Dar fim à própria existência como única solução para seus problemas: é este o cenário mental perturbador e desconfortável que se apresenta para o suicida. Mas quais são as condições que levam uma pessoa a chegar a esse ponto? Em pleno Setembro Amarelo, quando alguém próximo de nós alimenta esse tipo de pensamento e o caso é compartilhado conosco, nos perguntamos: O que fazer? E o que devemos falar quando alguém diz estar com pensamentos suicidas?  

A cada ano, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (2018), cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida e um número ainda maior de indivíduos tenta o suicídio.  O suicídio está entre as dez maiores causas de morte no mundo e uma das três maiores em pessoas com idade entre 15 e 35 anos, com 800 mil vítimas por ano no mundo. Num ranking liderado pela Índia e China, o Brasil ocupa o oitavo lugar, com 11 mil vítimas anuais. Em 2018, houve um aumento de 2,3% nos casos de suicídio no Brasil.

Em dados oficiais da OMS, cerca de 35% dos suicidas sofrem de transtorno de humor (principalmente o transtorno bipolar), porém esse número pode ser bem maior se entendermos que a depressão perpassa vários casos que entram na estatística de outra forma. Em manual publicado no ano 2000, a OMS cita como causas recorrentes de suicídio situações como a esquizofrenia, o alcoolismo, doenças crônicas, neurológicas e HIV. É fácil extrapolar, porém, a relação entre um quadro de doença crônica e depressão.

“Cada caso é uma tragédia que afeta famílias, comunidades e países inteiros e tem efeitos duradouros sobre as pessoas deixadas para trás”, afirma Douglas Oliveira, psicólogo do FalaFreud, um dos primeiros aplicativos de terapia online do Brasil.

Tomada pela tristeza de saber que seu problema não tem cura, a pessoa entra num processo de depressão que pode levar ao suicídio – como se fosse uma saída antes que o problema físico se agrave e leve a uma deterioração da qualidade de vida. Essa vítima entra nas estatísticas como suicídio desencadeado por uma doença crônica, mas mesmo assim a depressão está ali”, destaca o especialista.

Segundo ele, de maneira geral, seria possível supor que um quadro grave de depressão poderia levar ao suicídio, porém, faz-se necessário notar que aquilo que a população em geral entende como “depressão”, pode ter diversas formas de apresentação. 

Douglas cita como exemplo Um terapeuta apresenta um caso clínico, digamos, do paciente “X”, com um desenvolvimento de caso mostrando uma pessoa que não sai de casa, não interage com amigos e familiares, vive triste ou chorando, e não tem ânimo para nada. Muitos dirão que “era óbvio” que essa está pessoa está deprimida e poderia tentar tirar a própria vida.

Entretanto, infelizmente, esse não é o caso para muitos suicidas. Muitas vezes a pessoa esconde seus reais sentimentos, guardando para si o sofrimento e a angústia de se ver sem saída e exibindo para a sociedade uma fachada tranquila e até mesmo feliz. Justamente por isso, deixam pasmos e chocados amigos e família, porque um ente querido não mais está entre eles.

Condições críticas no trabalho, problemas financeiros, abuso (físico ou psicológico), transtornos de ansiedade, solidão ou o sentimento de inadequação, todos podem facilitar o desenvolvimento de um quadro depressivo que pode levar à ideação suicida.

Ainda segundo a OMS, entre 40% e 60% dos suicidas procuraram um médico no mês anterior ao suicídio, sendo que destes 60% recorreram a um clínico geral e não a um psiquiatra, número ainda maior quando não se tem um serviço de saúde mental bem organizado. Na Suécia, reduziu-se o número de suicídios aumentando o treinamento dos clínicos gerais para identificar a depressão mais rapidamente.

Porém, além dos médicos, precisa ser difundido entre a população que os psicólogos também podem ajudar nesse processo não apenas na identificação, mas também no tratamento e controle dessa condição, acolhendo o sofrimento do cliente e focando em descobrir as causas que levaram a esse estado depressivo, em como essa condição se desenvolveu e deste modo, proporcionar uma melhora.

Precisamos quebrar o preconceito de que a Psicologia está disponível para prestar também esse tipo de apoio e serviço, e que psicólogo e psiquiatra não são apenas “coisa de doido” como muitos, infelizmente, ainda pensam. Precisamos pensar que esse tipo de preconceito, por vezes impede – ou pelo menos dificulta – o acesso de quem precisa a esses profissionais que poderiam prevenir essa decisão tão drástica”, afirma o especialista.

