Mais de 40 anos após o início da epidemia da AIDS, elevados níveis de estigma e discriminação relacionados com o HIV persistem, de acordo com uma nova pesquisa global divulgada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) antes do Dia Mundial da AIDS, em 1º de dezembro.

Cerca de quatro em cada 10 respondentes da pesquisa afirmaram que as pessoas que vivem com HIV não deveriam ser autorizadas a trabalhar diretamente com pessoas que não vivem com HIV. Até seis em cada 10 respondentes manifestaram-se favoráveis à testagem obrigatória de HIV antes de as pessoas serem autorizadas a trabalhar.

O estudo concluiu que as atitudes estigmatizantes e discriminatórias são alimentadas por uma falta de conhecimento sobre a transmissão do HIV. Apenas uma em cada duas pessoas sabia que o HIV não podia ser transmitido pelo uso compartilhado de um banheiro e apenas uma em cada quatro pessoas respondeu corretamente às perguntas sobre a forma de transmissão do HIV. Os mitos e conceitos errados persistem, contribuindo para o estigma e a discriminação.

O relatório, The ILO Global HIV Discrimination in the World of Work Survey, é o resultado de uma colaboração inédita entre a OIT e o instituto de  pesquisas Gallup International. O estudo aponta para as causas da persistência do estigma e da discriminação relacionados com o HIV no mundo do trabalho. Os resultados baseiam-se em informação coletadas com mais de 55.000 pessoas em 50 países em todo o mundo.

Dados por região e escolaridade – As opiniões variam consideravelmente de região para região. Os níveis mais baixos de tolerância para trabalhar diretamente com pessoas que vivem com HIV foi registrado na Ásia e no Pacífico (apenas 40% das pessoas respondentes disseram que as pessoas que vivem com HIV deveriam ser autorizadas a trabalhar com pessoas não vivem com HIV) e no Médio Oriente e no Norte de África (onde apenas 42% disseram que as pessoas que vivem com HIV deveriam ser autorizadas a trabalhar com pessoas não vivem com HIV).

As regiões com as atitudes mais positivas são a África Oriental e Austral, onde quase 90% das pessoas defenderam que o trabalho direto com pessoas que vivem com HIV deveria ser permitido.

Os níveis educacionais mais altos estão também associados a atitudes positivas em relação a trabalhar com pessoas que vivem com HIV.  Em termos globais, 68% das pessoas com educação superior concordam que o trabalho direto com pessoas que vivem com HIV deve ser permitido, em comparação com 39,9% das pessoas que apenas possuem o nível básico.

“É chocante que, 40 anos após o início da epidemia do HIV e da AIDS, os mitos e as ideias falsas continuem tão generalizados. A falta de dados básicos sobre a forma como o HIV é transmitido alimenta o estigma e a discriminação”, afirmou o chefe da Unidade Gênero, Diversidade e Inclusão (GEDI) da OIT, Chidi King.

Segundo ele, a pesquisa é um alerta para a necessidade de redinamizar os programas de prevenção e educação sobre o HIV. O mundo do trabalho tem um papel fundamental a desempenhar. O estigma e a discriminação no local de trabalho marginalizam as pessoas, empurram as pessoas que vivem com HIV para a pobreza e minam o objetivo do trabalho decente”, completou.

Recomendações – O relatório propõe uma série de recomendações, incluindo a implementação de programas sobre o HIV que aumentem os conhecimentos de trabalhadores e trabalhadoras sobre a transmissão do HIV e desfaçam mitos e conceitos errados, melhorando o ambiente jurídico e político em torno do HIV para proteger os direitos no trabalho e para abolir a testagem obrigatória de HIV, em conformidade com a Recomendação (Nº 200) da OIT sobre HIV e AIDS, de 2010.

Ele propõe ainda a melhoria do acesso à proteção social e o combate à violência e ao assédio que podem resultar do estigma e da discriminação, por meio da ratificação e implementação da Convenção (Nº 190) da OIT sobre Violência e Assédio, adotada em 2019.

 

Agenda Positiva Especial – Dia Mundial da Aids

Campanha “#BePositive Quebre os Tabus do HIV”

Infelizmente, a desinformação provocada pela falta de conhecimento pode trazer danos irreversíveis para a sociedade. Sabemos que o HIV e a AIDS não têm cura, apesar do tratamento correto e realizado no início do contágio ter eficácia para uma vida saudável. Ainda existe muita desinformação sobre prevenção, tratamento e relacionamento com pessoas que vivem com HIV.

