Com o Dia dos Namorados se aproximando é importante falar de um sentimento que está muito presente na maioria das relações: o ciúme. Na dose certa, dizem muitos casais, ele até apimenta a relação. Mas quando saber se ele é excessivo ou tóxico? E quando é hora de buscar ajuda? Nesta edição especial do Palavra de Especialista, convidamos a dra Andrea Ladislau a falar mais a respeito deste sentimento que, se destemperado, pode colocar a perder toda a relação e até culminar em violência e tragédia. Confira!

 

Por Andrea Ladislau*

Ciúmes, um sentimento difícil, muitas vezes, de delicado controle. Alguns até dizem que ele é o “Tempero da relação”. Mas será que é mesmo?! Se faz sofrer, se dói, como pode ser um tempero? Bem verdade que, não se pode negar que ele é um tipo de sentimento comum e que está muito ligado ao medo de perder. Medo de perder o (a) parceiro (a) ou mesmo, um medo de perder o controle que se acredita deter sobre o outro. Motivo pelo qual, consideramos que o ciúme está muito mais relacionado a este “controle” do que ao amor propriamente dito.

O ciúme natural, ou que não causa prejuízo, surge por alguma situação específica em que a pessoa se sente ameaçada, com medo de perder a pessoa amada, em caso de iminência de risco. Esse ciúme é direcionado no sentido de proteger a relação. Ele surge e não permanece de forma a perturbar a vida psíquica do indivíduo. 

No ciúme patológico, o indivíduo constrói um padrão de comportamento controlador e inseguro que se retroalimenta num dilema interior! O ciumento desenvolve uma “síndrome de detetive”, onde sente a necessidade em ficar monitorando e controlando totalmente os passos e sentimentos do outro em busca da comprovação de uma infidelidade. Nesse caso, existe o sofrimento, tanto para quem sente ciúmes, quanto para quem é o alvo do sentimento. É um ciúme causado por situações ou ideias irreais, fantasiosas ou até mesmo delirantes.

As explicações psicológicas para o ciúme demonstram características em que detectamos que o ciumento, com o passar do tempo, torna-se opressor e possessivo e isso pode ser originário de um possível desamparo na infância. Ou por rejeição ou por vivências agressivas ao longo da vida que geram muito medo. E por temer o abandono mais uma vez, distorce a realidade e se comporta ou se sente como se fosse o verdadeiro “dono” da pessoa e da relação.

O ciumento também pode desenvolver comportamentos paranoicos, com ideias de perseguição permanentes, obsessivas e que podem comprometer todo o seu equilíbrio emocional. Levando-o a sentir ciúmes até mesmo do passado e das relações antigas vividas pelo outro. Um tipo de comportamento intimamente ligado à baixa autoestima, ao medo da perda, ao complexo de inferioridade, a insegurança, que pode evidenciar até mesmo outros sintomas de transtornos psíquicos.

Esse ciúme que causa dor e desespero reflete a perda do equilíbrio emocional e a limitação da vida e das relações interpessoais do ciumento. Além, claro, de um baita sofrimento e a possibilidade de surgirem doenças físicas causadas pelo mental adoecido.

Portanto, faz-se necessário a orientação e cuidado tanto do ciumento, quanto de sua vítima, para que não perpetuem os ciclos. O que é muito comum. Se não houver tratamento e cura, o ciumento vai estar sempre em busca de pessoas para se relacionar, onde possa descarregar sua insegurança e seus medos. Enquanto o oprimido (aquele que é a vítima do sentimento) também irá repetir relações em que se sente preso.

Para mudar tudo isso, é preciso aprender a racionalizar seus pensamentos criando comportamentos saudáveis, direcionando a atenção para o autocontrole na relação para não adoecer devido ao ciúme. Seguindo essa linha de raciocínio, é muito importante identificar o que está causando o ciúme e a consequente sabotagem no relacionamento afetivo e, a partir daí, parar de atuar dessa maneira.

Dicas para controlar o ciúme

Para começar, preste atenção em que momentos o ciúme surge. Observe a si mesmo, suas próprias reações e aprenda a lidar com elas. Antevendo seu sentimento, você pode procurar direcionar sua atenção para outras atividades e pensamentos.

Outro ponto importante na superação do ciúme é a honestidade. Se algo ou um comportamento está te incomodando, converse sobre isso com quem está sendo o seu objeto de ciúme. A comunicação é um excelente aliado no processo de ajuste da relação. Uma conversa aberta e verdadeira pode gerar mudanças de hábitos e, consequentemente, o fim de desconfortos e crises de ciúmes.

É preciso ter consciência de que, sufocar o (a) parceiro (a) pode ser o primeiro passo para uma relação fracassada. Tente utilizar essa oportunidade para entender como sua natureza controladora te impede de saber quem você realmente é. Encontre um ponto de equilíbrio, comunicando a sua verdade e reconhecendo as limitações do outro. 

Não podemos dominar tudo. O ciúme muitas vezes é a transferência das minhas fraquezas para o outro. Quando você deixa de viver seus objetivos para viver em função do outro, ou do que ele está fazendo, com quem conversou, entre tantos movimentos exacerbados que o ciúme lhe impõe viver, você deixa de ter e de proporcionar ao outro, qualidade de vida.

Portanto, psicanaliticamente falando, temos que: todo excesso reflete uma falta. Partindo deste princípio, tudo que fere, dói e gera insegurança deve ser eliminado. Além disso, é muito importante cuidar de si. Identificar a origem deste sentimento.

Propor um diálogo e reflexão consigo e trabalhar o aumento do amor próprio e da autoestima. Se não der conta de fazer isso sozinho, procure a ajuda de um profissional de saúde mental e livre-se do ciúme patológico, experimentando a liberdade de não se sentir preso a inseguranças. Isto é imprescindível para que se possa viver relacionamentos saudáveis e equilibrados, em que amor e controle não sejam sinônimos. 

*Andrea Ladislau é pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É também graduada em Letras e Administração de Empresas, palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.

Contatos: Instagram: @dra.andrealadislau / Telefone: (21) 96804-9353 (Whatsapp)

Andrea Ladislau colabora para a seção Palavra de Especialista uma vez por mês. Dúvidas e sugestões para palavradeespecialista@vidaeacao.com.br.

Leia mais artigos de Andrea Ladislau

Mãe presa por negligenciar filhos pode estar em sofrimento psíquico
Carnaval também faz bem para o corpo e para a cabeça
Oscar da vergonha: a comédia acaba onde começa a dor do outro
Você também sofre com a Síndrome da Mulher Maravilha?
Somatização: o grito de socorro da mente refletido no corpo físico
Body Checking: quando o espelho vira um aliado da neurose
Ômicron: como lidar com a positividade que ninguém quer?
O ano termina, nasce outra vez… e o que você fez ou vai fazer?
O legado emocional e afetivo deixado pela pandemia
Felipe Neto e a Síndrome de Burnout associada à depressão
Borderline: a linha tênue entre a euforia e a depressão
Como o câncer de mama impacta a saúde emocional
Entenda a importância da terapia na prevenção do suicídio
Nomofobia: quando a conexão virtual vira síndrome
Síndrome do Pensamento Acelerado: uma nova epidemia
Cancelamento: que cultura é essa que nos dá autoridade para julgar alguém?
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

8 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *