o ator Ben Stiller foi diagnosticado com a doença em 2014 após fazer o exame de sangue PSA
o ator Ben Stiller foi diagnosticado com a doença em 2014 após fazer o exame de sangue PSA

E depois de um mês inteiro dedicado a elas, com o Outubro Rosa conscientizando para o câncer de mama, é a vez deles, que são mais avessos a falar de doenças e, por conta disso, de se cuidarem mais. Criado na Austrália em 20013, o Novembro Azul é voltado à campanha de esclarecimento sobre o câncer de próstata. Cercada pelo tabu do toque retal, principal exame para sua detecção, a doença avança a cada ano. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 61.200 novos casos em 2016, o que  corresponde a 28,6% de todos os novos casos em homens deste ano.

É o segundo câncer mais incidente na população masculina, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, e o sexto tipo mais comum no mundo. O câncer de próstata (CaP) permanece como a neoplasia sólida mais comum – 10% do total de casos diagnosticados mundialmente – e a segunda maior causa de óbito oncológico no sexo masculino. Estima-se que quase 25% dos portadores de câncer de próstata ainda morrem devido à doença. Apesar disso, tem altas chances de cura em 90% dos casos quando diagnosticada precocemente.

Mas o diagnóstico esbarra numa questão cultural: muitos homens se recusam a se submeter o exame do toque retal, o mais tradicional sistema de diagnóstico desse tipo de câncer.  De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, em comparação a 2014, a população masculina procurou 30% a menos a rede estadual de saúde para realizar exames de prevenção e diagnóstico da doença. De janeiro a outubro de 2015, foram realizadas 2.948 ultrassonografias e 776 biopsias, disponibilizadas pela rede. Para fazer os exames, os pacientes podem buscar uma unidade básica de saúde no município, que fará diretamente o agendamento.

Segundo o oncologista e diretor médico da unidade Itaboraí do Hospital Adventista Silvestre, Rogério Gusmão, o papel do exame preventivo é fundamental para detectar e tratar a doença em estado inicial antes que se agrave. “Quando o câncer de próstata é diagnosticado precocemente, há cerca de 90% de chance de cura. Ao ser diagnosticado tardiamente, as chances de metástase são grandes e a sobrevida de cinco anos é baixa. Esse é o valor da prevenção e da campanha”, explica.

Segundo o médico, um a cada seis homens deverá desenvolver a doença e um a cada 36 morrerá dela. E esse número só vai abaixar quando o diagnostico for precoce. “Homens com histórico na família devem realizar os exames preventivos a partir dos 40 anos. Sem histórico, a partir dos 50. A periodicidade deve ser anual para aqueles que não tiveram alteração nos exames. Quando houver alteração, o retorno poderá ser semestral ou trimestral”, ressalta. Sobre a importância de realizar todos os exames preventivos, o médico é taxativo.

Mas é possível fazer um diagnóstico inicial através do exame de sangue PSA – Antígeno prostático específico (PSA),  uma substância produzida pelas células da glândula prostática, e encontrada principalmente no sêmen.  Recentemente o ator Ben Stiller, conhecido por papéis como Zoolander, revelou que foi diagnosticado com a doença em 2014. O tumor foi retirado cirurgicamente três meses depois do diagnóstico e desde então Stiller está livre da doença.  De acordo com o ator, foi o exame PSA que salvou sua vida ao fazer o diagnóstico precoce: Stiller foi testado e tratado aos 40 anos, apesar da recomendação dos exames para a doença ser a partir dos 50.

“O exame PSA deve ser realizado, mas não substitui o toque, já que existem tumores que não elevam o PSA e somente são diagnosticados no toque”, afirma Gusmão.  Já Mauricio Rubinstein, fellow em Laparoscopia Urológica e Cirurgia Robótica na Cleveland Clinic e membro correspondente da American Urological Association, afirma que o toque retal é menos preciso do que o PSA.

“Como a próstata está localizada na frente do reto, e a maioria dos cânceres de próstata começa na parte posterior da glândula, assim é possível sentir o tumor durante o exame de toque retal. Apesar de ser menos eficaz, ele pode detectar o câncer em homens com níveis de PSA normais. “Por isso é importante fazer os dois tipos de exame, para ter certeza absoluta do diagnóstico”, conta Mauricio.

Novas formas de diagnóstico

Mas um outro exame, que promete ser mais eficaz, está sendo estudado. De acordo com um grupo de pesquisadores, mais de 1 entre 10 homens com câncer de próstata avançado carrega um gene defeituoso herdado de um dos pais. O estudo foi feito com 700 pacientes com o tipo agressivo do câncer e revelou que uma porção significativa nasceu com esse DNA mutante e que podem se beneficiar dos novos remédios que exploram os danos genéticos para localizar e acabar com as células cancerígenas.

“A identificação desses genes pode orientar quais tratamentos e drogas poderiam agir melhor nesses casos graves, com drogas que matariam as células cancerosas. Novas formas de diagnosticar casos graves podem mudar a forma de screening familiar nessas mutações genéticas, porém ainda é muito cedo para tornar isso uma rotina. Há necessidade de mais estudos a fim de avaliar os pros e contras do uso desses exames como métodos preventivos”, explica Rubinstein.

A Sociedade Brasileira de Urologia mantém sua recomendação de que homens a partir de 50 anos devem procurar um profissional especializado para avaliação individualizada. Aqueles da raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar aos 45 anos. O rastreamento deverá ser realizado após ampla discussão de riscos e potenciais benefícios. Após os 75 anos, poderá ser realizado apenas para aqueles com expectativa de vida acima de dez anos.

Biópsia por ressonância

Novos tratamentos e métodos de diagnóstico vêm revolucionando o combate à doença. Segundo o oncologista clínico Daniel Herchenhorn, do Grupo Oncologia D’Or, a biópsia por ressonância merece destaque. O especialista explica que a diferença entre a biópsia tradicional e a por ressonância é que a segunda diminui os riscos do super-diagnóstico, que nada mais é o diagnóstico de uma anormalidade que não traduz, necessariamente, uma doença clinicamente significativa.

“A biópsia por ressonância para o câncer de próstata pode melhorar o diagnóstico da doença e focar no que realmente deve ser tratado, que é o tumor denominado de grau elevado”, explica o especialista. “Trata-se de um importante avanço contra a doença”, finaliza Herchenhorn, que recentemente participou do o IV Congresso Internacional Oncologia D’Or, no Rio.

Rastreamento do câncer de próstata

Atualmente, cerca de 20% dos pacientes portadores de câncer de próstata ainda são diagnosticados em estágios avançados, embora um declínio importante tenha ocorrido nas últimas décadas em decorrência principalmente de políticas de rastreamento da doença e maior conscientização da população masculina.

O rastreamento universal de toda população masculina (sem considerar idade, raça e história familiar) não parece ser a melhor abordagem. Apesar de associado ao diagnóstico precoce e diminuição da mortalidade, pode trazer malefícios a muitos homens. Individualizar a abordagem é fundamental neste sentido.

A identificação de pacientes com alto risco de desenvolverem a doença de uma forma mais agressiva através de parâmetros clínicos ou laboratoriais pode ajudar a individualizar a indicação e frequência do rastreamento. Entre diversos fatores, a idade, a raça e a história familiar apresentam-se como os mais importantes.

Outro ponto é o oferecimento da observação vigilante como conduta na doença de baixo risco. Esta abordagem consiste em avaliações periódicas por meio de toque retal e dosagem do PSA, reservando-se a ressonância magnética da pelve e biópsia prostática para ser realizada em intervalos variados. O tratamento definitivo deve ser indicado caso seja identificada progressão da doença em pacientes com expectativa de vida superior a dez anos, poupando pacientes com tumores indolentes das consequências do tratamento.

Sobrevida global talvez não seja o melhor desfecho para se avaliar a eficácia do rastreamento. O impacto do rastreamento sobre a mortalidade câncer específica, a qualidade de vida, a diminuição de metástases, dor, internações por obstrução vesical, necessidade de quimioterapia ou tratamentos dispendiosos da doença na fase da resistência a castração e outros benefícios aqui não mencionados não podem ser avaliados nos trabalhos publicados.

Como esperado, as consequências da equivocada resolução da USPSTF nos EUA começam a aparecer. Trabalho apresentado no 2015 Genitourinary Cancers Symposium pode provocar ainda mais discussão sobre o tema e reforçar o papel do rastreamento. Foram avaliados retrospectivamente 87.562 novos casos diagnosticados entre 2003 e 2013 em 150 instituições nos EUA.

Foi demonstrado que após a recomendação da U.S. Preventive Services Task Force (2011) contra o rastreamento houve um aumento de 3% ao ano no diagnóstico de tumores de risco intermediário e alto risco. (3) Outra publicação recente mostrou redução no número de diagnósticos de tumores agressivos, o que cria preocupação de que o diagnóstico tardio em casos de câncer de próstata de alto risco possa acarretar um maior impacto para a saúde pública e resultados oncológicos no futuro.

Fontes: Oncologia D´Or, Hospital Adventista Silvestre, Sociedade Brasileira de Urologia e Mauricio Rubinstein

 

 

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