Estamos permanentemente preocupados em como ampliar o acesso da população a serviços, a tecnologias, a produtos. A nossa expectativa é que, se tudo der certo, ao final do ano que vem, a gente já esteja tratando duas doenças de grande importância para o Sistema Único de Saúde, já com produtos nacionais. O primeiro produto o Ministério da Saúde está pagando R$ 7.5 milhões por paciente. A nossa ideia é entrar, dependendo do produto, entre 10% e 20% dos valores hoje comercializados nos Estados Unidos, que é referência para o SUS também”, disse Moreira.
Este ano ainda nós vamos iniciar um estudo clínico de um produto, de uma carteira de seis, que pode se transformar em 12, aproveitando toda a capacidade de produção da própria Fiocruz, cuja base tecnológica para produção de terapias gênicas é a mesma que nós utilizamos para produção da vacina da Covid. Então, tem um atalho aí. Mas a ideia é ampliar nossa rede de cooperação para fazer a validação clínica desses produtos”, disse.
Hospital da Lagoa terá Centro de Doenças Raras
Queremos ampliar uma atividade que a gente já faz hoje com uma certa limitação de infraestrutura, que é o Centro de Doenças Raras. A Fiocruz é essa referência nacional, mas ela também está entrando, inaugurando agora uma outra área que não é só da produção do conhecimento, da definição de protocolos para atendimento de doenças raras, mas também de desenvolvimento de produtos para doenças raras”, disse.
A Fiocruz vai agora fazer uma fusão com o Hospital de Lagoa para instalar lá o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, aumentando a nossa capacidade de atuação nessas três prioridades, mas sobretudo na saúde do adolescente, que é um vazio assistencial no Brasil. A gente quer avançar muito em tratamento de doenças metabólicas, saúde mental e tudo mais que envolve a saúde dos nossos adolescentes”.
Como funciona a produção na Fiocruz
- Acesso: A Fiocruz trabalha para garantir o acesso da população a tratamentos inovadores e de alto custo, fortalecendo o SUS. A instituição se dedica à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias que podem levar a tratamentos mais eficazes e acessíveis para doenças raras.
- Inovação: A Fiocruz tem o objetivo de produzir um dos medicamentos para AME em território nacional, com o objetivo de garantir o acesso da população a tratamentos inovadores e pioneiros na América Latina. A produção do medicamento pela Fiocruz deve ocorrer em fases com monitoramento contínuo, desde a submissão do projeto até a verificação da internalização da tecnologia.
- Produção nacional: A parceria para produção do Nusinersena é um marco para a tecnologia e a capacidade produtiva do Brasil. O projeto da Fiocruz é focado na produção do medicamento em território nacional, com total domínio tecnológico, o que trará mais economia aos cofres públicos e uma plataforma tecnológica inédita no país.
- A Fiocruz, por meio de seus projetos de pesquisa e desenvolvimento, busca garantir o acesso equitativo a tratamentos inovadores, como o tratamento para a AME. Além disso, a instituição contribui com informações e tecnologia para o acesso a outras terapias, como o Zolgensma, uma terapia gênica que o SUS também oferece para casos específicos.
- Tecnologia: A plataforma tecnológica desenvolvida pela Fiocruz para a produção do Nusinersena tem potencial para ser utilizada no desenvolvimento de medicamentos para outras doenças raras.
- Estratégia: A transição demográfica exige que a Fiocruz amplie sua carteira de produtos direcionada ao tratamento de doenças raras, como a AME, e a introdução deste novo produto reflete a estratégia da fundação.
Medicamentos para AME no SUS e a participação da Fiocruz
- Zolgensma: Uma terapia gênica de dose única, considerada um dos mais caros do mundo, foi incorporada ao SUS para pacientes com AME tipo 1, especialmente crianças com até 6 meses e que não utilizam ventilação invasiva por mais de 16 horas por dia. Embora o tratamento seja oferecido pelo SUS, a Fiocruz atua na pesquisa, no desenvolvimento e na produção de tecnologias que podem viabilizar o acesso a esses tratamentos.
- Nusinersena (Spinraza): É o medicamento injetável que a Fiocruz passará a produzir integralmente no Brasil em parceria com a Hypera Pharma e Aurisco Pharmaceutical. A produção nacional visa reduzir a dependência de importações e garantir o acesso ao tratamento no SUS. O princípio ativo é a nusinersena, um tipo de medicamento que estimula a produção de uma proteína essencial para os neurônios motores.
- Risdiplam: Foi incorporado recentemente ao SUS, mas sua publicação e a atualização do protocolo ainda estão pendentes. A forma oral do medicamento exige ajustes logísticos para que os estados possam implementá-lo.
De acordo com o Ministério da Saúde, a atrofia muscular espinhal (AME) é uma doença rara, degenerativa, passada de pais para filhos e que interfere na capacidade do corpo de produzir uma proteína essencial para a sobrevivência dos neurônios motores, responsáveis pelos gestos voluntários vitais simples do corpo, como respirar, engolir e se mover.
Os indivíduos nascem com uma alteração genética que perde os neurônios, nervos responsáveis pelos movimentos, que estão na região da medula”. A alteração genética faz com que não haja produção de uma substância que deixa esse neurônio saudável. Não existe cura para a doença, mas a esperança de tratamento nos últimos anos animou muitas famílias, que recorrem à Justiça para ter acesso às medicações pelo SUS.




