Cirurgia de reconstrução da mama ajuda a recuperar a autoestima da mulher mastectomizada (Foto: Divulgação)
Cirurgia de reconstrução da mama ajuda a recuperar a autoestima da mulher mastectomizada (Foto: Divulgação)

Mesmo nos casos mais graves, como quando há necessidade da retirada total da mama por conta de um câncer, é possível realizar a reconstrução imediata logo após a mastectomia de forma rápida, segura e eficiente. As técnicas empregadas neste procedimento podem variar de acordo com a indicação do mastologista, que determinará alguns pontos básicos que nortearão a escolha do cirurgião plástico no processo. É preciso definir se vai ser uma cirurgia conservadora (com retirada parcial) ou mastectomia total (retirada total da mama), sendo a decisão baseada no tamanho do tumor e volume da mama.

Entre os benefícios identificados por conta da reconstrução, o mais significativo está relacionado à parte psicológica. “O cirurgião plástico tem um importante papel nesta questão, já que procura melhorar a qualidade de vida da mulher submetida à mastectomia, atenuando o impacto emocional e físico provocado pela cirurgia radical e com o objetivo imediato da reparação, restaurando a forma e o volume da mama retirada e preservando assim a autoimagem da paciente. Isso contribui para sua recuperação social de forma mais rápida”, explica o cirurgião plástico Alexandre Piassi.

Para a psicóloga Nancy Erlach Danon, outro aspecto positivo em relação à reconstrução mamária é a recuperação da vida sexual da paciente. “Em muitos casos, a mulher que passa por uma cirurgia nas mamas tem sua vida sexual alterada para melhor porque as novas formas agradam-na ainda mais. Muitas delas sentem-se mais bonitas e atraentes, o que é benéfico para sua relação com o parceiro”, afirma.

Mas como é possível criar uma nova mama? Ela será igual à anterior?  A reconstrução pode atrapalhar o tratamento da doença? Essas são algumas das questões mais frequentes em clínicas e hospitais quando a conversa é sobre reconstrução com a paciente que será submetida à cirurgia para o câncer de mama.  Responsável pela área de reconstrução de mama do Hospital dos Servidores do Rio e diretora da Clínica Beauté, também no Rio, a cirurgiã plástica Brunna Salvarezz tira todas as dúvidas das leitoras do Blog Vida & Ação.

Sem restrição a roupas, biquíni ou relação sexual

Muitas mulheres que se submetem a reconstrução de mama levam uma vida relativamente normal, sem restrições ao uso de roupas, biquínis ou relações sexuais. “O que efetivamente fazemos é uma “imitação” da mama original, muito semelhante na aparência e no formato, mas muito diferente na função. O nível de semelhança dependerá muito do estágio em que a doença for descoberta. Nos casos em que a paciente é diagnosticada precocemente, existe a possibilidade de preservação da pele, do mamilo e até de algum tecido mamário”, afirma Brunna.

Ela ressalta, porém, que o nome reconstrução de mama é utilizado de maneira incorreta. “Na realidade não é possível reconstruir efetivamente uma mama. Digo isso porque não existe em nosso organismo nenhum outro local onde seja possível buscar tecido glandular mamário, com ductos e papilas, com capacidade de produção de láctea entre outras funções”, diz ela.

Brunna afirma que em geral a consistência é mais endurecida porque utilizamos como base para as reconstruções próteses e/ou músculos, dependendo de cada caso. “A sensibilidade é extremamente reduzida, principalmente na área central e o novo mamilo não possuirá capacidade de ereção, ou resposta aos estímulos externos. Também não existirá produção láctea ou de qualquer outra secreção glandular”, explica.

Segundo ela, quanto menor for a ressecção melhor será o resultado da reconstrução. “Existem casos em que é praticamente imperceptível, mas para isso é fundamental que a doença seja descoberta logo no início. Quando tratamos do tamanho e formato é possível chegarmos bem próximos da realidade”.

Ela ressalta ainda que pode acontecer de o processo de reconstrução retardar o início do tratamento complementar da doença e é importante que a paciente esteja ciente disso antes de tomar a decisão.”Isso pode ocorrer nos casos de reconstrução imediata (a mama é ressecada e reconstruída na mesma cirurgia), por se tratar de uma cirurgia mais longa, complexa e mais suscetível a complicações pós-operatórias. Nessa situação, caso a paciente necessite ser submetida à radioterapia ou a quimioterapia complementar, será necessário aguardarmos a resolução da complicação para então darmos início ao tratamento”, relata Brunna.

Escolhendo o momento de reconstruir a mama

Como explica a médica, existem duas opções principais para o momento da reconstrução da mama, no mesmo momento da ressecção ou após o término de todo o tratamento. “A palavra escolha só pode ser utilizada para uma parcela das mulheres com câncer de mama, digo isso porque em alguns casos onde a doença já se encontra avançada, a reconstrução no mesmo tempo esta contraindicada formalmente”, afirma dra Brunna.

“A reconstrução imediata pode parecer o melhor dos mundos. No imaginário da paciente pode parecer que ela entrará com uma mama com câncer e sairá com uma mama igual e sem o câncer, mas não é bem assim que as coisas funcionam.

A primeira coisa que precisa ficar esclarecida para a paciente é que só no momento da cirurgia será possível determinar com exatidão o tipo de reconstrução que será realizada. Em alguns casos o tumor se apresenta diferente do que os exames pré-operatórios indicavam, e a programação precisa ser alterada. Uma paciente que inicialmente era candidata a reconstrução imediata, pode deixar de ser”, afirma a cirurgiã.

“Considerando que a reconstrução imediata seja possível realmente, é importante lembrar que em geral essa será a primeira etapa da sua reconstrução que, sem dúvida, será composta de mais etapas e que em geral serão no mínimo três procedimentos para que a sensação de mama volte a existir.Também é importante entender que a reconstrução imediata é uma cirurgia muito mais complexa que apenas a mastectomia e por isso susceptível a um maior número de complicações pós-operatórias. No caso de alguma complicação, o tratamento desta deverá ser concluído para que seja possível realizar algum tratamento complementar do câncer como radioterapia e quimioterapia”, detalha Dra Brunna.

O fundamental em todo esse processo é a paciente ter o cirurgião plástico disponível na sua mastectomia (pois se for possível ele já começará seu processo de reconstrução), estar ciente que a decisão definitiva da reconstrução só poderá ser tomada durante a cirurgia, discutir todas as opções possíveis de reconstrução, e entender que naquele momento todos os médicos que ela escolheu estão focados em curá-la do câncer.  “Esse é o nosso maior objetivo, e que após esse objetivo ter sido alcançado, todos os esforços serão empreendidos em resgatá-la como mulher”, completa Brunna.

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