Eduardo Ditzel, infectologista especialista em infectologia hospitalar e clínica, HIV e Infecções Sexualmente Transmissíveis, diz que “existem várias formas de prevenir o HIV e as infecções de transmissão sexual, precisamos entender que fazer uso de preservativos é fundamental e uma das principais formas, mas também tratar quem tem a infecção através da PREP e da PEP além de testagens frequente. Pessoas HIV positivas possuem uma vida normal”.

Médico infectologista e idealizador do canal doutor Maravilha, Vinicius Borges destaca que uma pessoa vivendo com o HIV com carga indetectável por no mínimo 6 meses não transmite o vírus por via sexual. “Há pessoas que nunca se testaram, podem ter o HIV com a carga viral alta que facilita a transmissão. Portanto, nunca ter feito exames é ‘mais arriscado’ do ponto de vista epidemiológico que ter e tratar”, afirma. Mas o médico reforça, “o acesso ao diagnóstico, ao tratamento e a possibilidade de estar indetectável envolve várias vulnerabilidades e desigualdades. Precisamos vencer a sorofobia e trazer mais qualidade de vida a quem vive e convive com o HIV”.

Para romper com os preconceitos em torno da doença e quem vive com o vírus, a campanha #BePositive Quebre os Tabus do HIV quer estimular a conscientização sobre a doença, a partir do Dia Internacional de Luta Contra a AIDS, comemorado em 1º de dezembro. O Blued, aplicativo móvel líder mundial para pessoas gays, bi, trans e queer, se juntará a grandes empresas, entidades, médicos e especialistas na campanha, que promoverá debates de conscientização sobre a luta contra o HIV e a AIDS.

Entre os nomes confirmados então Eduardo Ditzel (infectologista), Vinícius Borges (infectologista), Augusto Menna (jornalista, tradutor e ativista LGBTQIA) e Welton Gabriel (palestrante, consultor em saúde e educação sexual e ativista), além de porta-vozes da RNP+BRASIL BRASIL (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS), Podcast Viveração, Rede de Jovens SP+, Aliança Nacional LGBTI+ e Prudence.

Além disso, haverá três lives mediadas pelo Podcast Viveração. A primeira no perfil da Rede Jovens SP+, com participação de Ricardo de Mello e debaterá sobre “O acolhimento de quem vive com HIV”; a segunda no perfil da RNP+BRASIL, com Paulo Giacomini, representante da entidade no Estado de SP, sobre “A luta contra o estigma social do HIV”. Finalizando o dia; e a última será com o médico infectologista Eduardo Ditzel sobre “Tratamento e prevenção, o caminho para ser i=i (indetectável = intransmissível)”.

Além das lives, serão abertas duas salas de Chat por voz no app Blued para discutir o tema e trazer entidades e pessoas que vivem com HIV para a conversa. No dia 1 de dezembro às 17h30, o perfil da Aliança Nacional LGBTI+ abrirá a conversa com Gregory Rodrigues, coordenador nacional de Comunicação. Já no dia 3 de dezembro, as 17h, o perfil do Podcast Viveração será liderado por Augusto Menna Barreto, coordenador e idealizador do projeto que é focado em saúde, sexualidade e direitos humanos, financiado neste ano por um edital de uma agência da ONU. O objetivo de ambas é engajar e informar os usuários da plataforma.

No início deste ano, a BlueCity começou a convidar organizações a se registrarem no Blued e fornecer serviços críticos relacionados ao HIV para os mais de 6 milhões de usuários ativos mensais do aplicativo em 170 países e regiões ao redor do mundo. As organizações que são verificadas pelo Blued receberão apoio no aplicativo e na mídia social para fornecer seus serviços dentro de sua região, aumentando sua visibilidade, bem como a conscientização sobre ações preventivas. Os usuários podem contatar diretamente essas organizações para receber aconselhamento, marcar compromissos para testes de HIV, acesso ao PrEP e PEP e entregas de kits domésticos, e muito mais.

