Boa parte dos brasileiros que ultrapassam a barreira dos 60 anos enfrenta a chamada ‘epidemia da solidão’. Hoje no Brasil, quatro milhões de pessoas idosas vivem totalmente sós e oito milhões vivem com apenas com o cônjuge. No entanto, muitos desses já deixaram de ser como eram. Convivem com sequelas do AVC (acidente vascular cerebral), sintomas do Ahzheimer ou estão presos a uma cama.
A análise é do médico gerontólogo Alexandre Kalache, em entrevista exclusiva ao Portal Vida e Ação, durante o Fórum da Longevidade, promovido esta semana pelo Grupo Bradesco Seguros, em São Paulo.
A pandemia da solidão não é só no Brasil. ‘”, analisa o especialista em envelhecimento. A solidão é um dos fatores avaliados no quesito atividade social, de uma pesquisa inédita lançada no evento e que serviu de parâmetro para o desenvolvimento do recém-lançado Indicador da Longevidade Pessoal (ILP).
Desigualdade determina ‘níveis’ de longevidade no Brasil
Entretanto, para além da questão de quem cuida de quem envelhece e da ‘pandemia’ ou ‘epidemia de solidão’, o especialista concorda que a saúde financeira e a desigualdade social no Brasil determinam a qualidade da longevidade no Brasil.
O financeiro comanda tudo o mais, direito ao acesso a saúde, alimentação adequada, atividade física, moradia, transporte. Então óbvio que se tem desigualdade, não tem os recursos, vai envelhecer muito pior”, disse Kalache.
Segundo ele, hoje existem no Brasil mais de 100 “categorias” de idosos. “Tem miserável e muito rico. Tem bilionários e gente que vive muito pior do que no interior de Bangladesh”, compara o gerontólogo. Ele ainda explica o conceito de ‘envelhecimento ativo’, valorizado hoje quando o assunto é longevidade.
O envelhecimento ativo é o processo de otimizar as oportunidades para saúde, aprendizagem ao longo da vida, direito a participar da sociedade e segurança e proteção. Com esses quatro pilares você vai ter muito mais chance de envelhecer bem e com qualidade de vida”, considera o especialista.
Porteiro é o maior amigo das pessoas idosas
Em meio ao cenário de solidão, a figura do porteiro ganha especial destaque na vida de milhares de brasileiros, principalmente nas grandes cidades. Tanto que em Kalache orientou um projeto realizado pelo Grupo Bradesco Seguros para capacitar porteiros a lidarem no dia a dia com pessoas idosas que vivem sozinhas.
Criado em 2010, a partir de uma pesquisa com moradores idosos de Copacabana, na zona sul do Rio, o curso tem metodologia de ensino desenvolvida pelo Senac RJ e uma vivência para que os alunos aprendam a se colocar no lugar dos idosos.
Pesquisa nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro revelou que, para metade dos moradores idosos ouvidos, os porteiros passaram a mostrar mais “respeito e atenção” no relacionamento com eles. Do total em geral, 78% afirmaram se sentir mais seguros sabendo que o condomínio possui profissionais preparados; 74% percebem que os porteiros estão mais cuidadosos com os idosos; e 72% passaram a ver a função de profissionais de portaria com mais importância.
Como alcançar uma vida mais longa – e mais larga
Presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e co-diretor da Age Friendly Foundation e consultor de longevidade da Bradesco Seguros, Alexandre Kalache foi, mais uma vez, o grande anfitrião do Fórum da Longevidade, promovido esta semana no Teatro Bradesco, em São Paulo;
O gerontólogo de 78 anos falou das medidas que precisam ser tomadas para alcançar uma ‘vida mais longa e mais larga’ e da necessidade de implementação de políticas públicas para atender ao grande aumento do número de pessoas 60+ no Brasil- veja em nosso instagram.
PhD em Epidemiologia pela Universidade de Oxford, ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS), o especialista no estudo do envelhecimento é o criador do Marco Político do Envelhecimento Ativo e da iniciativa Cidades Amigas do Idoso, aplicado em mais de mil iniciativas em todo o mundo.
Além da apresentação de uma pesquisa inédita encomendada pelo Grupo Bradesco Seguros e do lançamento do Indicador de Longevidade Pessoal (ILP), o evento realizado na última terça-feira (8), reuniu especialistas para discutir as questões do envelhecimento ativo e saudável hoje no mundo e no Brasil.
Atualmente, o Brasil possui 24 milhões de pessoas acima de 60 anos, o que representa quase 13% da população, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2050, esse número chegará a 64 milhões, ou 30% da população, ou seja, de cada 10 brasileiros, três serão idosos.
*A jornalista Rosayne Macedo viajou a São Paulo para o Fórum da Longevidade 2024 a convite da Bradesco Seguros.