Dificuldade de raciocínio e problemas de memória são algumas das sequelas mais comuns da Covid-19. “Eu nunca mais fui normal, nunca mais senti que eu era a mesma pessoa”, disse Luzineth Navarro Mesquita, servidora pública.
Quando Luzinete percebeu esses sintomas, meses após ter Covid, achou que era um problema exclusivo dela. Mas a doutora Lúcia Braga, da Rede Sarah de hospitais de reabilitação, percebeu que queixas desse tipo tinham se tornado muito frequentes.
“De repente 30% da demanda era reabilitação pós-Covid. A maior queixa era a névoa cerebral. (…) Essa névoa é uma dificuldade no planejamento do cotidiano, na concentração, na atenção, na memória, que são elementos que repercutem na nossa vida diária”, explica Lúcia Braga.
O doutor Drauzio Varella foi conhecer uma paciente que está usando estratégias de uma pesquisa nacional para driblar a “chamada névoa cerebral”. A partir do acompanhamento de mais de 600 pessoas, os pesquisadores criaram uma estratégia de tratamento capaz de trazer benefícios significativos.
Segundo Lúcia, a primeira ideia foi fazer grupos: “Essa ideia de que um pudesse ouvir o outro e trocar experiências, as pessoas se sentirem incluídas ia ser muito bom”.
Foram quatro encontros em grupo — com duração de apenas uma hora cada um. Os grupos podiam se encontrar de forma presencial ou online — e os pesquisadores ensinavam o que chamaram de “estratégias compensatórias”.
“Quando a pessoa usa uma estratégia de compensação como organizar a vida ou organizar suas tarefas, planejar, dividir por etapas, fazer checklist e tal, ela vai exercitar o cérebro”, explica Lúcia.
Depois de conhecer essas estratégias durante os encontros, a ideia é que o paciente siga a reabilitação por conta própria.
Dicas de reabilitação
As dicas para reabilitação são quase todas simples. Na verdade, hábitos saudáveis para qualquer pessoa! Além de organizar o ambiente, algumas tarefas úteis identificadas pela pesquisa são:
- Minimizar distrações, como os infinitos estímulos vindos do celular;
- definir metas alcançáveis;
- fazer checklists de pequenas tarefas e concluir uma de cada vez;
- fazer intervalos de descanso;
- fazer atividade física — é comprovado que mesmo exercícios leves, como caminhar ou pedalar, melhoram a oxigenação do cérebro, gerando um efeito dominó de benefícios à atenção, raciocínio e memória.
Segunda etapa
Numa segunda etapa da pesquisa, oito meses depois da primeira avaliação, foram colhidos os resultados de mais de 200 pacientes que conseguiram seguir o programa.
Quase 70% relataram melhora das queixas cognitivas: mais da metade atribuiu a melhora aos encontros em grupo, e mais de 60% destacaram o uso das “estratégias compensatórias”.
Esses resultados viraram artigo na publicação internacional “Neuroreabilitation”.