trabalho em breve que mostra evidências da ação do composto no fortalecimento do músculo cardíaco, assim auxiliando no tratamento de insuficiência cardíaca em camundongos. O medicamento não apresentou efeitos colaterais e o próximo passo dos pesquisadores é refiná-lo para transformá-lo em uma pílula em vez de injeção. Depois, a droga será testada novamente em animais antes dos testes em humanos.
No futuro, o medicamento pode ajudar a tratar não somente a obesidade, mas uma série de outras doenças metabólicas, como diabetes e perda muscular relacionada ao envelhecimento”, diz Deborah Beranger, endocrinologista, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).
Ela lembra que medicamentos levam anos para serem desenvolvidos, mas, com o aumento no interesse por essas drogas capazes de tratar a obesidade, devemos observar uma aceleração nesse processo graças ao maior investimento em pesquisas. “E uma substância como essa ainda seria de grande ajuda, por exemplo, para a manutenção da massa muscular durante a perda de peso ou o envelhecimento”, finaliza a Dra. Deborah Beranger.