Atualmente existem 335.151 pessoas vivendo nas ruas do Brasil. Destas, 9.933 são crianças e adolescentes, 294.467 têm entre 18 e 59 anos e 30.751 são idosos. A maioria (84%) são cidadãos do sexo masculino. Os dados são de uma pesquisa do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais, que analisou dados de março de 2025 do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) do governo federal.

O Congresso Nacional será iluminado de vermelho na noite desta terça-feira (19/8) em referência ao Dia da Luta da População em Situação de Rua, celebrado em 19 de agosto. O objetivo é defender a dignidade e os direitos dessas pessoas, bem como promover sua inclusão nas políticas públicas de natureza social – como aquelas orientadas para as áreas de saúde, moradia, trabalho e assistência social, entre outras.

A data remete à Chacina da Praça da Sé, ocorrida entre 19 e 22 de agosto de 2004, na cidade de São Paulo, quando 15 pessoas em situação de rua foram atacadas enquanto dormiam – sete morreram. O caso teve ampla repercussão nacional e internacional e motivou mobilizações em defesa dos direitos dessa população.

No Estado do Rio de Janeiro, a data foi marcada por uma cerimônia que selou o acordo entre o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) e a Prefeitura de Niterói para o enfrentamento deste grave problema social. O presidente do TJRJ, desembargador Ricardo Couto de Castro, e o prefeito Rodrigo Neves assinaram termo de acordo de cooperação técnica para instalação do Comitê Interinstitucional de Atenção à População em Situação de Rua (Cipop-Rua) no município.

Niterói terá Centro de Atendimento à População de Rua

A assinatura do acordo de cooperação técnica aconteceu na sede do Tribunal de Justiça. A implantação do CIPOP é uma ação conjunta que envolve município, estado e governo federal, com o objetivo de criar uma rede de apoio abrangente para pessoas em situação de rua.

Niterói será a segunda cidade do estado a implementar este equipamento criado pela Justiça do Rio que, atualmente, só funciona no Centro do Rio. O Centro Integrado busca criar uma rede de apoio abrangente para pessoas em situação de rua, levando serviços diversificados para o mesmo lugar a fim de facilitar o acesso.
A unidade de Niterói funcionará integrada ao programa municipal Recomeço, que será inaugurado no dia 22 de agosto na Rua José Figueiredo, 30, no Centro. O programa oferecerá assessoria jurídica, capacitação para o mercado de trabalho, reforço escolar, emissão de documentos, como carteira de identidade e título de eleitor, palestras, entre outras atividades.
A primeira unidade do CIPOP-RUA funciona desde o segundo trimestre de 2024, na Central do Brasil. Por dia, são atendidas, em média, 160 pessoas, tendo batido recorde no dia 5 de agosto de 2025, com 200 atendimentos. Até julho de 2025, a unidade já prestou 47.356 serviços diversos para um total de 22.484 assistidos.

Rede de apoio abrangente para pessoas em situação de rua

Em sua fala, prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, disse que o programa será tratado como prioridade pelo município. “É um momento histórico para todos nós. Ter tantas pessoas em situação de rua é um dos maiores desafios das grandes cidades, junto com a violência urbana. Não podemos ficar de braços cruzados”, considerou.
Ele ainda lembrou que a questão do acolhimento e reinserção da população em situação de rua é um dos principais desafios no pós-pandemia no mundo todo. “O CIPOP, do Tribunal de Justiça, vai somar ao trabalho que estamos desenvolvendo trazendo uma condição de reinserção e de acompanhamento dessas pessoas que tanto precisam de ajuda”, reforçou Rodrigo Neves.
Para o prefeito, a assinatura representa um passo adiante nos programas de assistência social, de acolhimento e reinserção das pessoas em situações de vulnerabilidade social. “O Recomeço é um projeto que construímos a várias mãos com os profissionais, baseado em evidências nas melhores experiências internacionais”.

