Em 2017, aos 45 anos, Paula Lopes se assustou ao descobrir que portava o vírus da hepatite C. “Não sei como me contaminei. Sempre me cuidei e nunca apresentei nenhum sintoma. Soube que estava com hepatite C durante exames de sangue de rotina”, conta.

O tratamento da empresária demorou um pouco para acontecer, pois, na época, o governo só disponibilizava o tratamento para pessoas com doença mais avançada. Após a mudança na legislação, porém, o medicamento passou a ser oferecido gratuitamente para todas as pessoas com a enfermidade, e Paula pôde dar início ao tratamento.

Depois de dois anos de acompanhamento médico, ela finalmente poderá seguir uma vida normal. “Foram três meses de tratamento com o remédio oral, fornecido pela farmácia de alto custo, e mais dois anos de monitoramento. No final do ano terei alta”, relata, já aliviada.

Embora sejam evitáveis e tratáveis, as hepatites – uma inflamação do fígado que age de forma silenciosa – afetam cerca de 325 milhões de pessoas e causam 1,4 milhão de mortes por ano em todo o mundo, mais que o HIV. São a segunda maior causa de morte entre as doenças infecciosas no mundo, ficando atrás apenas da tuberculose.

O Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, publicado em julho do ano passado pelo Ministério da Saúde (MS), indica que mais de 74,8 mil mortes foram causadas pela doença no Brasil, entre 2000 e 2018, um total de 76% das 670 mil vítimas de hepatite no país. . O tratamento contra a patologia, no entanto, tem evoluído muito, e as chances de cura já superam 95%, quando a assistência é realizada corretamente.
O Ministério estima que, atualmente, mais de 500 mil pessoas sejam portadoras da hepatite C e não tenham conhecimento disso. O Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais é celebrado em 28 de julho e tem como objetivo alertar as pessoas acerca deste grave problema de saúde pública, que pode levar à morte. A data faz parte da campanha Julho Amarelo, para conscientizar a população sobre os riscos da doença.
Grande parte dos infectados não sabe que está contaminado porque, na maioria dos casos, não há sintomas. Temos o compromisso de reforçar a importância dos testes para as hepatites B e C, que evoluem para doenças crônicas graves, como cirrose hepática e câncer de fígado”, explica Clarice Gdalevici, coordenadora do Programa de Hepatites Virais da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ).
Segundo ela, a hepatite C tem 95% de chances de cura, com medicamentos. E o tipo B não tem cura, mas a vacina está incluída no calendário oficial, é tomada pelas crianças logo ao nascer e ao longo dos primeiros meses. “Para aqueles que não tiverem tomado na infância, está disponível nos postos de saúde. Quando diagnosticadas cedo, ambas têm controle e tratamento. Basta uma gota de sangue e o resultado sai em 30 minutos”, reitera a coordenadora.

A condição que pode ser evitada e tratada – além de ser curável, no caso da hepatite C. Contudo, segundo dados do Ministério da Saúde, mais 80% das pessoas que têm hepatite carecem de serviços de prevenção, testagem e tratamento. Durante a pandemia por coronavírus, a testagem para casos suspeitos de hepatite caiu 40%.

O isolamento e distanciamento social impostos pela pandemia de COVID-19, o medo da população de se expor ao vírus e outros fatores estruturais levaram a uma importante redução na procura pela vacinação em 2020, intensificando um movimento de queda de coberturas verificado no Brasil desde 2020″, afirma Vitorio Kemp, gastroenterologista com especialização em hepatologia e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.

 

Entenda os sintomas da hepatite

hepatite pode ser causada por vírus ou pelo uso de alguns medicamentos, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas. As hepatites podem ser transmitidas por meio de relações sexuais ou exposição direta com o sangue infectado, através de objetos contaminados, como agulhas, seringas, alicates e etc., transfusões sanguíneas ou durante o parto.

Quando os sintomas são aparentes, o paciente pode ter cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

De acordo com a infectologista Tassiana Rodrigues dos Santos Galvão, que atende nos hospitais Estadual Francisco Morato e Municipal de Cajamar, ambos gerenciados pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, a cor dedicada ao mês foi escolhida por representar um sinal frequentemente associado à doença: a icterícia, como é conhecida a amarelidão da pele.

A especialista ainda detalha as razões pelas quais são conhecidas por letras. “Os vírus receberam a nominação em ordem de descoberta, sendo atribuída uma letra para cada nova hepatite (A, B, C, D e E). As mais comuns no Brasil são as hepatites A, B e C, sendo a D mais frequente na região Norte”, explica.

Conforme a médica, é necessário estar atento, pois as manifestações são muito variáveis, podendo ser assintomáticas ou apresentarem desde quadros de icterícia, mal-estar, fraqueza, náuseas e vômitos até dores abdominais e alterações na coloração da urina e fezes. “Os quadros podem ser graves, com estágios fulminantes, necessidades de transplante, evolução para câncer hepático e até morte”, complementa.

Dra. Tassiana ressalta a relevância dos tipos B e C, considerados silenciosos e de cronificação, ou seja, quando a doença se torna crônica e segue até o final da vida do paciente. “No caso da B, a maioria das pessoas que têm contato com o vírus consegue controlar a infecção e a evolução. Porém, os pacientes que ‘cronificam’ apresentam uma doença silenciosa, que, se não tratada, pode evoluir para cirrose e/ou câncer de fígado”, afirma a médica, reiterando que, nos casos de hepatite do tipo C, as chances de a cronificação acontecer são ainda maiores, tal como o risco de desenvolver cirrose e câncer hepático.

Prevenção

Existem muitas formas de prevenir a hepatite. A infectologista explica que a prevenção pode ser feita de forma simples, com hábitos como consumir apenas água tratada, manter boa higiene e utilizar preservativos durante as relações sexuais.

“No caso de tatuagens e piercings, recomendo procurar estúdios confiáveis, que trabalhem com agulhas descartáveis e jamais compartilhem objetos pessoais. Isso serve também para manicure”, destaca a Dra. Tassiana.

Para as hepatites dos tipos A e B, há vacinas que podem ajudar na prevenção. Por isso, é importante estar com elas em dia.

Tratamento

O tratamento da doença é realizado por meio de antivirais, além de medidas de prevenção, como evitar medicações que possam prejudicar a saúde do fígado. Pacientes que já convivem com a doença, devem realizar um acompanhamento adequado com médicos infectologista, gastroenterologista ou hepatologista.

Para os casos de hepatite C, nos últimos anos, o tratamento sofreu mudanças significativas, contando, atualmente, com drogas de ação direta e esquema terapêutico, dependendo do genótipo e da fase clínica do paciente.

Ambos são oferecidos de forma gratuita pelo SUS (Sistema Único de Saúde), assim como os testes capazes de diagnosticar a doença, que podem ser realizados de forma rápida e discreta em qualquer UBS (Unidade Básica de Saúde).

“Caso o diagnóstico seja positivo para a doença, não há razões para pânico. Hoje em dia, os medicamentos são muito bem tolerados, com raros efeitos colaterais, e as chances de cura, na maioria dos casos, são superiores a 95%. Um sucesso também garantido pelo SUS”, finaliza.

Entre as hepatites, as do tipo C estão entre as que mais preocupam, por não terem vacinas para prevenção e sua prevalência ( 3% da população).De acordo com a Dra. Vera Rufeisen, por ter sintomas inespecíficos, ela pode se desenvolver por anos e levar à morte se não tratada. “Algumas pessoas apresentam cansaço, indisposição, fraqueza, mas isso não é regra. Por ser silenciosa, a doença pode evoluir sem ser percebida e levar a complicações graves, como cirrose hepática ou câncer de fígado”, alerta.

No Brasil, as principais hepatites são classificadas como A, B, C, D e E, e podem ser divididas em dois grupos: agudas ou crônicas. As agudas são causadas pelos vírus A e E, e o contágio acontece pelo consumo de água ou alimentos contaminados. Entre os sintomas estão dor abdominal, febre, calafrios, indisposição, olhos e pele amarelados (também chamados de icterícia). Nestes casos, não há tratamento específico, e o próprio corpo, com repouso e hidratação, consegue combater a infecção. A infectologista Vera Rufeisen, do Vera Cruz Hospital, esclarece que a vacinação é a melhor forma de prevenção das hepatites A e B. “As vacinas são eficazes, seguras e estão disponíveis no programa nacional de vacinação. É importante que todos mantenham a imunização em dia para combater o vírus”.

Já as hepatites crônicas são causadas pelos grupos B, C e D. O vírus é transmitido pelo contato com sangue. Não apenas em transfusões, como também pelo manuseio de objetos cortantes, tais como alicates de manicures, objetos perfurocortantes não descartados adequadamente, piercing, tatuagem e relações sexuais desprotegidas. “Além da recomendação de não compartilhar agulhas e seringas e da utilização de preservativos em relações sexuais, também orientamos às grávidas a aderirem ao pré-natal, pois também pode haver a transmissão vertical, que é quando a doença da mãe passa para o bebê”, esclarece a médica.

“Para hepatite B, ainda não podemos falar em cura, somente controle, com tratamento seguro e eficaz com antivirais. Já no caso da hepatite C, tivemos um avanço imenso nos últimos anos e, hoje, temos drogas chamadas ‘antivirais de ação direta’ que, têm taxa de cura de 96% a 98%, além de poucos efeitos colaterais”, adiciona.

A OMS tem como meta a eliminação da Hepatite C até 2030, mas a infectologista explica que, para que isso aconteça, todos precisam ser testados e tratados. “É importante que as pessoas procurem por um médico para saber como está a saúde, se precisam se imunizar ou para ter um tratamento e acompanhamento seguro e adequado. Nós sabemos que o tratamento é muito eficaz e consegue prevenir o agravamento e as complicações tardias tão temidas”, conclui.

Agenda Positiva

Podcast explica tudo sobre hepatites virais

Mês destinado a alertar sobre a importância do combate às hepatites virais, o Julho Amarelo é o tema desta edição do “Saiba Saúde”, podcast da Secretaria de Estado de Saúde (SES) em parceria com os estúdios da Rádio Roquette Pinto, que vai ao ar na quarta-feira, 28, dia mundial dedicado ao tema. Clarice Gdalevici, coordenadora do Programa de Hepatites Virais da SES, fala sobre a doença.

A coordenadora esclarece dúvidas sobre as formas de prevenção, o contágio e os tratamentos, e alerta sobre a importância da testagem rápida, uma das principais estratégias de combate à doença, disponível de forma gratuita nas unidades básicas de saúde do estado, nas maternidades e nos serviços especializados para tratamento das hepatites virais do Sistema Único de Saúde (SUS).

Com Assessorias

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