Agência Aids debate 4 décadas de epidemia

Também para marcar a data, a Agência Aids reúne especialistas para discutir essas quatro décadas de enfrentamento da pandemia da Aids, no Brasil e no mundo, que infectou 37,6 milhões de pessoas ao redor do planeta. O webinário, que mostra a mudança dos tempos e das nomenclaturas do HIV e Aids, abordará quatro temas:

. 9h30: Surgimento do HIV, os primeiros 10 anos…infectar-se com HIV: uma sentença de morte! Com Dra. Rosana Del Bianco (Médica infectologista do Emílio Ribas desde 1984 época do primeiro caso internado com Aids); Dra. Marinella Dela Negra (supervisora de equipe técnica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas); e Dra. Glória Brunetti (Médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas).

Mediação:  Américo Nunes Neto – fundador do Instituto Vida Nova, coordenador do Movimento Paulistano de Luta contra a Aids (Mopaids) e ex-presidente do Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo.

.11h30 – Entrada dos antirretrovirais no cenário Global:  o desafio da adesão tema presente nos 40 anos.  Com Dra. Maria Clara Gianna (CRT Aids de SP); Veriano Terto (ABIA)

Mediação: Fabi Mesquita – monitora em incidência internacional da Rede Mundial de Pessoas Vivendo com HIV e representative of Peace Women Partners International Council of Leaders – representando Brazil e Myanmar.

.14h30 – Ativismo no Brasil fundamental na construção da resposta brasileira. Com a participação de Rodrigo Pinheiro (Fórum Ongs Aids de SP); Javier Angonoa  (consultor independente com trabalhos para Unaids/Unicef, GAPA Bahia); e Alessandra Nilo (Gestos Pernambuco).

Mediação: Marina Vergueiro – autora do livro “Exposta”, que dá voz às mulheres gordas e/ou que vivem com HIV e são sexualmente ativas.

.16h30: Da Camisinha a PrEP: Novas tecnologias de prevenção e o estigma que persiste. Com: Drew Persí (Youtuber, coautor do Som das Décadas); Carué Contreiras (médico e ativista); e Dra. Adele Benzaken (membro do comitê de certificação da eliminação da sífilis e do HIV da OPAS-Organização Pan-Americana de Saúde e vice-presidente do comitê de especialistas da OMS).

Mediação: Juny Kraiczyk – diretora geral da ECOS e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Direitos Humanos e Saúde LGBT da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

O webinário “40 anos de Aids no mundo: o que fizemos, o que falta fazer? será apresentado pelo Youtube da Agência Aids – https://www.youtube.com/c/AgenciaAids.

Poesia para falar de sexualidade e HIV

O Sesc Bom Retiro vai realizar nos dias 2, 3 e 4 de dezembro, o Ligar para Contar +18 – Descobertas sexualidades, em que o público receberá ligações da poeta Ingrid Martins, vencedora do Slam das Minas de SP, sobre a sexualidade. A ação faz parte do projeto Contato – Ações para promoção da saúde seuxal e prevenção das ISTs e Aids.

E quem fará as ligações será Ingrid Martins, poeta e designer gráfico, fabrica e diagrama zines (inmart), co-fundadora do slam da norte e da batalha de rimas Dominação (só para o gênero feminino) e ganhadora da final do Slam das Minas SP de 2017.

Narração de histórias por ligação telefônica, trazendo a produção literária de quem, através da palavra, conseguiu expressar suas experiências na construção de sua afetividade e relações, atravessando normas e pensando corpos em outros lugares.

Entre os textos contos e poesias, as palavras partem da produção de slans e coletâneas de poetas e autores trans, travestis e não binários.

A ação faz parte do projeto Contato, que apresenta informações atualizadas sobre ISTs e HIV/Aids, reflexões e experiências de vida para despertar a criação de outros imaginários e possibilitar a quebra do estigma e do preconceito relacionados às nossas sexualidades.

Para receber a ligação o público deverá se inscrever em bit.ly/inscricoes-sescbomretiro e escolher uma data e horário.

Municípios do Rio e Nilópolis têm programação

Para marcar o Dia Internacional de Combate à Aids, celebrado nesta terça-feira, dia 1º de dezembro, diversas secretarias de Saúde estão com programação. No Rio de Janeiro, a Prefeitura  lança no Museu de Arte do Rio (MAR), a campanha “Livre é saber”, de prevenção do HIV/Aids por meio da testagem, com a presença dos secretários municipais de Saúde, Daniel Soranz, e de Governo e Integridade Pública, Marcelo Calero, e do coordenador executivo de Diversidade Sexual, Carlos Tufvesson. A celebração marca o Dia Mundial de Luta contra a Aids (01/12) e ao Dezembro Vermelho, mês de conscientização sobre a infecção.

