Nem todo bebê chega no tempo previsto. Quando ele nasce “antes da hora”, o cuidado oferecido já em seus primeiros minutos de vida faz toda a diferença. Atualmente, o Brasil está entre os 10 países com mais nascimentos prematuros no mundo, com cerca de 330 mil casos por ano, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O Brasil registra quase 12% de partos antes das 37 semanas, acima da média global de 10%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Especialistas alertam que o parto antes do tempo costuma vir acompanhado de sentimentos intensos como medo, culpa e impotência. A internação em uma UTI neonatal, que pode se estender por semanas ou meses, impõe uma rotina de incertezas e um desgaste emocional profundo, especialmente para as mães.

Reconhecendo os desafios emocionais que afetam as famílias de bebês prematuros, a ONG Prematuridade.com – única organização sem fins lucrativos dedicada, em âmbito nacional, à prevenção do parto prematuro e à garantia dos direitos dos prematuros e de suas famílias – faz um trabalho especial de apoio e acolhimento junto a esse público.

Desde 2022 a ONG conta com um Núcleo de Saúde Mental, que oferece atendimentos psicológicos gratuitos e grupos de apoio virtuais, permitindo que famílias de diferentes regiões do país recebam acolhimento especializado. As ações têm como objetivo reduzir o isolamento emocional e fortalecer os vínculos afetivos entre pais e filhos durante e após a internação.

O nascimento de um bebê prematuro desperta uma mistura de emoções e é fundamental que exista um espaço de escuta e acolhimento, onde os pais possam compartilhar seus sentimentos sem medo de julgamento”, fala Simone Dantas, psicanalista e coordenadora do Núcleo de Saúde Mental da ONG Prematuridade.com. “Nos grupos de apoio, incentivamos o compartilhamento de experiências e criamos um ambiente seguro, de empatia e compreensão mútua”, completa.

Entre as iniciativas do Núcleo estão os grupos “Famílias de UTI”, voltado a quem ainda vive a rotina hospitalar, e “Histórias de Afeto”, destinado às famílias que enfrentaram a perda de seus bebês. Para a ONG Prematuridade.com, cuidar da saúde mental dos pais é um gesto de cuidado que se reflete no desenvolvimento saudável do bebê e fortalece o vínculo afetivo que une família e recém-nascido.

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Novembro roxo: o cuidado e acompanhamento de bebês prematuros

Campanha reforça a importância de pré-natal e acompanhamento após a alta de bebês que nascem antes do previsto

Apesar dos avanços na assistência perinatal, a prematuridade ainda é a principal causa de mortalidade neonatal no país e no mundo, e está associada a complicações de longo prazo, como dificuldades respiratórias, neurológicas e motoras. Por isso, o Novembro Roxo, dedicado à conscientização sobre a prematuridade, entrou este ano oficialmente para o calendário brasileiro, com a aprovação da Lei Federal 15.198/2025, que instituiu o Dia Nacional da Prematuridade (17 de novembro), a Semana da Prematuridade e o mês de mobilização pela causa.

A nova legislação estabelece diretrizes para a atenção durante o pré-natal e para o acompanhamento após a alta hospitalar, além de incentivar campanhas educativas e capacitação de profissionais de saúde. Além da mobilização nacional, o Brasil também se une à campanha global do Dia Mundial da Prematuridade, reconhecido oficialmente a partir deste ano como uma campanha global da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Este ano, o tema global do Dia Mundial da Prematuridade 2025 é “Garanta aos prematuros começos saudáveis para futuros brilhantes” (“Give preterm babies a strong start for a brighter future”). A mensagem deste ano reforça a importância de garantir aos prematuros um início de vida com cuidado contínuo, humanizado e de qualidade, desde o nascimento até os primeiros anos de desenvolvimento, etapa decisiva para promover saúde e bem-estar ao longo da vida.

Dificuldades para fazer corretamente o pré-natal

Para a pediatra neonatologista Renata Castro, coordenadora assistencial da UTI neonatal do Hospital e Maternidade Sepaco, o reconhecimento do Dia Nacional da Prematuridade e da campanha Novembro Roxo é fundamental para a conscientização, já que o Brasil está entre os países com maior número de nascimentos prematuros no mundo. Um fenômeno que, segundo a médica, reflete desigualdades de acesso ao pré-natal e à assistência neonatal de alta complexidade.

Muitas mulheres encontram dificuldades para fazer o pré-natal. Após o parto, outro desafio é conseguir acompanhar os filhos que permanecem internados. Precisamos fortalecer as redes de cuidado”, diz Renata, acrescentando que “é preciso garantir a cada bebê prematuro a oportunidade de se desenvolver plenamente. Hoje, o foco não é apenas fazer o bebê sobreviver, mas permitir o melhor desenvolvimento possível, com ênfase em neuroproteção, nutrição e vínculo afetivo desde os primeiros instantes”, explica.

O parto prematuro, definido pela Organização Mundial da Saúde como aquele que ocorre antes de 37 semanas de gestação, pode ocorrer por uma série de fatores, como infecções, ruptura de membranas, hipertensão, pré-eclâmpsia ou diabetes. O acompanhamento durante o pré-natal é fundamental para o controle de doenças crônicas e o tratamento de infecções, podendo evitar o parto antes da hora.