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‘Alguns podem dizer que o Tribunal está desviando seu foco’

Da esquerda para a direita: desembargadora Renata Cotta, presidente da Comissão de Articulação de Programas Sociais; Rodrigo Neves, prefeito de Niterói; desembargador Ricardo Couto, presidente do TJRJ; desembargador Peterson Barroso Simão, presidente Regional Eleitoral do Rio de Janeiro; e Luciana Ortiz Zanoni, presidente do Comitê POP RUA JUD Nacional
Desembargadora Renata Cott; Rodrigo Neves, prefeito de Niterói; desembargador Ricardo Couto, presidente do TJRJ; desembargador Peterson Barroso Simão e
Luciana Ortiz Zanoni, presidente do Comitê POP RUA JUD Nacional (Foto: Divulgação TJRJ)
Certos dias são de festa. Hoje, por exemplo, é um dia em que projetamos nossos olhares para as pessoas que necessitam. As perguntas que devem ser feitas são: ‘o que leva uma pessoa a essa situação? O que podemos fazer por elas?’. Alguns podem dizer que o Tribunal está desviando seu foco. Mas essa é uma visão tacanha. A atuação do TJ é no sentido de tirar a invisibilidade e resgatar a cidadania dessas pessoas”, declarou o presidente do TJRJ, Ricardo Couto.
A presidente da Comissão de Articulação de Programas Sociais do TJRJ (COAPS/TJRJ), desembargadora Renata Cotta, disse que a assinatura do termo representa o reconhecimento da importância do trabalho em rede para o enfrentamento desse grave problema social. Ela destacou que, atualmente, são mais de 330 mil pessoas em situação de ruas espalhadas pelos grandes centros urbanos do país e que traduz um fenômeno social complexo envolvendo questões no âmbito pessoal, social, político e econômico.
Os atendimentos diários no Cipop-Rua Rio de Janeiro ultrapassam média de 160, atingindo picos de até 200. Esses números ajudam a quebrar o estigma sobre essa população vulnerável que, dentre tantas outras mazelas, sofre com o preconceito. A existência dessa imensidão de pessoas em situação de rua é na verdade o espelho mais doloroso da nossa sociedade e a face mais visível da desigualdade social”, afirmou a magistrada.

Como vai funcionar o novo serviço em Niterói

De acordo com o secretário de Assistência Social e Economia Solidária, Elton Teixeira, o CIPOP ganha um formato diferente em Niterói, onde estará vinculado a toda a rede de serviços da Prefeitura e, em breve, junto com o Programa Recomeço, que será uma iniciativa integral de atendimento às pessoas em situação de rua.

Esse acordo é fundamental para a gente estruturar ainda mais a rede de serviços para atendimento à população em situação de rua. O CIPOP será um equipamento que agrega uma série de serviços e que vai estar integrado ao Programa Recomeço. Com isso, a população em situação de rua vai poder ter acesso a documentação e serviços assistenciais e de saúde pública. A ideia é facilitar a vida das pessoas que querem reconstruir a sua trajetória”, explicou o secretário.

Entre os órgãos que vão atuar no CIPOP Niterói estão o Detran, Fundação Leão 13, Tribunal Regional do Trabalho e Tribunal Regional Eleitoral. Os serviços abrangem a emissão de uma série de documentos como Registro Geral (RG – Identidade) e Cadastro de Pessoa Física (CPF), audiências de conciliação e acesso a benefícios previdenciários.
O Recomeço faz parte da Política Municipal de Acolhimento Humanizado e Assistência Integral a Pessoas em Uso Abusivo de Álcool e/ou Outras Drogas e/ou com Transtornos Mentais, sancionada em abril deste ano. A nova legislação estabelece diretrizes para a assistência à população em situação de rua, com o objetivo de consolidar uma abordagem mais digna, eficaz e centrada nos direitos humanos.

Com uma abordagem ampla e humanizada, o programa Recomeçar busca oferecer caminhos reais de reinserção social e reconstrução de vidas por meio da articulação de políticas públicas de assistência social, saúde, habitação, segurança, educação e geração de renda. Serão mais de 30 serviços integrados no mesmo espaço e que vão facilitar a garantia de direitos e a promoção da cidadania da população em situação de rual

Com Assessorias
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