A campanha “Livre é saber” ocorrerá de 1° a 8 de dezembro, lembrando que a liberdade de levar uma vida saudável é possível se a infecção estiver controlada. A testagem de HIV e outras ISTs está disponível nas clínicas da família e os centros municipais de saúde ao longo de todo o ano, e o tratamento é gratuito pelo SUS.

 

Já o município de Nilópolis, na Baixada Fluminense, vai oferecer teste de prevenção do HIV gratuitamente no Posto Central da Rua João Pessoa 1530, na Praça dos Estudantes, no Centro. Aula de zumba, apresentação de sambistas, músicos e palestra lembram a importância da prevenção da doença, com o uso de preservativos masculinos e femininos e o tratamento precoce da enfermidade.

“Com apenas uma gotinha, fazemos um teste rápido de cinco minutos. É só dar uma picada no dedo. Antes de ter um relacionamento, faça o teste para se preparar”, diz o médico infectologista Izidoro Flumignan, lembrando que há casos de rompimento do preservativo durante a relação sexual ou em uma relação sexual forçada.

Para essas situações, o Posto Central dispõe de um coquetel que pode ser tomado durante 28 dias, o chamado PEPE. Segundo o médico, esse procedimento resolve e impede a entrada do vírus. “Até três dias após o rompimento do preservativo, oferecemos comprimidos que evitam que a doença penetre em você”.

Nos casos em que o parceiro é HIV positivo, a pessoa pode usar o PREPE. “Ao tomar um comprimido por dia, se reduz a possibilidade de contaminação”, salientou ele, mostrando baldes com preservativos masculinos e femininos que decoraram uma das árvores da Praça dos Estudantes, para lembrar da importância da prevenção.

O setor de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) fica no segundo andar do Posto Central. Ele é responsável pelo atendimento e realização de testes rápidos para detecção de HIV, pelo tratamento desta imunodeficiência, sífilis e hepatites B e C. Duas vezes por semana dois médicos infectologistas atendem os pacientes e, em junho, eles receberam nove pessoas que eram soropositivas. O atendimento é feito com todo o sigilo.

Além disso, é feita a busca ativa aos pacientes que começam o tratamento e não retornam. Muitas vezes são os pacientes mais graves que largam o tratamento, os que sabem que têm a doença. “ Eles somem, continuam tendo relações e transmitindo a doença”, lamentou Flumignan. Segundo a preventivista Laura Lee, muitos também têm o medo de encontrar pessoas conhecidas no local.

Além do atendimento médico, os pacientes têm acompanhamento psicológico, assistência social, distribuição gratuita de remédios e também orientações de uma farmacêutica quanto ao uso correto das medicações, caso haja dúvidas. O teste rápido para detecção do HIV é realizado também nos postos do Frigorífico, Paiol, Nova Olinda e Juscelino Kubitschek. Em caso positivo, o paciente é encaminhado para o Posto Central.


Dias de consulta

Os médicos dão consultas às segundas e às quintas-feiras, o psicólogo está de plantão às quartas-feiras, a assistente social recepciona os pacientes no mesmo dia, a enfermeira está no setor às quartas e sextas-feiras e a farmacêutica atende às quintas e sextas-feiras. A distribuição de medicamentos prescritos pelo médico é feita diariamente, mediante a apresentação da receita.

Preocupa a equipe o fato de que a faixa etária dos pacientes soropositivos está diminuindo. “Temos jovens de 20, 18 e até 16 anos”, ressaltou a farmacêutica Patrícia Eunice Conceição, servidora do município. Também integram o grupo a técnica de enfermagem Viviane Bezerra, as preventivistas Laura Lee e Geni Siqueira e a infectologista Lilha Jurema da Mata.

Laura Lee e Geni Siqueira transformam potes de doces em baldes onde colocam preservativos masculinos. Elas penduram esses baldes nos pontos de ônibus e também em halls de entrada de prédios onde há consultórios médicos, como um localizado na Praça Nilo Peçanha, na Avenida Mirandela.

“Deixamos nesses locais porque muitas pessoas têm vergonha de ir aos postos e UPAs pegarem. Todos dispõem de camisinhas masculinas e femininas”, afirmou Laura Lee.

Com Assessorias

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *