Às vésperas da festa brasileira mais popular do mundo, as pessoas já estão se preparando para cair na folia. O Carnaval é uma das épocas mais esperadas do ano. Sempre há aqueles que contam os dias para descansar e assistir sua série preferida em frente à TV. Porém, para outros, é o momento de aproveitar os dias de folga para encarar uma verdadeira maratona de folia. Não é à toa que, para muitos, o carnaval, aliado ao verão, alegria, música e bebida, é a melhor época do ano.

Apesar do bom astral, é nesse feriado que a maioria das pessoas acaba saindo da rotina e sobrecarregando o coração, na maioria das vezes por causa dos excessos de ingestão de bebidas alcoólicas, do cigarro, alimentação inadequada e, também, uso de substâncias ilícitas. Com essa rotina intensa por dias a fio, é preciso ter cautela e respeitar os limites do corpo para que o exagero não desencadeie problemas de saúde.

Muitas horas seguidas pulando atrás de trio elétrico, álcool, energético, privação do sono são combinações perfeitas para arritmias, descontrole pressórico e ataques cardíacos principalmente para quem tem predisposição a doenças cardiovasculares. Para quem tem problemas cardíacos, como arritmia, por exemplo, os cuidados devem ser redobrados. Assim como as baterias e os tambores do samba, o coração dos foliões precisa do ritmo certo para curtir de maneira saudável.

Pular carnaval – seja no sambódromo, nos bailes fechados ou nos tradicionais blocos de rua – exige muito do coração. Durante as sessões de samba, os indivíduos podem atingir entre 60 e 90% da frequência cardíaca máxima prevista para a idade, em 86% do tempo. E, geralmente, essa atividade intensa está associada ao consumo de álcool, energéticos e/ou drogas, uma combinação perigosa, como mostra o cardiologista Claudio Tinoco Mesquita no artigo, recentemente publicado na International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS) publicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

“O consumo de álcool, mesmo em doses consideradas de nível leve a moderado (sete doses por semana ou mais), aumenta a  incidência de fibrilação atrial, por exemplo”, afirma Mesquita, que é diretor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj). A associação com o uso recreativo da maconha é ainda mais prejudicial. Estudo norte-americano observou que 2,7% dos usuários de maconha recreativa desenvolveram arritmia, com tendência crescente de 2010 até 2014, e que a fibrilação atrial foi o subtipo mais comum entre usuários de maconha hospitalizados.

Já as bebidas energéticas — que apresentam quantidades muito altas de cafeína e aditivos como taurina e adenosina, já associados a relatos de arritmias atriais e ventriculares – estão relacionados a uma sobrecarga hemodinâmica significativa. A ingestão de uma lata (355 mL) já é suficiente para aumentar a carga de trabalho do coração, evidenciada por pressão sanguínea elevada, frequência cardíaca e débito cardíaco.

“A ingestão de energéticos tem sido associada a arritmias mesmo em pacientes com corações estruturalmente normais. E, embora não haja um limiar claramente definido para o uso de energéticos, a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva recomenda que pacientes com condições cardiovasculares pré-existentes, que estão tomando medicamentos e que podem ser afetados pela cafeína e outros estimulantes, evitem a bebida. A entidade alerta também que o consumo de mais de um energético por dia, mesmo em indivíduos saudáveis, pode ser prejudicial”, alerta Claudio Tinoco Mesquita.

De acordo com o médico do Departamento de Cardiologia da Rede Mater Dei e do Hospital Belo Horizonte, Augusto Vilela, acompanhar a maratona que às vezes começa pela manhã e costuma se estender até a noite, pode equivaler a uma corrida de dez quilômetros. “Toda essa movimentação, aliada aos exageros, como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, drogas, cigarro e energéticos, tornam comuns os casos de arritmias cardíacas e infartos nos dias festivos”, explica

 

O que fazer para evitar problemas?

O cardiologista Claudio Tinoco Mesquita lembra que celebrar o carnaval é fácil, divertido e barato. Mas os riscos potenciais de combinar energético e álcool ou drogas ilícitas são altos. “Por isso, mesmo que sozinho, o energético deve ser ingerido com moderação. Uma das melhores coisas da vida são boas lembranças e ter uma complicação cardíaca durante o feriado é uma daquelas que ninguém gostaria de ter”, finaliza.

Dr. Augusto afirma que a moderação e o equilíbrio são fatores importantes na prevenção de arritmias, principalmente em épocas mais festivas. “Todos os excessos trazem malefícios e essas situações podem ser evitadas. É preciso ter bom senso e divertir com moderação”, alerta o cardiologista.

Para Marcelo Sampaio, cardiologista membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, é recomendável que, neste período, os foliões redobrem a atenção com os hábitos de comportamento, como o abuso do álcool; do cigarro e a má alimentação, além de atentar para o estresse físico e os riscos de desidratação.

Segundo o especialista, não são apenas aqueles que sabem que são portadores de problemas cardíacos que precisam se preocupar. “Todos devem ficar atentos a qualquer sintoma diferente do normal, como cansaço exagerado, falta de ar, dor no peito, tontura e palpitações”.

Dores nas pernas e inchaço

No Carnaval, mesmo em clima de animação e muita folia, é comum que as pessoas cheguem ao final do dia apresentando dores nas pernas e inchaço. Na maioria das vezes, esses sintomas são provenientes de um grande esforço físico, entretanto, também podem sinalizar problemas de saúde, como a trombose.

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV),  Bruno Naves, após um longo dia nos blocos ou desfiles de Carnaval, o ideal é que a pessoa faça uma compressa fria nas pernas e, depois, massageie os pés em direção aos joelhos com um creme hidratante. Esse procedimento melhorará a circulação sanguínea e trará uma sensação de relaxamento. O médico ainda afirma que o ideal é que a pessoa faça pausas para descanso, para que consiga aproveitar toda a festa.

A hidratação é outro fator muito importante. Principalmente se a pessoa estiver consumindo bebidas alcoólicas ou debaixo do sol por muito tempo. “O consumo de álcool causa inchaço. Para evitar, é importante beber com moderação e se hidratar bastante, mas com água”, alerta o médico. Ele ainda orienta que energéticos não sejam misturados com álcool, pois, podem levar à arritmia cardíaca e à pressão alta.

Pessoas diagnosticadas com problemas vasculares devem ter cuidado dobrado na hora de cair na folia, para evitar transtornos futuros. O Dr. Naves explica que pessoas com trombose venosa profunda, embolia pulmonar ou doenças causadas por falta de circulação em que o paciente sente dor mesmo sem esforço físico, não devem sair para os blocos de rua ou desfiles.

Já pessoas com varizes, precisam evitar o esforço das pernas por tempo prolongado. Pois, quando há uma dilatação intensa dos vasos sanguíneos, aumenta-se o risco de rompimento, principalmente pelo excesso de calor e trauma local. Pacientes com a doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) devem proteger os pés, para que não haja ferimentos. Sapatos confortáveis e fechados são extremamente importantes.

Por fim, Dr. Naves recomenda que as pessoas usem bastante protetor solar. “Super-homem e mulher maravilha são fantasias, na vida real precisamos de uma boa alimentação, moderação na bebida, descanso e tranquilidade”, completa.

Dicas práticas para garantir a saúde do coração

Seja qual for sua programação para esse feriado, Thiago Libano Csernik, cardiologista do Hospital Brasil, da Rede D’Or São Luiz, dá dicas para você cair na folia sem descuidar da saúde.

Beber com moderação

Para muitos foliões, o carnaval é sinônimo de bebidas alcóolicas. Porém, o consumo em excesso pode ser prejudicial, principalmente para àqueles que possuem algum tipo de problema cardíaco. “O álcool em grande quantidade é inimigo do coração e pode afetar a pressão arterial, assim como induzir arritmias e insuficiência cardíaca aguda”, alerta Líbano.

Para quem tem diabetes, também vale o alerta. O álcool pode fazer com que os níveis de glicose no sangue despenquem ou elevem consideravelmente. Por isso, o ideal é não ingerir esses tipos de bebidas nesses casos ou, se fizer isso, que seja com moderação.

De olho na alimentação

Nos dias de festa, a empolgação supera até os cuidados alimentares. Mas se você é daqueles que quer aproveitar todos os dias do carnaval é preciso seguir à risca os cuidados médicos. O cardiologista sugere uma alimentação leve, com predomínio de frutas e vegetais.

Pit stop

Os portadores de doenças cardíacas devem tomar cuidado especial com tudo que afete ou sobrecarregue o coração. Segundo o especialista, assim como uma alimentação adequada, é necessário “fazer uma parada” algumas horas no dia. “O coração, quando sob estresse, pode sofrer de arritmias, que é a anormalidade na frequência cardíaca”.

Além disso, quem sofre de hipertensão ainda precisa tomar cuidado com bebidas energéticas. Mesmo sem conter álcool, o uso de energéticos é extremamente prejudicial. De acordo com o cardiologista, há substâncias presentes nessas bebidas que aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial, intensificando o risco de crises hipertensivas que podem causar acidente vascular cerebral e infarto.

Olha, olha, olha, água mineral

Não é atoa que esse trecho se tornou um dos hinos do carnaval de rua. As altas temperaturas aliadas aos esforços físicos podem resultar em desidratação. Para evitar o transtorno, tenha sempre uma garrafinha de água em mãos. Outras boas pedidas são a água de coco, isotônicos ou sucos naturais. Tudo vale na hora de se refrescar e seguir o trio elétrico.

O cardiologista Marcelo Sampaio elencou 7 dicas para manter o coração a mil e bastante saudável durante os quatro dias de folia:

  1. Cuidado com o abuso de bebida alcoólica

“Tudo em excesso pode provocar danos ao coração. A bebida alcoólica também”, avisa Dr. Marcelo Sampaio, explicando que o álcool libera substância que podem provocar vasoconstrição, reduzindo o fluxo de sangue para o músculo do coração, podendo gerar arritmia.

O cardiologista destaca que não é incomum pessoas que bebem muito terem episódios de taquicardia,  arritmia ou até mesmo infarto. “Se tiver antecedentes de eventos com álcool ou fatores de risco genéticos, pode haver complicações”.

Para aqueles que costumam beber descontroladamente, ele alerta ainda para o risco do coma alcoólico, que ocorre quando a pessoa fica inconsciente devido aos efeitos do excesso de álcool no organismo. “Geralmente, ele ocorre quando se bebe a ponto de ultrapassar a capacidade do fígado de metabolizar o álcool, o que leva à intoxicação do cérebro e de diversos órgãos do corpo”, explica o cardiologista.

Esta condição é considerada estado grave, e caso não seja rapidamente tratada, pode levar à morte, devido à diminuição da capacidade respiratória, lentificação dos batimentos cardíacos, além de queda dos níveis de glicose no sangue ou outras complicações como desenvolvimento de arritmias, por exemplo.

  1. Cuide da alimentação

O cardiologista chama atenção para outra atitude comum no Carnaval que costuma oferecer perigo ao coração: a alimentação desregrada. “Alimentos gordurosos, que provocam má digestão, podem causar danos ao coração e entupimento das artérias. Por isso, mantenha uma alimentação leve e balanceada. Prefira alimentos saudáveis, como proteína magra, frutas, verduras e vegetais”.

  1. Hidrate-se

Outro perigo é o calor excessivo que orovoca muito suor, que desidrata e pode provocar queda de pressão e desmaios. Para os adultos, recomenda-se 2 litros de água pura, por dia.“Lembre-se de beber água mesmo que você não esteja com sede, porque a sede ocorre quando o corpo já está em desequilíbrio”, diz ele.

  1. Fique longe de drogas ilícitas, do cigarro e dos energéticos

Se as drogas ilícitas trazem muitos riscos para quem é saudável, têm impacto ainda mais grave para quem tem problemas cardíacos. Misturadas ao álcool, podem causar crises de taquicardia de longa duração, o que aumenta o riscos de infarto, derrame e morte. A cocaína, por exemplo, é a principal causa de infarto agudo do miocárdio em pessoas com menos de 30 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Já as drogas consideradas lícitas, como cigarro, álcool e energéticos, causam efeitos colaterais no coração. Da mesma forma, os proibidos termogênicos desencadeiam graves arritmias cardíacas.

“O cigarro é um dos maiores agressores do endotélio, aquela parede de células que recobre os vasos sanguíneos. Essa ação interfere com a produção de uma substância protetora conhecida como óxido nítrico e faz como que as artérias fiquem mais vulneráveis ao acúmulo de gordura. Há também uma interferência no mecanismo de contração e relaxamento, o que resulta numa maior dificuldade para o sangue circular”.

  1. Preste atenção à pressão arterial

As emoções exarcebadas podem elevar a pressão arterial, o que é um perigo para o coração. “É importante verificar sempre a pressão e mantê-la sob controle”, diz o médico. Uma dica é controlá-la antes do Carnaval, retirando o saleiro da mesa, reduzindo o consumo de embutidos (que possuem muito sódio), evitando carne vermelha e temperos industrializados.

  1. Pratique exercícios físicos antes das festas

Se você é daqueles que não perde um bloco de Carnaval ou um desfile na Avenida, não deixe de se preparar fisicamente antes desses eventos. Chegar sem condicionamento físico ao Carnaval pode trazer complicações para seu fôlego, deixá-lo dolorido e, assim, prejudicar a sua festa!

É recomendado fazer exercícios físicos durante 40 minutos, cinco vezes por semana. Caminhadas intercaladas com pequenas corridas, hidroginástica e esteira ou bicicleta são boas opções para auxiliar na melhora do condicionamento.

  1. Atenção ao choque térmico

Dr. Sampaio explica que toda vez que a temperatura está muito quente e a pessoa vai para um local mais frio, pode ocorrer um espasmo da artéria coronária, provocando um fechamento total. “Há também uma redução abrupta do sangue, podendo gerar infarto ou angina, com dor no peito”, afirma. “Pessoas que têm placas obstrutivas nas artérias queixam-se que têm mais dor no peito no frio “. Portanto, tome cuidado com o entra e sai de ambientes com ar condicionado ligado em temperaturas muito baixas, em contraponto com o ar livre extremamente quente.

O contrário também é perigoso – quando a pessoa vai para um local com temperatura elevada por longo período, como praia e piscina sob sol bem quente, corre o risco de ter queda de pressão. “Se a pessoa tem placas, pode até provocar um infarto, uma arritmia ou um desmaio”, finaliza o cardiologista.

Com Assessorias

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