Como prevenir o suicídio em tempos de coronavírus

Em momento de reclusão e isolamento social, por conta do cenário mundial do novo coronavírus, o filósofo, psicanalista e gestor da CPAH – Centro de Pesquisas e Análises HeráclitoFabiano de Abreu  e a neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner recomendam algumas medidas preventivas:

  • Mantenha seu tratamento psicoterápico via on-line, a grande maioria dos profissionais estão trabalhando nessa modalidade.
  • Se faz uso de medicação, siga corretamente a prescrição médica. Não aumente a dosagem, nem faça desmame por conta própria.
  • Se sua medicação está por findar, entre em contato com o seu Psiquiatra, todos estão trabalhando sob novos protocolos.
  • Mantenha-se informado somente por vias sérias e éticas de notícias. Evite “Fake News”.
  • Trabalhe sua respiração através de meditação. A respiração consciente e ritmada, mantém a homeostase do corpo.
  • Durma bem, o sono fisiológico possibilita uma “psicoprofilaxia”, filtragem e limpeza de metabólicos cerebrais.
  • Mantenha uma alimentação equilibrada. Alimentos funcionais, menos processados e coloridos. “Descasque mais e desembrulhe menos”
  • Beba água, mantenha-se hidratado para o melhor funcionamento de todo o sistema de filtragem e eliminação, mantendo o organismo em bom funcionamento.
  • Use a criatividade e o espaço possível, para uma atividade física que goste.
  • Evite excesso de álcool, evite drogas. Mantenha-se lúcido.
  • Mantenha a rotina, isso faz com que você continue orientado no tempo.
  • Desenvolva uma plano, e faça planejamento para realizar  uma “comemoração” para quando tudo isso passar.
  • Traga para sua mente bons pensamentos, boas emoções. O que nós pensamos nós sentimos.
  • Pense coisas boas!
  • Sinta-se pertencendo a um grupo, o sentimento de pertença nos traz importância.
  • Faça chamadas de vídeo ou mesmo videoconferência, para reunir os amigos.
  • Você tem tempo, organize a casa, os armários, leia os livros que guardou na estante, assista os filmes e as séries que você queria e não tinha “tempo”.
  • Descubra um talento oculto, e trabalhe isso como uma TO- Terapia Ocupacional: Escrever, desenhar, pintar, esculpir, cozinhar, bordar…

Para casos mais graves que tenha ocorrido uma tentativa ou pensamentos de suicídio, trabalhe na “redução de danos”, seguindo orientações básicas:

  • Seja presente de forma integral, na vida do paciente com depressão.
  • Se aproxime da pessoas que está em sofrimento emocional/psicológico.
  • Ofereça conversa com escuta de qualidade.
  • Conduza a conversa até perceber que a pessoa está segura e confiando em você.
  • Pergunte abertamente se ela já pensou na própria morte.
  • Com o terreno preparado, pergunte se ela já pensou em tirar a própria vida.
  • Pergunte que método ela escolheria e por que seria assim?
  • Deixe-a falar, chorar, contando todo o seu plano.
  • Após tomar conhecimento da ideação e do planejamento, mostra-se solidário.
  • Compreenda “sem julgar”, a partir daí ofereça um “pacto ou um contrato de preservação” à vida.
  • Disponibilize o seu tempo para estar com ela.
  • Fale sobre o CVV – Centro de Valorização a Vida, que recebe telefonemas de pessoas nessas condições, o número é o 188 e é gratuito.
  • O desafio e a confissão trazem alívio. Deixando a pessoa com o recurso de procurar ajuda naquela pessoa ou no CVV.
  • Quando nos esvaziamos desse sentimento de angústia e desesperança, começamos a valorizar a vida.
  • Ter alguém que guarda o nosso segredo nos conecta a um outro ser. Esse sentimento de confiança forma um elo e traz motivação para superar o momento.
  • Ter ciência do plano e do planejamento para a execução, podendo tirar da pessoa a ferramenta que ela utilizaria.
  • Recolha a medicação,  retire o que puder ser feito de corda, lâminas cortantes, e não deixe a pessoa sozinha.
  • A presença traz a companhia e inibe a tentativa de atentar contra a própria vida.

Tudo passa; isso também passará.

Se cuide e cuide.

Somos todos únicos, mas agora somos todos UM!

Se conecte, a rede social, nunca foi tão real!

Com Assessorias

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