Novo levantamento realizado pelo IBGE aponta que a taxa de nascimentos caiu 4,7% em 2020, em comparação com 2019, em todas as regiões do país. O instituto mostrou que no período normalmente com maior demanda nos cartórios (meses de março a maio), a queda dos registros de nascimento foi ainda mais significativa quando comparada a média dos anos anteriores.

Também foi levado em consideração que uma das possíveis causas da queda foi a mudança dos horários de funcionamento dos cartórios, muitos inclusive chegaram a fechar durante a pandemia. Para especialistas em reprodução humana, as incertezas da pandemia e os riscos causados à gravidez pela infecção de Covid-19 foram cruciais para essa queda de nascimentos.

“Diferentemente do Zika vírus que sabemos que passa lesões para o bebê (embrião), a Covid 19 não ameaça o bebê na vida intrauterina, porém, no início, pouco sabíamos sobre o virus, então o que se aconselhava é que as mulheres realmente não engravidassem”, explica Maria Cecília Erthal, diretora médica do Vida Centro de Fertilidade.

Para a especialista, o que se observa agora é realmente um aumento dos casais se planejando para ter filhos. Tanto aqueles casais que conseguem de forma espontânea quanto aqueles que precisam de um tratamento, da ajuda da reprodução assistida para engravidar.

“Está havendo um aumento no número de pessoas já buscando essa alternativa para a gravidez acontecer. A gente percebe claramente dentro da reprodução assistida um aumento de casais buscando essa alternativa em busca de realizar o sonho da gravidez. A gente não consegue monitorar muito os que engravidam de forma espontânea porque os números não chegam nas clínicas de reprodução”, afirma.

Partiu congelar

Para estimular a volta às clínicas de reprodução assistida, a Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, em São Paulo, lançou em junho a campanha “Partiu Congelar!”, com preços especiais para o congelamento de óvulos

Através da técnica, muitas mulheres conseguem postergar a maternidade para quando acharem adequado, permitindo que elas tenham controle sobre as suas possibilidades, diminuindo a preocupação com o seu relógio biológico.

Na ação – prevista para durar por volta de 4 meses (até novembro) para agendamentos pelas redes sociais – os valores promocionais são R﹩ 8.900 (parcelados em 3x) ou R﹩ 9.500 (parcelados em 10x).

Mulheres optam por maternidade tardia

O IBGE também analisou a idade das mulheres na hora do parto nos anos de 2000, 2010 e 2020, e dois grupos chamam atenção – a faixa etária entre 20 e 29 anos vem diminuindo, e a de 30 a 39, crescendo. Isso comprova que cada vez mais as mulheres estão deixando a vida profissional e outras áreas na frente da maternidade.

Ao postergar a maternidade é essencial ter um planejamento, pois a gravidez tem ligação direta com a qualidade da saúde reprodutiva da mulher. Maria Cecília que orienta as mulheres a congelarem seus óvulos, de preferência, antes dos 30  anos de idade.

O congelamento de óvulos é um procedimento da Reprodução Assistida que está em alta em todo o mundo. Isso é reflexo de uma mudança de comportamento das mulheres que estão postergando a maternidade. Desta forma, seja pela vida profissional, por escolhas pessoais ou falta do parceiro, nota-se que muitas mulheres decidem engravidar mais tarde.

“A Medicina Reprodutiva tem utilizado a técnica de congelamento de óvulos como uma das formas para tentar preservar a fertilidade feminina, já que ela vai diminuindo com o passar dos anos, diferentemente dos homens, que permanecem férteis por toda a vida”, explica o médico especialista em reprodução humana, Nilo Frantz.

Menopausa precoce leva mulheres a congelar óvulos

Outro fator que leva ao congelamento, é a menopausa precoce, um quadro clínico em que a mulher deixa de ovular e menstruar antes dos 32 anos de idade. Isso é considerado anormal já que o período natural para a falência ovariana é após os 40 anos.

“Sabe-se que a menopausa precoce pode se originar de vários fatores, como da própria genética, por exemplo. Desta forma, é importante que a mulher saiba identificar, no histórico da mãe e das avós, quando elas entraram na menopausa, pois há uma tendência que o cenário se repita”, pontua.
“Manter óvulos congelados é uma opção para preservar a fertilidade, Ideal para mulheres abaixo dos 30 anos, que não querem engravidar ou que não pretendem engravidar antes dos 35 anos, o congelamento de óvulos não tem prazo de validade”, explica.
Após os 35 anos, a quantidade e a qualidade de óvulos disponíveis no corpo da mulher é menor e, por isso, o ideal é que congelem seus óvulos. A mulher deve procurar uma clínica especializada para avaliar sua reserva de óvulos, e é importante fazer uma pesquisa de causas de infertilidade, para que se tenha a tranquilidade de saber que nada orgânico poderá atrapalhar quando decidir constituir sua família.

 

Palavra de Especialista

O sonho de ser mãe congelado pela pandemia

Por Gabriel Monteiro*

Sou ginecologista, obstetra e especialista em reprodução assistida. Todos os dias, atendo pacientes que desejam ser mães, porém muitas enfrentam uma longa jornada para conseguir realizar o sonho de ter um bebê no colo. É um trabalho emocionante e que me deixa realizado, embora, às vezes, frustrado também. Lidar com o sonho e a expectativa dos outros é desafiador.

A pandemia causada pelo novo coronavírus chacoalhou o mundo todo e, até hoje, nos deparamos com seus mais distintos desfechos. Recentemente, uma pesquisa confirmou um fato que já havia notado na rotina de atendimento no consultório: a procura pela criopreservação da fertilidade feminina teve um aumento consistente em 2020: 50% mais mulheres congelaram óvulos no mundo todo – dado que reflete também a realidade brasileira, de acordo com clínicas especializadas de todo o país.

Se postergar a maternidade já era uma tendência, o cenário de incertezas trouxe uma maior conscientização sobre o empoderamento reprodutivo feminino. À medida que o tempo passa, a quantidade e a qualidade dos óvulos diminuem e o congelamento de óvulos pode dar à mulher o controle da sua fertilidade para que ela decida o melhor momento para ser mãe.

Quanto antes a mulher fizer a criopreservação, melhor, pois o sucesso da gravidez no futuro depende principalmente da idade dos óvulos, ou seja, a idade da mulher no momento do congelamento. O problema é que a grande maioria das mulheres buscam o congelamento entre 35 e 40 anos. Infelizmente, nem todas chegam a essa idade com uma reserva ovariana boa e a qualidade e a quantidade dos óvulos – o ideal é coletar cerca de 15 óvulos – são importantes para garantir boas chances futuras.

Então, temos um trabalho de formiguinha pela frente: informar as mulheres para que elas pensem sobre a criopreservação antes, por volta dos 30 anos. O ginecologista tem um papel importante aqui e essa conversa sobre planejamento da maternidade e a avaliação da reserva ovariana devem acontecer durante a consulta de rotina. Quantas mulheres com mais de 40 anos que estão fazendo tratamento para engravidar não desejariam ter seus óvulos guardados há 10 anos?

O tratamento é mais simples e, apesar de ser um procedimento caro, é mais acessível do que muita gente pensa. Tudo começa quando a mulher menstrua, com o estímulo hormonal para produzir mais folículos e, consequentemente, mais óvulos. A estimulação é acompanhada de perto pelo especialista de reprodução humana através da ultrassonografia transvaginal seriada e exames laboratoriais.

A coleta de folículos dos ovários, dentro dos quais estão os óvulos, é realizada com sedação, em um centro cirúrgico. Depois de coletados, os óvulos passam por uma seleção para que somente os maduros sejam congelados. Em seguida, são mergulhados em nitrogênio líquido e congelados rapidamente a 196 graus negativos.

Os óvulos podem ficar congelados por muitos anos. E o que acontece caso a mulher não utilize as células armazenadas? Como o óvulo é um gameta, pode ser descartado a qualquer momento. A criopreservação de óvulos deve ser vista como um seguro-maternidade, uma conquista de parar o tique-taque do relógio biológico para decidir qual o melhor momento da maternidade.

Gabriel Monteiro é médico ginecologista e obstetra, especialista em reprodução assistida e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.

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