O número de pessoas vivendo com o HIV no Brasil ultrapassa um milhão e somente em 2022 foram registrados mais de 16,7 mil casos novos da infecção, segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. A concentração predominante de casos de HIV no país está entre jovens de 25 a 29 anos, sendo 52,4% do sexo masculino e 48,4% do feminino. O diagnóstico precoce é fundamental, independentemente de gênero, mas se torna ainda mais necessário para as mulheres, especialmente as que desejam engravidar, pois permite controlar a carga viral e evitar a transmissão do vírus da mãe para o filho.

“O HIV pode infectar o feto ou recém-nascido, situação denominada de transmissão mãe-criança do HIV ou simplesmente transmissão vertical (TV) desse microrganismo. Ela pode ocorrer durante a gravidez (transmissão transplacentária), no momento do parto e também por meio do leite materno, durante a amamentação”, pontua Geraldo Duarte, presidente da Comissão de Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Ele esclarece que, em termos gerais, as manifestações clínicas da Aids em homens e mulheres são bastante semelhantes. No entanto, as manifestações relacionadas ao envolvimento genital são mais prevalentes nas mulheres, manifestando-se de maneira mais acentuada nessa área. Outro ponto a considerar é a menor incidência do sarcoma de Kaposi em mulheres.

“O teste para detectar a infecção pelo HIV é importante não somente para a mulher, mas para todos. O conhecimento de ser portador da infecção, permite que todas as medidas profiláticas comportamentais e medicamentosas sejam adotadas para evitar a disseminação da infecção”, destaca o ginecologista.

Como enfrentar a discriminação

Em 1º de dezembro, o Dia Mundial de Luta Contra a Aids destaca a campanha ‘Dezembro Vermelho’, que visa conscientizar a população sobre prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV/Aids. Instituída pela Lei nº 13.504/2017, a campanha representa um notável avanço nacional na batalha contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), com foco especial no HIV.

No entanto, segundo Geraldo Duarte, o estigma e o preconceito contra a doença são um dos principais obstáculos para o enfrentamento da Aids no Brasil. Para ele, a discriminação contra as mulheres portadoras do HIV está longe de ser controlada e se manifesta no seio da família, no círculo de amigos e no trabalho.

“No seio da família ele existe em intensidades variadas e depende de cada família. Mesmo sabendo do risco de discriminação orienta-se que a família e a parceria sexual devem saber do diagnóstico. O peso de um segredo desta dimensão considerando esta proximidade relacional é extremamente danoso sob todos os aspectos. No círculo de amigos acontece o mesmo que na família, existem amigos que aceitam e estimulam para o progresso, enquanto outros cortam as relações”.

Médico recomenda desinfecção de acessórios eróticos

Entre as medidas comportamentais, destaca-se o sexo protegido, com ênfase no uso consistente de preservativos masculinos ou femininos durante as relações sexuais. A desinfecção adequada de objetos eróticos partilhados também representa uma medida profilática significativa. No contexto do uso comunitário de drogas endovenosas, a orientação é o não compartilhamento de instrumentos como seringas e agulhas.

Quanto à profilaxia medicamentosa, hoje existe a PrEP (profilaxia pré-exposição), que envolve o uso programado de medicamentos antirretrovirais. Para a PEP (profilaxia pós-exposição), a administração urgente de medicamentos antirretrovirais após uma situação/exposição de risco é essencial.

Outro ponto importante é a possibilidade de tratamento precoce, hoje liberado após o diagnóstico (Estratégia B + da Organização Mundial da Saúde), uma importante medida no combate à infecção pelo HIV.  O especialista da Febrasgo destaca que, de fato, existem tratamentos eficazes com antirretrovirais. Atualmente, o esquema primário de escolha envolve a combinação de lamivudina (inibidor da transcriptase reversa), tenofovir (inibidor da transcriptase reversa) e dolutegravir (inibidor da integrase).

Caso haja intolerância a esse esquema, há outras opções de antirretrovirais igualmente eficazes. Ele enfatiza que todas as recomendações que contribuem para melhor “qualidade de vida”, como um sono reparador, uma alimentação saudável, a redução do estresse e a prática de atividade física, são importantes considerações que devem ocorrer paralelamente ao tratamento antirretroviral.

Estado de SP anuncia eliminação da transmissão do HIV da mãe para o bebê

Taxa estimada caiu para menos de 2% no estado e alcançou as metas estimadas para 2023

No mês em que se comemora o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, a taxa de transmissão vertical do HIV, que é a infecção passada da mãe para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação, caiu para menos de 2% no Estado de São Paulo.

Esse resultado é conquista do Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS e do Programa Estadual de IST/Aids, que recebeu nesta sexta-feira (8) o selo de boas práticas e a certificação internacional para eliminação da transmissão do HIV e Sífilis, além de alcançar a categoria bronze para Sífilis Congênita.

O selo, que premia a superação de metas internacionais, foi concedido pela Comissão Nacional de Validação (CNV) do Ministério da Saúde, após avaliação minuciosa, que começou em novembro, dos processos assistenciais, de vigilância, prevenção, diagnóstico, direitos humanos, igualdade de gênero e engajamento comunitário no Estado.

Para manter a certificação, São Paulo passará por avaliações regulares a cada três anos. O trabalho conjunto dos técnicos do Programa Estadual de IST/Aids, da Secretaria da Saúde, das regionais, dos Grupos de Vigilâncias Epidemiológicas, das equipes de saúde dos 645 municípios e da sociedade civil foi essencial para alcançar esse objetivo em 2023, e o governo do Estado vai garantir a sua continuidade no futuro.

Terapia antirretroviral e tratamento para sífilis congênita

A terapia antirretroviral (Tarv) e outras medidas preventivas adotadas pelo estado reduziram a taxa de transmissão vertical do HIV para menos de 2%. Sem a terapia, a transmissão atinge até 30% dos bebês de gestantes com a doença.  A Sífilis Congênita, de forma semelhante, torna-se totalmente evitável com diagnóstico precoce e tratamento adequado durante o pré-natal, utilizando penicilina benzatina.

A estratégia do Estado e o esforço concentrado em ações de vigilância, prevenção e controle da transmissão vertical de HIV e sífilis, alinhados à assistência adequada durante o pré-natal, contribuem para eliminar esses agravos evitáveis, promovendo a saúde e o bem-estar da população.

“A transmissão vertical de infecções sexualmente transmissíveis representa um grande desafio para a saúde pública, especialmente quando não tratadas oportunamente durante a gestação. O estado tem demonstrado um compromisso incansável em alcançar padrões internacionais e eliminar essas ameaças à saúde,” afirma a coordenadora da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde, Regiane Cardoso de Paula.
O processo de certificação contou com a colaboração de diversos parceiros da Secretaria da Saúde, incluindo o Instituto Adolfo Lutz, Área Técnica da Saúde da Mulher, da Criança, Núcleo Técnico de Humanização, Comitê Estadual de Vigilância à Morte Materna, Infantil e Fetal, Atenção Básica e Sociedade Civil.
Com Assessorias Febrasgo e GovSP (atualizado em 8/12/23)
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