A ex-presidenta da República e atual presidenta do banco do Brics, Dilma Rousseff, de 77 anos, foi internada na última sexta-feira (21), no Shanghai East International Medical Center, na China, onde mora, para tratar do quadro de neurite vestibular, uma inflamação do nervo vestibular, responsável por conectar o ouvido ao cérebro controlar o equilíbrio.

A ex-presidente apresentou pressão alta, vômito e tonturas. De acordo com nota divulgada pela assessoria da ex-presidenta, Dilma responde bem ao tratamento e deverá receber alta nos próximos dias.

Dilma Rousseff passa bem e tem mantido suas atividades de trabalho normalmente durante o período em que está internada. A presidenta agradece as mensagens de apoio e solidariedade recebidas”, diz a nota divulgada na manhã desta terça-feira (25).

A doença não oferece risco à vida, mas causa extremo desconforto. De acordo com a literatura médica, quando inflamado, este nervo pode interferir na maneira como informações são interpretadas pelo cérebro.  Na maioria dos casos, a neurite vestibular é causada por vírus. E, em geral, seus sintomas são confundidos com os da labirintite.

A Neurite Vestibular está entre as causas mais frequentes para tonturas associadas ao labirinto e outros componentes do sistema vestibular periférico. As outras são VPPB (Vertigem Posicional Paroxística Benigna) e Doença de Ménière.

Sintomas podem durar até semanas, alerta o Doutor Tontura

De acordo com o neurologista Saulo Nader, especialista em tontura, equilíbrio e desequilíbrios, essa condição de saúde pode durar dias ou semanas e, em alguns casos, até deixar sequelas, infelizmente. O sintoma mais comum é uma vertigem intensa e repentina, acompanhada de desequilíbrio e náuseas.

Trata-se de uma das mais terríveis doenças que atingem o sistema vestibular e todo sistema todo entra em colapso. Um quadro agudo que pode levar uma pessoa até o hospital para descartar uma suspeita de AVC. Nos demais casos, a melhora é gradual, com a recalibragem do equilíbrio”, alerta Nader.

O neurologista, que é membro oficial da prestigiada sociedade científica internacional Bárány Society (Suécia), afirma que a causa é idiopática, ou seja, ocorre ao acaso e pode ser com qualquer ser humano. Porém com maior chance de atingir pessoas com baixa resistência, períodos de estresse ou de privação de sono.

Doutor Tontura, como é ele é conhecido nas redes sociais, ressalta ainda que o tratamento inclui medicamentos para aliviar os sintomas e, posteriormente, fisioterapia vestibular, que ajuda o cérebro a se ajustar ao novo funcionamento do sistema de equilíbrio. Cuidado na dosagem e tempo dos medicamentos que podem piorar o caso.

Para prevenir sequelas, é essencial evitar repouso excessivo e estimular a adaptação do organismo por meio de movimentos e exercícios específicos. O acompanhamento médico é fundamental para garantir uma recuperação completa.

Labirinto, o nosso sexto sentido

labirinto é uma pequena estrutura que fica dentro dos nosso ouvidos, mas tem uma grande importância, como explica a otoneurologista Lisandra Megumi. do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia. 

Hoje a gente fala que o labirinto é um sexto sentido, porque ele é um sensor de movimento, ele percebe a aceleração da cabeça. Associado à visão e ao tato, ele faz parte de um sistema maior, que é o equilíbrio”.

A médica conta que as pessoas têm um labirinto direito e um esquerdo e cada um tem dois nervos. “Qualquer um desses dois nervos pode ficar inflamado e perder sua função”.   De acordo com o otoneurologista Márcio Salmito, geralmente o paciente com neurite vestibular precisa de cuidados emergenciais porque fica temporariamente incapacitado pelos sintomas.

Ele tem, de uma hora para outra, uma crise de vertigem, aquela sensação de que está tudo girando, como se estivesse no liquidificador, de forma bem intensa. E isso vem junto com muito mal-estar. A maioria das pessoas que tem neurite vestibular fala que foi a pior coisa que já sentiu na vida”, relata o médico, que é presidente da Academia Brasileira de Otoneurologia e da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia.

Causas e tratamento

Márcio Salmito explica que o diagnóstico geralmente é feito com base nos sintomas, já que somente em alguns casos é possível verificar a inflamação em exames de ressonância magnética. A vertigem também é acompanhada de aceleração dos batimentos cardíacos, palidez, suor frio e vômitos frequentes, que podem causar desidratação.

A inflamação geralmente ocorre por infecção viral, inclusive influenza e covid-19. Por isso, o tratamento tradicional é feito com o controle dos sintomas e a administração de anti-inflamatórios a base de corticóides. Apesar de não oferecer risco à vida, a doença pode deixar sequelas, de acordo com o otoneurologista.

Tem três possibilidades: o labirinto pode voltar ao normal, como se nada tivesse acontecido; a segunda possibilidade, que é a mais comum, é o labirinto não voltar mais ao normal, e no entanto, a pessoa conseguir, pelo mecanismo de compensação vestibular, ficar totalmente sem sintomas; e a terceira possibilidade é a pessoa não conseguir compensar e desenvolver um quadro de tontura crônica”.

Por causa da idade – 77 anos – Dilma tem mais chances de ficar com a função do labirinto prejudicada. Isso porque, de acordo com Salmito, o mecanismo de compensação – que faz com que a estrutura do ouvido saudável assuma a função do ouvido atingido – piora com o passar dos anos.