Outras medidas a serem tomadas pelas gestantes para evitar o risco, além do acompanhamento contínuo, são evitar o tabaco, manter alimentação equilibrada, praticar atividade física, cuidar da saúde emocional e respeitar o intervalo entre gestações (que depende de avaliação individualizada, feita pelo médico, de acordo com a saúde da mulher e de como foi sua gestação anterior),

Conheça os desafios do bebê prematuro

O parto prematuro impõe ao recém-nascido o desafio de adaptar-se ao ambiente extrauterino antes do amadurecimento completo de seus órgãos. No curto prazo, podem surgir complicações respiratórias, infecções e dificuldades de alimentação. A longo prazo, há risco de distúrbios motores e déficits cognitivos, mas os avanços têm permitido que prematuros extremos alcancem um desenvolvimento saudável quando acompanhados por equipes multiprofissionais.

Entre as práticas que reduzem complicações estão o uso do sulfato de magnésio antes do parto, a ventilação gentil (forma delicada de ajudar o bebê prematuro a respirar, usando métodos menos invasivos e ajustes mínimos para proteger seus pulmões sensíveis) e o clampeamento tardio do cordão umbilical (prática de esperar alguns segundos antes de cortá-lo, permitindo que o bebê receba sangue extra da placenta, rico em ferro e nutrientes que favorecem sua saúde e desenvolvimento).

O leite humano é considerado o “primeiro medicamento” do prematuro, e o método canguru, que estimula o contato pele a pele e o protagonismo dos pais, melhora o ganho de peso, reduz infecções e fortalece o vínculo familiar.

Os cuidados, diz Renata, devem continuar após a alta hospitalar, com consultas regulares, reabilitação e vacinação atualizada — incluindo proteção contra o vírus sincicial respiratório (VSR), uma das principais causas de hospitalização em prematuros.

Dia Mundial da Prematuridade entra para o calendário da OMS

ONG Prematuridade.com celebra ação, que impulsionará novas ações de advocacy, educação e cuidado em todo o mundo

A decisão de incorporar o Dia Mundial da Prematuridade em 17 de novembro foi anunciada em junho deste ano, durante a 78ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra, na Suíça. Segundo a OMS, a oficialização da data está alinhada com a Agenda de Ação Global para Recém-Nascidos, lançada em 2023, que tem como meta acabar com mortes evitáveis de recém-nascidos e bebês prematuros.

Ao incorporar a campanha ao seu calendário, a OMS sinaliza que o combate à prematuridade é uma prioridade urgente e compartilhada por todos os países. Criado por organizações de pais e entidades da sociedade civil na Europa e nos Estados Unidos, o Dia Mundial da Prematuridade já era celebrado desde 2008, consolidado como um movimento global e ganhando força em diversos países, inclusive no Brasil, por iniciativa da ONG Prematuridade.com.

Para a entidade. a inclusão da data no calendário oficial da OMS já para este ano, em 17 de novembro, marca um avanço histórico na mobilização internacional pela saúde de bebês que nascem antes do tempo e pelo apoio às famílias.

Essa conquista é motivo de celebração e renovação do compromisso com os bebês prematuros e suas famílias. O reconhecimento internacional fortalece o movimento iniciado há mais de uma década na sociedade civil e impulsiona novas ações de advocacy, educação e cuidado em todo o mundo”, afirma conta a diretora-executiva da ONG Prematuridade.com., Denise Suguitani.

A entidade mobiliza esforços na questão desde a sua fundação, em 2014, adotando o 17 de novembro como um marco anual de conscientização. “Foi a partir de alertas da ONG que a prematuridade passou a ser tratada como um tema de saúde pública em todo território nacional, envolvendo famílias, profissionais de saúde e o Poder Público”, diz Denise.

Dentro desse contexto, a ONG Prematuridade.com tem se destacado por seu trabalho em defesa dos direitos dos bebês prematuros, promovendo campanhas de conscientização, realizando eventos científicos e de apoio às famílias, além de dialogar com o poder público na construção de políticas e protocolos de cuidado.

Para Denise, o reconhecimento da data pela OMS legitima ainda mais esse trabalho pioneiro no Brasil e fortalece a visibilidade da causa em nível global. “Esse reconhecimento da OMS significa que o mundo está olhando para a prematuridade como um problema de saúde pública que precisa ser enfrentado de forma estruturada, com prevenção, acesso a cuidados qualificados e apoio às famílias”, fala.

A ONG, inclusive, esteve à frente da elaboração de PL 1764/2024 que fixa o dia 17 de novembro como o “Dia Nacional da Prematuridade”. “O reconhecimento do dia 17 de novembro em nível nacional fortalece muito as ações de conscientização da sociedade e o engajamento do poder público e, consequentemente, aumenta as chances de mudanças reais e efetivas no cenário da prematuridade do Brasil”, salienta Denise.

A diretora-executiva da ONG Prematuridade.com ressalta que a decisão fortalece a luta por mais investimento em políticas públicas voltadas à assistência obstétrica de qualidade, ampliação de leitos de UTI neonatal, formação de profissionais e acompanhamento após a alta hospitalar.

É um marco que nos ajuda a avançar na construção de uma rede de cuidado integral e equitativo para os bebês prematuros e seus cuidadores, especialmente em países como o Brasil, onde os desafios ainda são enormes”, diz.

Com Assessorias

 

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