Mas, quando o paciente demora ou não consegue se recuperar, é possível intervir com exercícios de reabilitação vestibular ou medicamentos. Além disso, a otoneurologista Lisandra Megumi lembra que a vertigem pode ter consequências secundárias, especialmente em idosos: “a habilidade de se movimentar pode cair um pouco, o que aumenta o risco de acidentes, quedas e fraturas”.

AVC também pode afetar o labirinto

A médica do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia destaca ainda que a neurite vestibular causa sintomas tão intensos que dificilmente a pessoa deixará de procurar atendimento médico, mas todas as tonturas e vertigens devem ser investigadas:

“Muitos pacientes acabam tomando remédio para o labirinto, sem saber exatamente qual é a doença que está por trás. Pode ser um AVC, que a gente tem que investigar a parte vascular, ou uma crise de migrânea vestibular, que é uma tontura associada com a enxaqueca.”

Algumas doenças são mais arrastadas, aí o paciente consegue entender que aquele movimento não é confortável, e passa a evitar o movimento que dá tontura. Então, no dia a dia, ele vai convivendo com a tontura, porque ele cria mecanismos para não ter aquele desconforto. Mas em alguns casos, quando a gente examina, consegue flagrar que existe uma tontura muito importante e que precisa de um tratamento específico”, aconselha a especialista.

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Os principais sintomas da Neurite Vestibular

A otoneurologista  Nathália Prudêncio, médica otorrinolaringologista especialista em tontura e zumbido, explica que a Neurite Vestibular é a inflamação do nervo vestibular de um único lado, ele é responsável por transmitir informações entre o labirinto e o cérebro.

Essa condição compromete a informação que chega até o sistema nervoso central, desencadeando a tontura típica desta doença: a vertigem rotatória. Esse tipo de tontura é caracterizada pela sensação de ver tudo girar ou de sentir o corpo girar. Em alguns casos, também pode se manifestar como um desequilíbrio importante ou instabilidade”, explica a Dra. Nathália.

Diferentemente da labirintite, esse quadro não gera alterações auditivas, mas são esperados sintomas como vertigem, náuseas, vômito e dificuldade para andar, como explica a otoneurologista. No entanto, o paciente com Neurite Vestibular geralmente apresenta uma vertigem intensa capaz de dificultar atividades simples, como andar.

Outros sintomas esperados são: náusea; vômitos; palidez; nistagmo (movimento involuntário dos olhos); sudorese intensa. “Os pacientes costumam experimentar uma única crise isolada ― que começa grave e reduz sua intensidade gradualmente ao longo dos dias e semanas” diz.

Neurite Vestibular ocorre após gripe ou resfriado

Na maioria dos casos, segundo a médica, a Neurite Vestibular ocorre após um quadro viral comum, como uma gripe ou um resfriado. “É relativamente rara em crianças, mas pode ocorrer em adultos de todas as idades, sobretudo entre aqueles com idades entre 30 e 60 anos”, completa.

A médica explica que uma característica importante na Neurite Vestibular ― e uma das principais pistas para o seu diagnóstico ― é que a doença começa de forma repentina e não costuma apresentar alterações auditivas, como perda de audição, sensação de ouvido tapado e zumbido no ouvido.

Além da avaliação clínica em consultório, podem ser solicitados exames complementares para avaliação do sistema vestibular ― como Video Head Impulse Test (vHIT), Potencial Evocado Miogênico Vestibular (VEMP) e Videonistagmografia ―, bem como a  audiometria para afastar o acometimento auditivo. É importante que o paciente busque ajuda médica com rapidez para obter um diagnóstico e iniciar o tratamento”, diz.

Tratamento da Neurite Vestibular 

A Neurite Vestibular é uma doença autolimitada, ou seja, os sintomas agudos tendem a desaparecer completamente ao longo de alguns dias ou semanas, de acordo com a médica. “O tratamento consiste no uso de medicamentos, como supressores labirínticos, corticosteroides e cuidados no dia a dia para aliviar os sintomas da doença”, completa.

Muitas vezes, porém, a Neurite Vestibular pode causar uma sensação de tontura ou desequilíbrio que pode se manter por semanas, principalmente com movimentos rápidos da cabeça. Nesses casos, é importante que o paciente mantenha sua vida ativa e, se necessário, inicie à Terapia de Reabilitação Vestibular. Essa reabilitação é feita junto a um profissional especializado e consiste em exercícios realizados com a cabeça, olhos e corpo, ajustados para cada fase do tratamento, cuja função é estimular o nervo vestibular afetado”, diz.

Segundo a médica, não há como dizer exatamente quanto tempo dura a Neurite Vestibular. “A recuperação pode variar de acordo com o grau da lesão, a idade do paciente, características específicas do indivíduo, nível de atividade, entre outros fatores. Em geral, são esperadas entre 6 a 8 semanas de reabilitação para remissão completa dos sintomas, mas o tempo pode aumentar quando o tratamento é negligenciado pelo paciente”, explica.

Embora seja uma doença relacionada ao nervo vestibular, o primeiro médico a ser consultado nesse caso é o otorrinolaringologista ou o otoneurologista (que é o otorrino especializado em sintomas como tontura e zumbido). Na consulta, procuramos entender a história do paciente, além de analisar o seu histórico de saúde e realizar o exame físico em consultório, que pode nos dar pistas da doença”, finaliza a médica.

Da Agência Brasil, com Assessoria

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